Bolsonaro diz que vai vetar auxílio extra de R$ 600 se Câmara aprovar
Ao falar sobre gastos com auxílio emergencial, que podem atingir até R$ 150 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que irá vetar eventual lei que preveja o pagamento de parcelas extras do benefício de R$ 600. Bolsonaro pediu ainda cautela com os gastos para que os juros não aumentem e o Brasil não vire o "paraíso da agiotagem".
"A terceira (e em princípio, a última) parcela do socorro emergencial de R$ 600 atinge, aproximadamente, 50 milhões de pessoas, e a conta é maior que R$ 30 bilhões. Mas deve chegar, nos três meses, a R$ 150 bilhões", disse Bolsonaro, durante transmissão de live, nas redes sociais.
"Não se pode gastar mais, gostaria de gastar, mas se se endividar muito, a gente extrapola a capacidade de endividamento. Se não tivermos cuidado, a Selic [taxa básica de juros] pode subir, vira o paraíso da agiotagem legalizada e cada vez mais a riqueza vai para pagar juros da dívida. A gente tem que ter responsabilidade. Se a Câmara passar para R$ 400, R$ 500 ou voltar para R$ 600, qual vai ser a minha atitude para que o Brasil não quebre? Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dívida cada vez mais impagável... é o veto", disse.
Lançado em abril para assegurar uma renda para trabalhadores informais e famílias de baixa renda em meio à pandemia, o auxílio emergencial do governo federal soma cerca de R$ 123 bilhões em recursos orçamentários. O benefício seria pago, inicialmente, em três parcelas.
A ajuda da União em meio à pandemia, no entanto, deve ser estendida por mais dois meses, além dos três iniciais. A dúvida hoje é quanto ao valor do auxílio. O governo prefere que cada nova parcela seja reduzida para R$ 300, enquanto o Congresso tende a defender a manutenção de R$ 600.
Bolsonaro defendeu o corte de salários de senadores e deputados federais para a continuidade do auxílio à população de baixa renda. "Se tirar dos salários dos parlamentares, tudo bem, por mim eu pago até R$ 1.000", declarou Bolsonaro.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, concordou ser preciso buscar recursos para que não se aumente a dívida pública, mas ressaltou que, perante os R$ 100 bilhões que diz serem necessários para bancar a extensão do auxílio, cortes no Parlamento geram efeitos muito pequenos.
O UOL mostrou que o gasto mensal com os salários de deputados e senadores é de pouco mais de R$ 20 milhões. Com esses recursos, seria possível pagar apenas 0,05% dos R$ 38,6 bilhões que o governo desembolsou na primeira das três parcelas do auxílio emergencial.
Bolsonaro minimiza fala de Trump
Durante a live, Bolsonaro também minimizou a afirmação do presidente dos EUA, Donald Trump, que havia dito na semana passada que se o país tivesse seguido estratégia do Brasil no combate ao coronavírus teriam perdido até dois milhões de vidas.
"Se o Trump falou isso mesmo, realmente a política é dos governadores e prefeitos, a responsabilidade é deles. A nossa foi recurso. A gente deve chegar ao total do gasto disso tudo. Não é apenas a saúde, é rolagem de dívidas, socorro a estados e municípios", afirmou o mandatário brasileiro.
Os Estados Unidos são o país com o maior número de casos do novo coronavírus no mundo, com 1,9 milhão de infecções e mais de 112,9 mil mortos.
Já o Brasil é o segundo do mundo em número de casos, com 805.649 pessoas infecções confirmadas e 41.058 mortes, de acordo com números coletados pelo consórcio de imprensa.
Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de covid-19, os veículos de comunicação UOL, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra formaram um consórcio para trabalhar de forma colaborativa a partir desta semana e buscar as informações necessárias diretamente nas secretarias estaduais de Saúde das 27 unidades da Federação.
O governo federal, por meio do Ministério da Saúde, deveria ser a fonte natural desses números, mas atitudes recentes de autoridades e do próprio presidente colocam em dúvida a disponibilidade dos dados e sua precisão.
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