Estes brasileiros vão à Itália, EUA e temem fantasma de dólar e coronavírus
Como brasileiros com passagens compradas para o exterior estão reagindo à disparada do dólar e do euro e ao coronavírus?
A situação impacta não só investidores no mundo inteiro como atrapalha os planos de viajantes que, diante do real cada dia mais desvalorizado e da ameaça de saúde, passam a repensar suas viagens.
Diminuir o número de dias? Trocar jantares em restaurantes por lanches na rua? Cancelar passeios? Brasileiros com passagens compradas para o exterior nos próximos meses contaram ao UOL o que pretendem fazer e como se planejaram para sanar as contas, proteger a saúde e ainda curtir a viagem:
"Parcelei tudo em 12 vezes para não ter problema"
Naíma Popp, jornalista, 34, tem viagem marcada para Inglaterra e França
"Minha viagem tem algumas características peculiares. Fico uma semana em Londres e quase outra em Paris, em abril. Só que a minha irmã, que mora na Inglaterra, me deu a passagem e, lá, vou ficar na casa dela e ajudar a cuidar do meu sobrinho de férias. Então, vou ter este auxílio e pretendo comer parte dos dias em casa.
Obviamente, vou comprar algumas libras. Confesso que ainda não sei o quanto, preciso fazer as contas de valor razoável por dia. Em Paris, realmente vou ter que comprar mais euros porque não terei a ajuda dela. Vai ser complicado, o valor do euro hoje está o mesmo da libra no ano passado, quando fui para lá.
Na França, vou ficar cinco dias, dois deles com a minha irmã. Como retribuição, vou pagar o hotel. O plano inicial era ficar mais dois dias porque gosto muito mesmo de lá, mas, na hora de ver hospedagem, percebi que ficaria absurdamente caro e reduzi. Ainda assim foi bem caro, o mais alto que já paguei em uma viagem, mas quis um hotel melhor por estar com ela e ficarmos numa região que vai ser legal.
Parcelei tudo em 12 vezes para não ter problema. Inclusive, por não saber o quanto de moeda vou comprar, o que vou conseguir comprar. Estou tentando parcelar tudo o que puder, inclusive o seguro-viagem.
Eu gosto de comprar coisas quando viajo, de lembranças a presentes que me dou, coisas que não encontro aqui. Desta vez, tudo indica que vou ter que me controlar e repensar este tipo de gasto. Terei que deixar o dinheiro para garantir alguns confortos, como experimentar comida local, principalmente em Paris.
Estimo que vou gastar pouco mais de R$ 10 mil, em uma conta bem enxuta. Em outro momento, eu consideraria 100 euros e 100 libras por dia, mas agora estou considerando a metade. Se eu tivesse que pagar estadia em Londres e as passagens, subiria para uns R$ 20 mil. Nesse caso, eu iria ficar por aqui mesmo."
"Esperamos intervenção divina pra ver se o dólar cai"
André Hilgert, empresário de 28 anos, tem viagem marcada para a França
"Vou com a minha esposa, familiares e amigos íntimos para o casamento do meu irmão no interior da França, entre 17 e 28 de abril. Ficaremos só no país, começando e terminando por Paris, passando pela Normandia, com base no Château de Carsix, onde será o evento. A passagem foi comprada em 14 de novembro, quando o euro estava a R$ 4,60 [na quarata-feira, 11, fechou a R$ 5,43].
Pagamos boa parte dos hotéis, aluguel de veículos, trechos e tal com antecedência, ainda em dezembro. Também já compramos parte do dinheiro para o dia a dia, mas precisamos de mais. No momento, estamos esperando praticamente uma intervenção divina para ver se abaixa um pouquinho. [risos]
Tentamos sempre ser o mais econômicos possível desde o começo, nas hospedagens etc. Pesquisei o carro em sites que comparam ofertas de aluguel e consegui uma condição boa ao retirá-lo em uma estação de trem no centro de Paris, por exemplo.
Por isso não alteramos nada no trajeto até então. O único plano é sermos mais econômicos no dia a dia. Eu, pelo menos, não usarei essa viagem para compras de roupas e outros objetos, como geralmente faço. A alta impacta na liberdade que nós sentimos no cotidiano, mas é algo que só sentiremos lá. Durante o planejamento, não mudou tanto.
