Fintechs querem ajudar governo a repassar auxílio emergencial de R$ 600
A Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), em parceria com o Ibmec-Rio, a Mastercard e a Worth a Million, divulgou hoje uma carta em apoio ao projeto que propõe usar as fintechs como canal de repasse do auxílio emergencial de R$600 pago a informais, autônomos e desempregados. A proposta já foi aprovada no Senado e agora aguarda aval da Câmara.
"Acreditamos que esse é um caminho para uma distribuição rápida, que possibilita o acesso da população sem conta em banco ao auxílio. Por isso, hoje estamos lançando uma carta de apoio ao projeto", explicou Ingrid Barth, diretora executiva da ABFintechs e cofundadora do banco digital Linker.
Na carta, a ABFintechs argumenta que, segundo a Caixa Econômica Federal, cerca de 85% do público que tem direito ao benefício não tem conta em banco, o que torna a distribuição do benefício "cada vez mais complicada". Além disso, existe uma parcela da população que já acessou e não acessa mais o sistema bancário tradicional por conta de restrições no CPF.
"A agilidade na distribuição desse auxílio é fundamental para controlar a pandemia. Sem renda, as pessoas ficarão sem alternativa a não ser voltar às ruas, aumentando o contágio", escreve a ABFintechs. "Defendemos a ampla utilização das fintechs como canal de acesso ao auxílio, e iremos articular para que essa parceria aconteça com sucesso", completa.
Confira a carta na íntegra:
As Fintechs como forma de repasse de renda básica
Inovação tem sido usada como grande aliada para diversas crises, dessa vez não vai ser diferente.
Essa carta aberta é um convite ao governo para trabalhar junto com as fintechs —startups de serviços financeiros, carteiras digitais, facilitadores e plataformas tecnológicas— construindo um caminho para a distribuição rápida e capilarizada do repasse de renda básica, devido principalmente à imersão no mundo digital e facilidade de acesso via aplicativos e plataformas tecnológicas que esses atores oferecem.
A covid-19 desencadeou uma situação sem precedentes na economia e na saúde, que pode ser usada como uma oportunidade para inovarmos e juntos nos tornamos cada dia melhores.
Como as fintechs podem fazer a diferença agora
O repasse da renda básica emergencial, o chamado "coronavoucher" oferece um auxílio mensal de R$600,00 ou de R$ 1200,00 aos trabalhadores informais, intermitentes e MEls. A expectativa é que esse repasse atinja 54 milhões de pessoas e o volume financeiro total chegue a R$ 44 bilhões por três meses.
O grande desafio que se apresenta aí é a distribuição deste auxílio de maneira rápida, ampla e segura.
Por que é um problema?
O Banco Mundial estima que, embora a população sem acesso a serviços bancários represente menos de 1/3 dos adultos, 58% dos desbancarizados estão entre os 40% mais pobres - que é exatamente o público mais atingido.
Indo mais a fundo, de acordo com a Caixa econômica Federal, cerca de 85% do público potencial do benefício não tem conta em banco. Tornando a distribuição cada vez mais complicada.
Além disso, existe uma parcela relevante da população brasileira que já acessou e não acessa mais o sistema bancário tradicional, dado a restrições creditícias registradas em seu CPF. No entanto, este mesmo perfil de cidadão ainda consegue operar pagamentos e receber proveitos de seu trabalho informal por meio de contas digitais e de pagamentos, muitas vezes atreladas a maquininhas de cartão de crédito e débito, cujas operadoras usualmente não bloqueiam acesso a tal serviço aos "negativados".
As Fintechs como solução
O pagamento via fintechs e maquininhas de cartão já foi aprovado no Senado (01/04), mas ainda esperamos a aprovação da ampla utilização das fintechs como canal para distribuição da renda na Câmara.
Hoje, as ferramentas de meio de pagamento representam 25% do total de fintechs no País. Além disso, empresas focadas em créditos, financiamento e renegociação dívida representam 21% das fintechs no país e ambas modalidades podem ser usadas como ferramenta de distribuição para que esse auxílio chegue a quem precisa.
As fintechs tendem a explorar nichos sub atendidos. Por isso, essas apresentam um potencial imenso de atingir diversas comunidades. Como 60% da população desbancarizada do país tem acesso a celular e internet, o acesso das fintechs fica muito mais simples já que essa é a principal porta de entrada delas.
Recentemente, foram anunciadas as regras e alguns detalhes sobre a distribuição dos recursos emergenciais destinados aos trabalhadores informais. Dentre outras medidas, cada beneficiário receberá o recurso em uma conta poupança a ser aberta em seu nome, o que, de certa forma, facilita o alcance, mas não reduz a possibilidade de aglomerações, - que devem ser evitadas neste momento -, já que essas pessoas certamente buscarão uma agência da Caixa Econômica Federal ou uma Lotérica para sacar o recurso.
Ao permitir que o beneficiário transfira o recurso disponível nesta conta poupança recentemente aberta para uma conta digital ou uma conta de pagamento que ele já opere em sua atividade informal, aglomerações serão evitadas e o acesso ao recurso será mais eficiente para o beneficiário final.
A agilidade na distribuição desse auxílio é fundamental para controlar a pandemia. Sem renda, as pessoas ficarão sem alternativa a não ser voltar às ruas, aumentando o contágio.
Defendemos a ampla utilização das fintechs, tanto as que já possuem licença específica, quanto as que operam por meio de parcerias, como canal de acesso ao auxílio que pode fazer a diferença na vida de milhões de brasileiros, e iremos articular para que essa parceria aconteça com sucesso.
O objetivo é garantir a transparência, agilidade e eficácia na entrega dessa renda para quem precisa por meio das fintechs.
Para isso acontecer, basta que o governo abra as portas para trabalhar lado a lado com o ecossistema de inovação e aprove o projeto de lei na câmara dos deputados. Agora mais que nunca é hora de irmos juntos.
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