Em carta ao BC, varejo diz que bancos subiram em até 70% juros ao setor
Representantes de shoppings, de redes varejistas, de associações comerciais e do setor de franquias afirmaram, em carta enviada ao BC (Banco Central), que os bancos subiram as taxas de juros de empréstimos entre 50% e 70%.
Segundo as entidades, a medida afeta principalmente os financiamentos para manter os negócios (capital de giro) e para a antecipação de recebíveis. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que as taxas ficaram estáveis em geral, mas operações novas e com grandes empresas podem ter apresentado variações por aumento de custos e riscos. A entidade diz que os bancos têm total consciência do seu papel social (veja mais abaixo a resposta completa da federação).
A linha de antecipação de recebível ocorre porque o dinheiro recebido via pagamento com cartões demora para chegar às lojas. Elas então antecipam os valores de vendas de cartão nas credenciadoras ou nos bancos, porque precisam de dinheiro à vista (capital de giro) para honrar os compromissos e não podem esperar o prazo das parcelas.
"Solicitamos atenção a despeito das medidas de injetar liquidez no sistema financeiro nacional, pois observa-se o aumento expressivo das taxas, com médias superiores a 50% e, em alguns casos superiores a 70%, em operações habituais do varejo, tais como de capital de giro, conta garantida, antecipação de recebíveis, risco sacado, empréstimos 4131, entre outras operações. Entendemos que, num momento de crise, as medidas adotas pelo Bacen [Banco Central] devam caminhar juntas com as instituições financeiras", disse a carta assinada pelas entidades.
Problemas afetam empresas
Empresários ouvidos pelo UOL declararam que os bancos aumentaram as taxas para empréstimos usados para manter os negócios, pagar funcionários e comprar novos equipamentos.
Até empresas de infraestrutura de internet, que precisam ampliar os serviços para atender a nova demanda de home office, não conseguem dinheiro. O crédito para investimentos, segundo relatos, teve alta de dois pontos percentuais. Em outras operações, os juros mais do que dobraram. Para antecipação de recebíveis, em alguns casos, a taxa mais que dobrou.
O próprio Banco Central também detectou aumento de juros e menor prazo de financiamento por parte dos bancos.
Famílias reclamam de falta de informações
Clientes que são pessoa física relataram ao UOL problemas para adiar o pagamento de empréstimos, possibilidade divulgada amplamente pelos bancos. Os canais de atendimento não funcionam, falta informação entre gerentes e a prorrogação é, na verdade, um novo financiamento ou novo contrato, com aumento dos juros.
Segundo os bancos, a possibilidade de adiar os pagamentos de empréstimos tomados pelos clientes está disponível, mas é válida apenas para quem está com a conta em dia. Além disso, afirmam os bancos, para inserir esse tipo de medida extraordinária dentro do sistema operacional da instituição financeira é necessário classificar a operação como uma repactuação ou refinanciamento.
Febraban diz que juros ficaram estáveis no geral
A Febraban, que representa os bancos, enviou nota após a publicação desta reportagem, afirmando que os juros ficaram estáveis em geral, mas operações de mais risco podem ter aumentos. A entidade também diz que os bancos estão conscientes do momento excepcional e destaca o papel social dos bancos. Veja a íntegra da nota:
"As taxas de juros ficaram estáveis no decorrer das últimas semanas, desde o momento que a crise atingiu o Brasil mais severamente, de acordo com as informações levantadas pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
De forma geral, as taxas médias nas operações de varejo, tanto de PF como de PJ, não registraram oscilações neste período, tanto no caso das prorrogações, como para o varejo (PF e PJ), que concentram a imensa maioria dos clientes.
Nas operações com grandes empresas e nas operações novas, às vezes o cenário é um pouco distinto, sobretudo com linhas mais longas. Isso ocorre porque o custo de captação aumentou substancialmente, mas, neste caso, as operações de crédito envolvem grandes empresas, que demandam volumes significativos de recursos, com impactos relevantes sobre a liquidez do setor bancário.
Além disso, os bancos internacionais cortaram as linhas de que dispúnhamos, o que estreitou mais ainda a liquidez do sistema.
Não vamos discutir caso a caso a atuação de cada banco, porque o papel da Febraban é olhar para todo o setor. Institucionalmente, o que podemos dizer é que os bancos estão absolutamente conscientes do momento excepcional por que passamos e estão prontos e sensibilizados para apoiar a sociedade e nossos clientes.
As instituições financeiras trabalham com análise de risco de toda economia, brasileira e mundial, e houve mudanças significativas nas últimas semanas. As Bolsas caíram fortemente de suas máximas históricas, o mercado fez uma reavaliação geral nos preços dos ativos, o dólar foi para outro patamar e a expectativa de crescimento do PIB brasileiro e mundial desabou.
Nesse contexto, houve uma revisão geral do risco, aqui e lá fora. O mundo ficou mais arriscado. As medidas recentes do governo, via Banco Central e Ministério da Economia, são, sem dúvida, muito bem-vindas e buscam justamente endereçar algumas dessas questões, como liquidez. Mas, mesmo com essas importantes medidas, a circulação de dinheiro ficou mais restrita.
Os bancos estão solidários e têm se posicionado claramente como parceiros dos clientes e da sociedade nesta crise, como foi feito com a medida que permite ao cliente prorrogar as dívidas por até 60 dias e também com faremos com o financiamento da folha de pagamento das pequenas e médias empresas. As instituições estão abertas para conversar com os clientes.
Manifestações públicas de entidades que representam os demais importantes setores da economia são legítimas e procuram endereçar problemas que as empresas sentem em seu dia a dia.
A Febraban e os bancos compreendem a pressão pública sobre o governo e outros setores da economia, mas todos temos de ser construtivos.
Além disso, na semana passada, os bancos anunciaram a doação de 5 milhões de kits de testagem que serão importados e devem chegar ao Brasil na segunda quinzena de abril. Diversas instituições estão anunciando colaborações individuais.
O setor tem total consciência do seu papel social, que não se restringe às doações. O foco é o apoio aos clientes, ou melhor aos brasileiros, empresas e pessoas físicas, nesta dura travessia."
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