Quanto ao coronavírus, a princípio, também não faremos mudança alguma. Só estamos reavaliando a ida ao [Museu do] Louvre, se é que estará aberto.
Ficamos mais preocupados com alguns casos específicos de familiares, como idosos e a própria noiva, que tem problema respiratório, embora o médico tenha explicado que é leve. Mas a maioria de quem vai está levando a doença como uma gripe normal."
"Queremos adiar ida à Itália de abril para outubro"
Geraldo Galvão, advogado de 35 anos, e sua esposa, Kycia Almeida, têm viagem marcada para a Itália
"Eu e minha esposa, Kycia Almeida, compramos as passagens em novembro, para irmos no final de abril. O trecho de ida em dinheiro e a volta com milhagem. Pretendíamos ir à Itália, chegando a Roma, com bate-e-volta para Pompeia e indo a Florença com bate-e-volta para Modena e Pisa, Veneza e Milão. De Milão, o plano é voltar para casa.
Os hotéis também foram pagos com antecedência, em janeiro, portanto não sentimos muito o impacto da desvalorização do real e não mudamos os planos ou itinerário.
Também já tínhamos alguns euros. O restante, compramos parceladamente, mês a mês. Agora, já temos tudo do que vamos precisar.
Nossa preocupação virou o coronavírus. Primeiro, algumas atrações foram fechadas no período da viagem. Depois, já tínhamos pensado em cortar Milão, por conta da quarentena.
Logo entrou Veneza e, agora, toda a Itália está na zona de quarentena, já era. Vamos tentar adiar a viagem para outubro. Como é considerado um caso fortuito ou de força maior, eles vão ter que mudar o voo."
"Espero que surja uma vacina até o dia da viagem"
Roberto Machado, empresário de 28 anos, tem viagem marcada para os Estados Unidos
"Eu e minha namorada pensamos nessa viagem há muito tempo, mas houve questões pessoais e profissionais que só permitiram ir entre o final de abril e o começo de junho. Começamos a olhar passagem em setembro, sempre na faixa dos R$ 2.500. Esperamos por promoção, mas não chego. Então compramos em janeiro por este preço.
Do dia 1º a 23 de maio, passaremos por Los Angeles, seguimos de carro até São Francisco, pegamos um avião para San Diego e voltarmos de carro até Los Angeles, de onde retornamos. Ainda não compramos nada de dólar porque eu já estava achando a cotação cara antes [das sucessivas altas] e tinha alguma expectativa que ele baixasse. Resolvi segurar e aí, pelo contrário, só aumenta a cada dia.
Agora, vamos esperar porque estamos no pior momento. O coronavírus traz muita incerteza, mas espero que surjam notícias melhores sobre isso, como uma vacina, até lá, e a crise do petróleo acabou de estourar, então essa semana deverá sofrer o pico de maior impacto. Até maio, é improvável que piore, com possibilidade maior de melhora. Vamos nos segurar nessa esperança. [risos]
Pelo menos, quando compramos a passagem, já nos adiantamos: alugamos os hotéis, os carros e alguns passeios, tudo à vista. Isso dá metade dos gastos, pagos em um dólar a R$ 4,36, uma cotação que certamente não pegamos mais. O resto vou segurar até a semana anterior [se não melhorar]. Em algum ponto, haverá coisas para pagar com o cartão de crédito e aí é a cotação que estiver na hora, não tem o que fazer.
No fim, não mudamos nada por causa da alta. Principalmente porque o que era para reservar já reservamos. As coisas mais caras, como um play off da NBA [final da liga de basquete profissional], vamos pagar o preço que estiver, né?
Eu fiz os cálculos, é uma viagem que vamos gastar uns R$ 25 mil ao todo. O impacto do dólar está na casa dos R$ 3.000, pelas minhas contas. Assim, não é isso que vai fazer mudar muita coisa, não adianta chorar. Já que vamos fazer, vamos fazer direito. É uma viagem que queremos há muito tempo, vamos manter passeios bacanas e coisas que queremos."
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