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UOL Debate: Fintechs entregariam dinheiro às pessoas em dias, não semanas

Do UOL, em São Paulo

27/04/2020 14h02Atualizada em 27/04/2020 18h55

Resumo da notícia

  • Fintechs agilizariam chegada de auxílio emergencial a pessoas e microempresas na crise do coronavírus
  • Ações das fintechs na crise atendem micros e pequenos empresários não assistidos
  • Setor ampliou serviços e produtos para ajudar empreendedores a atravessar crise

O governo deveria usar as fintechs - empresas de tecnologia do mercado financeiro - para distribuir rapidamente e sem filas o auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia do novo coronavírus. A proposta foi apresentada por especialistas e participantes do mercado durante o UOL Debate desta segunda-feira (27).

Ricardo Dutra, CEO do PagSeguro, disse que a empresa poderia realizar o pagamento das parcelas do auxílio emergencial em pouco tempo. "O PagSeguro tem condições de fazer esse dinheiro chegar em dias. Não semanas; em dias", afirmou. "Não estou dizendo que o que o governo fez não serve. Mas o que a gente atende é essa faixa de microempreendedor individual."

Mais agilidade para atender ao cidadão

O programa ao vivo discutiu a atuação de fintechs frente à pandemia. Além de Ricardo Dutra, participaram Eduardo Neger, presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet); Tulio Oliveira, vice-presidente do Mercado Pago; Fabiano Camperlingo, CEO da SumUp no Brasil; e Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

O UOL Debate reúne especialistas e nomes conhecidos do público para abordar o impacto da desaceleração da economia sobre as pessoas e as empresas, a reação dos governos aos enormes desafios impostos pelo coronavírus, os efeitos de uma sociedade em quarentena para a saúde mental e a educação das crianças, como esportistas e artistas estão lidando com a crise e as perspectivas para seus campos de atuação, entre muitos outros temas.

Eduardo Neger, defendeu a atuação de startups do setor financeiro no pagamento do auxílio emergencial porque, segundo ele, a descentralização do serviço poderia ajudar na relação entre governo e cidadão.

Aumento de 40% na demanda em uma semana

"De uma semana para outra, quando começou a crise do coronavírus, o tráfego na internet aumentou em torno de 40%. E às vezes a gente não para para pensar que outro tipo de serviço que tem aumento repentino de 40% consegue suprir essa demanda", afirmou Neger. "Nesse aspecto, as fintechs podem ser grandes instrumentos de levar esse tipo de financiamento, receita, porque existe a capilaridade e custos muito baixos", disse.

O presidente da Abranet destacou ainda setores nos quais a internet tem exercido papel importante durante a pandemia, como ensino à distância e comércio eletrônico, além de empresas de pagamento. "A internet é resiliente, as empresas conseguiram trabalhar mesmo com esse grande pico."

Resposta rápida

Tulio Oliveira, do Mercado Pago diz que as empresas do setor "conhecem bem esse público, têm presença em todas as cidades do país. A gente acompanha a produção diária", disse.

Ainda de acordo com o representante do Mercado Pago, a população precisa de uma resposta rápida nesse momento de impacto financeiro. "O governo tem que atuar com muita força, o estado tem que amparar essa população. A gente pode atuar como um canal do governo para fazer isso muito rápido."

Contatos com a Caixa

Tanto Tulio Oliveira (Mercado Pago) quanto Ricardo Dutra (PagSeguro) e Fabiano Camperlingo (SumUp Brasil) explicaram que já há interlocuções com a Caixa Econômica Federal, o que facilitaria o pagamento dos auxílios.

"Nós não tivemos ainda nenhuma definição em relação a essa contratação com a Caixa. Estamos sempre em contato, mas ainda nada definido", disse Dutra. Poderíamos ser entes mais eficientes — governo falando conosco e avaliando como é que a gente pode fazer com que esse dinheiro chegue aos CPFs."

Camperlingo diz que a SumUp "já está preparada para fazer pagamentos a milhões de clientes". Segundo ele, "três ou quatro semanas antes de o governo decidir seguir com a Caixa" para o pagamento do auxílio, as empresas divulgaram cartas dizendo-se "à disposição do governo" para ajudar.

