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Bolsa perde 2,43% e cai ao menor nível em 2 meses; dólar sobe a R$ 5,32

Do UOL, em São Paulo

10/09/2020 17h11

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, fechou em queda de 2,43%, a 98.834,59 pontos. É o menor nível desde 13 de julho (98.697,06 pontos). Ontem (9) o índice fechou com valorização de 1,24%, a 101.292,047 pontos.

O dólar comercial terminou a sessão em alta de 0,38%, cotado a R$ 5,32 na venda. Na véspera, a moeda norte-americana tinha caído 1,23%, negociado por R$ 5,30.

O valor do dólar divulgado diariamente pela imprensa, inclusive o UOL, refere-se ao dólar comercial. Para quem vai viajar e precisa comprar moeda em corretoras de câmbio, o valor é bem mais alto.

Petrobras entre maiores quedas

As ações da Petrobras caíram 3,78%, e estiveram entre as maiores pressões para a queda da Bolsa brasileira. Os papéis da empresa, que tem forte peso no índice, foram afetados pela queda nos preços do petróleo no mercado internacional. O Brent fechou em baixa de 1,79%.

A companhia também anunciou redução dos preços médios do diesel em suas refinarias em 7% a partir de sexta-feira, e de 5% para a gasolina.

Incertezas no exterior

De acordo com analistas, os mercados estão, de uma forma geral, entrando num período de maior incerteza, de olho na eleição presidencial dos EUA e na falta de acordo para um novo pacote de estímulo no país, num cenário de correção de excessos no setor de tecnologia e de dúvidas sobre os impactos da pandemia de coronavírus ainda em curso.

A queda do Ibovespa nesta quinta foi alinhada ao recuo em Nova York. As bolsas de Wall Street abriram em alta, mas mudaram de sinal com ações de tecnologia perdendo o fôlego mostrado na quarta-feira, enquanto dados de auxílio-desemprego nos EUA sublinharam as dificuldades da recuperação da economia do país.

Em comentário a clientes, o Goldman Sachs observou que a confiança na recuperação do crescimento global depende de pelo menos duas coisas: vacina e estímulos econômicos.

"Até o momento, os mercados e as economias receberam muitos estímulos, mas nenhuma vacina —embora o progresso em direção à aprovação de uma vacina pela FDA continue", destacou, referindo-se à agência dos EUA para controle de alimentos e medicamentos.

Cautela com cenário interno

No Brasil, a cautela com o exterior é somada à atenção com outros fatores, como a alta recente de preços de alguns produtos, como alimentos — e a postura do governo de "fiscalizar" supermercados sobre essas elevações -, a percepção de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está enfraquecido no governo, e receios sobre a capacidade de financiamento do Tesouro Nacional.

"Leilão gigante (de prefixados), Tesouro não colocou tudo. O recado está dado", disse um profissional de uma gestora, referindo-se à oferta de 44,5 milhões de títulos públicos, entre LTN e NTN-F, realizada pelo Tesouro nesta quinta, que teve colocação de 93%, com a percepção de dificuldade do Tesouro de atrair compradores de papéis.

Em relatório divulgado nesta quinta, o banco UBS avaliou que a questão das contas públicas segue como sombra para os ativos domésticos e que uma sinalização melhor nessa área é chave para o retorno dos investimentos no Brasil, passo necessário para que o real se valorize.

Inflação sobe

Diante dos dados econômicos recentes, alguns analistas voltavam as atenções para a inflação brasileira. Em patamares elevados, o dólar é apontado como fator de impulso aos preços.

Números da Fundação Getulio Vargas desta quinta-feira mostraram que os preços no atacado dispararam para o maior nível em 26 anos na primeira prévia de setembro, levando o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) a acelerar sua alta a 4,41%.

"O que presenciamos agora é o 'rebound' (rebote) do proposto câmbio alto (...) na inflação brasileira, já que estimular fortemente as exportações agrícolas e pecuárias repercute internamente nos preços dos alimentos de forma imediata e repõe ao cenário brasileiro o processo inflacionário, perceptível nas redes distribuidoras", escreveu Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora.

Varejo brasileiro melhora

O setor varejista brasileiro cresceu em julho, com o terceiro aumento seguido das vendas e no ritmo mais forte para o mês na série histórica, diante da flexibilização das medidas de contenção ao coronavírus.

"Esses dados de varejo surpreenderam positivamente, mostrando que a economia brasileira está se recuperando fortemente, o que favorece o real", explicou.

Em nota, analistas do Itaú BBA disseram que dados brasileiros recentes apontam para alguma recuperação da atividade econômica, embora os riscos fiscais permaneçam elevados.

Política econômica da Europa

Nesta quinta-feira, a presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, comentou expectativas sobre a trajetória de recuperação da zona do euro, após o órgão apresentar projeções.

Diante das preocupações dos mercados internacionais com a disparada do euro em relação ao dólar, Lagarde disse que o banco central seguirá monitorando a taxa de câmbio das duas moedas mais negociadas do mundo.

Havia "expectativa sobre a reunião de política monetária da Europa devido ao euro, para ver se o BCE tomaria alguma iniciativa sobre o câmbio", disse à agência de notícias Reuters João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, citando esse com um dos dois principais motores do mercado nesta sessão.

*Com Reuters