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Boeing 737 Max é autorizado a voar nos EUA, quase dois anos após acidentes

Teste do Boeing 737 MAX em Seattle, em junho de 2020; voos com a aeronave poderão ser retomados nos EUA - Jason Redmond/AFP
Teste do Boeing 737 MAX em Seattle, em junho de 2020; voos com a aeronave poderão ser retomados nos EUA Imagem: Jason Redmond/AFP

Do UOL, em São Paulo

18/11/2020 10h24Atualizada em 18/11/2020 12h12

Depois de quase dois anos dos acidentes que levaram à interrupção dos voos com o modelo 737 Max da Boeing, as aeronaves receberam sinal verde da FAA (Agência Federal de Aviação americana) hoje para retomar os voos.

A aeronave não voltará a voar de forma imediata em todo mundo, já que as autoridades do setor aéreo de outros países decidiram realizar suas próprias certificações. O modelo segue proibido de operar no Brasil até que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) termine de avaliar as modificações no projeto.

A FFA "seguiu um processo de revisão de segurança abrangente e metódica que levou 20 meses para ser concluído. Durante esse tempo, os funcionários da FAA trabalharam diligentemente para identificar e resolver as questões de segurança que desempenharam um papel na trágica perda de 346 vidas a bordo do Lion Air Flight 610 e do Ethiopian Airlines Flight 302", diz o comunicado divulgado pelo órgão e assinado pelo diretor Steve Dickson.

O órgão também publicou uma diretriz de aeronavegabilidade, na qual especifica alterações de design que devem ser feitas antes de a aeronave voltar a voar e novos requisitos de treinamento. A FAA informou que ainda deve aprovar a formação necessária para os pilotos antes de qualquer voo do 737 MAX operar sobre o espaço aéreo dos Estados Unidos. Ainda assim, o CEO da Boeing, David Calhoun, afirmou que a decisão constitui "uma etapa importante".

O comunicado ressalta ainda que a certificação da aeronave "incluiu um nível sem precedentes de análises colaborativas e independentes por autoridades da aviação em todo o mundo. Esses reguladores indicaram que as mudanças no projeto da Boeing, nos procedimentos da tripulação e o aprimoramentos do treinamento darão a eles a confiança para validar a aeronave como segura para voar em seus respectivos países e regiões".

A maior crise em mais de cem anos da Boeing começou há dois anos, quando um 737 MAX da Lion Air caía no mar de Java, na Indonésia. Menos de cinco meses depois, um outro avião do modelo, da Ethiopian Airlines, também sofreu um acidente, causando a paralisação de todos os voos com aeronaves desse modelo no mundo.

Quase 800 aviões parados

Atualmente, são cerca de 800 aviões do modelo parados em todo o mundo. Quando foi proibido de voar após o segundo acidente em março do ano passado, 387 aeronaves já haviam sido entregues às companhias aéreas. Mesmo com a proibição dos voos, a Boeing continuou produzindo o modelo. Nesse período, foram fabricados cerca de 400 aviões que ainda não puderam ser entregues.

Para que todas essas aeronaves possam voltar a voar, o modelo passou por uma série de mudanças, especialmente no sistema MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou sistema de ampliação de característica de manobra), que teria sido a principal causa para os dois acidentes.

O sistema deveria evitar que o avião entrasse em uma atitude que prejudicasse a sustentação. A atuação do MCAS, no entanto, forçava que a aeronave baixasse o nariz em uma fase crítica do voo, levando a um mergulho em direção ao solo.

As principais mudanças se concentram no software que controla o MCAS para evitar que o piloto tenha de lutar contra o avião para que não ocorra um acidente. Além disso, foram adicionados novos requisitos de segurança, como a instalação de novos sensores. A Boeing recomendou a todas as companhias aéreas que operam o modelo uma revisão geral nos sensores de ângulo de ataque. Um erro de leitura pode ter colaborado para a falha dos sistemas. O processo de treinamento dos pilotos também foi revisto.

Boeing teria ocultado falhas

Durante o processo de investigação das causas dos acidentes, a Boeing foi acusada de ocultar falhas de projeto do avião tanto dos pilotos quanto das autoridades regulatórias. Um comitê do Congresso dos EUA chegou a afirmar que o avião é "essencialmente falho": "A Boeing cometeu erros e escondeu informações sobre o 737 Max, enquanto os organismos reguladores não conseguiram fazer uma supervisão adequada, levando a uma aeronave essencialmente falha", afirmou o comitê.

A Boeing não respondeu diretamente a essa acusação e em nota divulgada à época disse: "Como empresa, aprendemos muitas lições difíceis com os acidentes do voo 610 da Lion Air e do voo 302 da Ethiopian Airlines, e com os erros que cometemos. Como este relatório reconhece, o resultado é que fizemos mudanças fundamentais em nossa empresa e continuamos a buscar maneiras de melhorar. Mudar é sempre difícil e exige comprometimento diário, mas nós, como empresa, nos dedicamos a fazer", afirmou.

A Boeing afirma que as mudanças e a avaliação detalhada de todos os sistemas tornaram o 737 Max um dos modelos mais seguros do mundo. Agora, o desafio da Boeing e das companhias aéreas que operam o modelo será convencer os passageiros. Uma pesquisa da consultoria Barclays com 1.765 passageiros nos Estados Unidos e na Europa logo após a proibição de voo com a aeronave apontou que 52% preferem voar em outro modelo de avião se tiverem essa opção.

*Com informações da Reuters