Milhares esperando na fila

A concentração do governo federal na Caixa para o pagamento do auxílio é, para Eduardo Neger, uma questão negativa. Segundo o presidente da Abranet, abrir o leque seria positivo para o cidadão que está na outra ponta. "Enquanto estamos debatendo aqui, existem milhares de pessoas que estão na fila (da Caixa)", analisou. "Estamos desperdiçando uma grande infraestrutura."

A possibilidade de contar com as fintechs no pagamento está nos planos do Governo. A medida já foi, inclusive, aprovada no Congresso.

Neger ainda acredita que a pandemia possa potencializar a entrada de pessoas no sistema bancário e até no comércio eletrônico, especialmente se "evitar deslocamento desnecessário e o fato de incentivar as transações".

"A gente consegue primeiro bancarizar um segmento grande. Acho que é um legado que pode ficar", disse, citando pesquisa que aponta 127 milhões de pessoas com acesso à internet no Brasil. "Nós estamos falando em torno de 97% da população com cobertura da rede de dados. Temos uma infraestrutura muito boa para atender essa população", afirmou.

Ajudar empresário a vender mais

Para Ricardo Dutra, do PagSeguro, o momento exige uma preocupação maior com pequenas empresas e com a participação delas na atividade econômica.

"Nesse momento, a gente precisa pensar diferente, e, aí sim, a gente vai pensar em eficiência", analisou. "O momento agora é fazer o pequeno vender mais", acrescentou, destacando ainda a importância do pagamento do auxílio emergencial.

Ainda segundo Dutra, com os reflexos da covid-19, o momento não é de priorizar o crescimento econômico, mas de viabilizar uma situação que possibilite o crescimento sólido mais adiante.

"Não dá para desvincular questão política da econômica. Até certo ponto, a economia anda sozinha, mas não dá para dizer que uma coisa não impacte a outra", avaliou. "Deixaria questão de crescimento, PIB, política para um segundo momento."

Questão de adaptação

Para Oliveira, embora a situação seja conturbada, as empresas do mercado brasileiro já conviveram com outras crises. Por isso, precisam saber como se conduzir neste cenário. "Crise política tem a cada poucos anos. É uma constante nossa. A gente tem que saber conviver nesse cenário de fazer negócios. Empresas se adaptam rápido, a gente está muito focado em como é que a gente ajuda nosso cliente", disse o representante do Mercado Pago.

Por isso, as fintechs concordam que é o caso de buscar a compreensão do momento para oferecer respostas a consumidores e empreendedores. "Já existiam shows ao vivo há décadas, e agora surgiram as lives. O que é live? Show ao vivo! Só um exemplo de como as coisas estão mudando", comparou Ricardo Dutra. "Sem dúvidas, essa crise vai passar — tem início, meio e fim. Mas é sem precedentes. Crise mundial e sem precedentes. O mundo inteiro está passando por isso, a economia de todo mundo está sofrendo", destacou.

O ponto de vista é parecido com o de Tulio Oliveira, que pede cautela. "A gente entende o contexto político, mas é o momento de (...) pensar no cliente: como a gente ajuda, como é que a gente como organização faz o bem para a sociedade e entrega os valores", analisou. "Nosso público é sensível ao que é feito no mundo político. A gente tem que estar pronto para ajudar", disse.

Ações das fintechs na crise

Para Dutra, do PagSeguro, o impacto econômico da pandemia foi particularmente sentido por micro e pequenas empresas. E as fintechs também perceberam esta situação.

"O PagSeguro foi criado para atender a esse pequeno: pequeno empreendedor, pequeno lojista, autônomo, que até então era esquecido pelo mercado brasileiro", disse Dutra. "A gente só conseguiu atender esse pequeno devido à tecnologia, e nada complexo. Tecnologia simples, de maneira segura."

Frente aos casos da covid-19, segundo Dutra, o PagSeguro tem procurado oferecer auxílios e soluções - não apenas para comerciantes, mas também para clientes. As facilidades incluem novas modalidades para pagamentos por QR Code e novas políticas de TED.

"Do ponto de vista de sociedade como um todo fizemos algumas doações", acrescentou, citando as doações de 45 mil cestas básicas, 55 mil quentinhas, 6.700 ovos de Páscoa e 1.500 máscaras, além da organização da live de Michel Teló. "Por último, mas não menos importante, mudamos nossa política de TED para o PagBank. São TEDs ilimitadas e gratuitas. Isso não é promoção. Tudo o que nosso cliente fizer no app agora, é gratuito."

