Se petróleo e dólar estão estáveis, por que Petrobras aumentou gasolina?
Resumo da notícia
- Petrobras anunciou o 2º aumento no preço da gasolina em nove dias; no total, a alta foi de 6,1%
- Logo após ataque a petroleira saudita, o petróleo chegou a subir 20%, mas depois a cotação se estabilizou
- Por outro lado, o preço internacional da gasolina continua alto, o que influencia os preços praticados pela Petrobras aqui no Brasil
- O motivo é a queda nos estoques mundiais de gasolina, segundo importadores
Um ataque a uma petroleira saudita em 14 de setembro movimentou o mercado global de petróleo. Porém, nos últimos dias, o preço da matéria-prima ficou relativamente estável, assim como a cotação do dólar em relação ao real, que também afeta o valor do combustível no Brasil.
Mesmo assim, em menos de dez dias, a Petrobras anunciou dois reajustes no preço da gasolina nas refinarias. O primeiro reajuste foi de 3,5%, no dia 19, e o segundo foi de 2,5%, nesta sexta-feira (27), totalizando alta de 6,1%. A Petrobras não comenta os motivos. O que justifica essa alta? Entenda abaixo.
Preço do petróleo se estabilizou; dólar também
O ataque a uma petroleira na Arábia Saudita aconteceu num sábado e fez a cotação do barril disparar quase 20% na segunda-feira seguinte, a maior alta diária em 30 anos. Mas o país, que é o maior exportador da matéria-prima, conseguiu retomar a produção diária, o que fez o preço baixar mais rápido do que o esperado.
O mercado internacional também respondeu ao anúncio de que os EUA usariam reservas de petróleo para compensar a queda de produção no Oriente Médio e controlar os preços da matéria-prima.
Entre o dia anterior ao atentado e ontem (26), a cotação em preços futuros do WTI (barril de petróleo produzido nos EUA) foi de US$ 56,11 para US$ 56,41 —uma alta de 0,5%. O Brent (barril de petróleo produzido na Europa) teve um aumento de 4,2% nos preços futuros, passando de US$ 60,22 para US$ 62,74.
O dólar, que também pode influenciar o valor da gasolina no Brasil porque o petróleo é cotado pela moeda norte americana, ficou praticamente estável entre 13 e 26 de setembro, com leve alta de 0,082%.
Gasolina no mercado global subiu 6,7%
Assim como o petróleo, o preço da gasolina no mercado internacional (RBOB futuros) também teve alta expressiva na segunda-feira depois do atentado: de 11,5%. Porém, a gasolina não acompanhou o movimento do preço do petróleo.
Do dia anterior aos ataques no Oriente Médio até ontem, a gasolina acumula alta de 6,7%. Isso significa, então, que a alta da gasolina no mercado internacional foi maior que a soma dos dois reajustes anunciados pela Petrobras.
Consultora de mercado da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), Milena Mansur diz que a quantidade de gasolina disponível no mercado internacional está menor do que o previsto, o que aumenta os preços no mundo todo. "Se sai uma notícia de que o estoque está alto, é excesso de oferta, e o preço cai. Se a notícia é que o estoque está baixo, é um risco, e o preço sobe", afirma.
Mansur afirma que o petróleo é apenas um dos fatores que compõem o valor da gasolina. "O preço do petróleo cru dita uma tendência para os combustíveis fósseis. Mas, para saber se realmente vai subir ou descer, temos que acompanhar o preço dos derivados, e a política de preço da Petrobras se baseia nisso."
Como funciona a política de preços da Petrobras?
Desde julho de 2017, a Petrobras adota uma política de preços que repassa, ao preço da gasolina e do diesel, nas refinarias, a variação da cotação internacional dos combustíveis. A estatal leva em consideração quanto ela poderia ganhar se exportasse seus produtos. Assim, se o valor sobe no mercado internacional, a Petrobras tende a aumentar os preços internos para preservar os lucros.
A estatal foi muito criticada durante os governos de Lula e Dilma por segurar o reajuste de preços para ajudar a conter a inflação, mesmo que isso representasse lucros menores ou, até mesmo, prejuízo à estatal.
Se o Brasil produz petróleo, por que a alta internacional nos afeta?
O Brasil produz petróleo, mas atua tanto como importador quanto exportador. Isso acontece por diversos motivos, dentre os quais:
- O petróleo predominante no Brasil é do tipo pesado, mais denso e difícil de refinar. Assim, o país acaba exportando petróleo cru e importando derivados
- Por questões logísticas, em alguns pontos do país é mais barato importar petróleo
- A nova política de preços da Petrobras favorece a concorrência
Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), que regulamenta o setor no Brasil, o país exportou 431,6 milhões de barris em 2018 e importou 67,4 milhões —o que representa um balanço comercial positivo de US$ 20 bilhões.
Em relação aos derivados de petróleo, o Brasil teve déficit de US$ 7,9 bilhões no mesmo período: exportou o equivalente a 86,5 milhões de barris e importou 188,2 milhões.
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