Guedes diz que Brasil priorizou salvar vidas e valoriza atuação de estados
Durante cúpula com representantes da América Latina sobre estratégias para enfrentar a pandemia no cenário de informalidade, o ministro Paulo Guedes, da Economia, afirmou que a atuação do governo brasileiro priorizou salvar vidas e destacou a ação descentralizada. A reunião virtual feita pela OCDE aconteceu hoje.
Após meses de uma acirrada disputa de discursos entre os governadores que defendiam a quarentena e o governo de Jair Bolsonaro, que afirmava que o confinamento levaria uma crise econômica, Guedes afirmou em sua apresentação que a primeira frente de preocupação do governo brasileiro foi a de salvar vidas e enalteceu a atuação de prefeituras e estados e as transferências de recursos para governos locais.
Em sua fala no painel de abertura da reunião regional, Guedes chamou os estados que mantiveram quarentenas de "estados mais cuidadosos", onde a "doença não avançou tão rapidamente".
No entanto, o ministro mencionou a demora para superar a crise como resultado do tamanho do país e do sistema federativo. "No Brasil, é impossível dizer quanto tempo vai durar [a pandemia] porque é um país muito grande e o processo de decisão descentralizada", afirmou.
O Brasil é o país mais afetado pela pandemia da América Latina e segundo no mundo, com 72.100 mortes e mais de 1,8 milhão de contaminados, entre eles o presidente.
Discurso dissonante
Participando do painel de abertura da reunião ao lado dos representantes da República Dominicana, Costa Rica, Colômbia, Peru e da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), a fala do ministro da Economia destoou do discurso geral.
Os países vizinhos salientaram a preocupação com o aumento da regionalização da economia e a necessidade de aumento de recursos (e de impostos diretos) para que os governos possam manter e ampliar direitos sociais para os grupos mais vulneráveis.
O secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, chegou a defender reformas tributárias que ampliem impostos sobre renda de pessoas físicas.
Já Guedes falou sobre o auxílio emergencial e o plano de ampliar a base de assistência social, com o Renda Brasil, mas defendeu a redução de impostos, defendeu o avanços do que chamou de reformas "estruturantes" e indicou a aposta brasileira na ampliação de sua atuação global.
Defesa da Amazônia, de olho na Europa
De olho no acordo de comércio livre entre o Mercosul e a União Europeia, que está sob risco devido ao aumento do desmatamento no país, Guedes dedicou quase dez minutos, de uma apresentação de 25, a falar sobre a Amazônia, a preservação do meio ambiente e as populações indígenas.
"Sabemos que preservamos melhor nossas florestas e que tratamos nossos povos indígenas melhor que outros países, onde houve guerras de extermínio", disse.
"O Brasil é um país que alimenta o mundo preservando o seu meio ambiente. Se há excessos e há erros, corrigiremos. Não aceitaremos o desmatamento ilegal e a exploração ilegal de recursos", continuou. "Estamos abertos à cooperação."
O ministro afirmou que o país não tem capacidade para fazer o monitoramento da Amazônia e de seu território continental sozinho e disse que o Brasil precisa de ajuda.
O país teve recorde de alertas de desmatamento no mês de junho. O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), usado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontou uma área de 1.034 km² sob risco. O valor é 10% maior do que o registrado no mesmo mês do ano passado e 24% maior do que em maio, que já havia sido um recorde para o período.
A cúpula regional continua nesta semana com reuniões entre governos para discutir soluções para enfrentar a crise sanitária e a social em um cenário de grandes taxas de informalidade. Na América Latina e Caribe, 58% das pessoas ocupadas são trabalhadores informais. No Brasil, os informais são cerca de 38 milhões.
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, participará na quarta-feira (15) de uma sessão fechada com outros governos em que deve apresentar os resultados da concessão do auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia.
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