Camperlingo, da SumUp, destacou que os micro e pequenos empreendedores nem sempre têm pontos físicos de vendas, por exemplo. "Em sua maioria, são informais, vendedor que tem barraquinha que vende churros na escola, a manicure, motorista de aplicativo. Esse é o cliente da SumUp", disse. "Muitos não têm ponto físico de venda de produtos e serviços", afirmou.

Segundo ele, a empresa teve "duas grandes preocupações" no momento: com clientes e com funcionários, inclusive a comunidade indireta, citando os quase 900 funcionários diretos e 5.000 indiretos da empresa. "A gente só vai atravessar essa crise com todo mundo no barco", afirmou.

Desde março, afirma ele, a operação da fintech é 100% remota. Já com os empreendedores, as pesquisas da SumUp apontaram que a principal preocupação é com dinheiro em conta. Camperling ainda relatou um aumento nas vendas online durante o período da quarentena. "A gente viu que nossas ferramentas de pagamento online quintuplicaram", contou.

Por sua vez, Tulio Oliveira, do Mercado Pago, destacou também o foco em pequenos comerciantes. Mas não apenas neles. "A gente tem desde o pequenininho, nosso cliente da maquininha, o empreendedor, brasileiro que está ali lutando no dia a dia para vender e gerar renda, fonte de renda para sua família, até grandes empresas que vendem com nossas ferramentas", explicou ele, que anunciou "uma série de ações" que o Grupo MercadoLivre tem feito "para amenizar a situação de crise no país".

Para quem comercializa, por exemplo, Oliveira anunciou que vendedores de produtos considerados essenciais estão isentos de tarifas. Além disso, há campanhas de doações e arrecadações de fundos, e ainda uma linha de capital de giro de R$ 600 milhões.

Empresário mais preparado após crise

Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meireles, a pandemia do coronavírus pode transformar o processo de consumo do Brasil. "Não tenho dúvida nenhuma que o consumidor e o microempresário saem da covid-19 muito mais digitalizado, mais preparado", afirmou Meireles.

O presidente do Instituto Locomotiva ainda destacou que o Brasil está vivendo um "enorme processo da bancarização" que não estava previsto para acontecer tão cedo.

Ele destacou que isso acontece "porque parte do auxílio emergencial esteja dando por formas eletrônicas ou porque parte do dinheiro que está sendo distribuído pelas ONGs se dá pelo meio eletrônico".

Por outro lado, os "empreendedores que relutam em usar meios eletrônicos de pagamento" também estão sendo forçados a adaptar suas formas de negócio para conseguir renda.

Ainda assim, Meireles avalia que "o governo não entendeu absolutamente nada do que estamos falando. [Os governos] estão acordando pra isso, alguns estados distribuindo merenda escolar via vales, por meio eletrônico", disse. "Nós temos aumento da frequência de uso dos meios digitais e isso muda completamente a regra do jogo", afirmou.

Por fim, Tulio Oliveira, vice-presidente o Mercado Pago, percebeu que o "fato de as pessoas estarem em casa acelerou a migração para o mundo digital". De acordo com ele, até mesmo a venda de produtos para casa ou itens para bebês aumentou no site do Mercado Livre durante a pandemia.

Pagamento instantâneo do BC

Os especialistas que participaram debate comentaram a criação do PIX, o sistema de pagamentos instantâneos que o Banco Central anunciou. Ricardo Dutra, CEO do PagSeguro disse que a iniciativa é bem-vinda, mas criticou o momento em que ela se materializa. "Sinceramente, no meio dessa pandemia eu acho que não deveria ser prioridade", afirmou.

Segundo Dutra, "o foco agora está em trazer soluções sobre como fazer nosso cliente vender mais" em meio ao coronavírus.
Para o presidente da Abranet, Eduardo Neger, esse modelo de pagamentos já é uma realidade para as fintechs, mas a intenção do governo é "padronizar" dentro de outras instituições financeiras. "Pagamentos instantâneos têm que ser implementados", afirmou Neger.

Já para Fabiano Camperlingo, CEO da SumUP, o processo de digitalização das transações pode trazer mais segurança. "Não vai exigir nenhum esforço adicional, desenvolvido fora do que a gente já tem", disse.