Juros mais baixos? Diretor do BC diz o que open banking muda na sua vida
Resumo da notícia
- Open banking vai permitir troca de informações de clientes entre instituições financeiras
- Segundo diretor de regulação do Banco Central, Otavio Damasio, mudanças vão estimular concorrência entre instituições financeiras
- Na segunda etapa do open banking, a partir de 15 de julho, clientes poderão receber propostas de produtos de onde não têm conta
A segunda etapa do open banking começa em pouco mais de um mês, em 15 de julho. É a partir dessa fase que os brasileiros começarão a sentir no dia a dia as novidades possibilitadas por esse novo sistema, que permite a troca de informações de clientes entre as instituições financeiras, diz o diretor de Regulação do BC (Banco Central), Otavio Ribeiro Damaso.
Em entrevista ao UOL, Damaso disse que o que pode mudar de prático na vida das pessoas é ter uma juros menores no cheque especial, por exemplo.
Veja abaixo alguns trechos da conversa do diretor de regulação do Banco Central, Otavio Ribeiro Damaso com o UOL.
Calendário mantido
O lançamento da primeira etapa do sistema, que deveria ter acontecido em novembro do ano passado, só ocorreu em fevereiro deste ano. Mas o diretor do Banco Central afirmou que o restante do calendário está mantido. A segunda etapa começa em 15 de julho, a terceira, em 30 de agosto e a quarta e última etapas em 15 de dezembro.
As etapas estão mantidas. O cronograma está andando bem, após a fase um. Tivemos um adiamento de novembro para fevereiro, mas apenas por um ajuste por causa do lançamento do Pix e da pandemia. Mas a primeira etapa andou superbem. Os prazos estão mantidos e serão seguidos. Já consideramos um sucesso, pois temos organizadas as informações e as tecnologias que serão compartilhadas pelos participantes de mercado. Tudo está correndo dentro do cronograma e com engajamento forte das instituições
Otavio Damaso
Nessa primeira fase, as grandes instituições financeiras do mercado, como bancos e operadoras de pagamentos, puderam trocar dados gerais de cada produto e serviço, como contas, empréstimos e financiamentos que cada um dos participantes oferece ao cliente.
Esses dados revelam apenas médias de valores e taxas e não informações específicas de cada cliente. De qualquer forma, já é possível ter uma ideia de quem cobra, na média, os maiores e menores valores para produtos e serviços.
Já na segunda fase, que começa em 15 de julho, aí sim, as instituições poderão trocar dados de cadastros e transações de clientes entre elas, desde que o consumidor dê seu consentimento.
Se o cliente autorizar, nessa etapa, poderão ser compartilhadas entre instituições participantes as informações de cadastro (nome, endereço, CPF etc.), bem como dados de movimentação financeira (contas e operações de crédito, como empréstimos e financiamentos).
Mudança na vida das pessoas
O diretor do BC comparou o impacto que o open banking vai ter na vida dos clientes do sistema financeiro às mudanças que a criação da Internet provocou na vida das pessoas.
Segundo ele, quando a internet foi criada, não estava claro para as pessoas o mundo de possibilidades que surgiriam dessa inovação. Mas, com o tempo, as novidades foram surgindo e hoje é difícil imaginar uma rotina sem a Internet.
No começo, quando a Internet surgiu, as pessoas não sabiam muito bem para o que serviria. Agora está na vida de todo mundo, e a gente se pergunta como um dia já vivemos sem Internet. O open banking será o mesmo, mas com a diferença de que hoje já conseguimos vislumbrar o que o open banking poderá permitir
Quais serão os primeiros produtos?
O diretor do BC destacou que o surgimento de novos produtos e serviços parte das instituições financeiras. São elas que vão aproveitar as oportunidades da troca de informações para apresentar ofertas e propostas aos consumidores.
Damaso disse que as mudanças possibilitadas pelo open banking vão entrar na vida das pessoas com o correr do tempo. Esse processo nunca vai acabar.
No mundo do open banking, apontou o diretor do BC, um cliente que está pagando juros elevados no cheque especial de um banco onde tem conta corrente, por exemplo, poderá receber uma proposta de crédito mais barato de uma financeira digital.
E isso só vai ser possível porque essa nova financeira poderá acessar as informações de clientes de outras instituições financeiras - desde, claro, que o cliente autorize que seus dados sejam compartilhados.
Quando alguém recebe informações que mostrem produtos que vão ser úteis e que cubram uma necessidade que a pessoa tem, ela vai aderir a esse produto ou serviço. Um exemplo é o cheque especial. O cheque especial é um produto muito inerente à conta corrente. Quem oferece esse produto é o banco onde o cliente tem conta, certo? Com o open banking, uma empresa financeira poderá oferecer produtos de crédito a um cliente que usa cheque especial em outro banco. Uma financeira vai ver quanto a pessoa está pagando no cheque especial e vai poder oferecer uma linha de crédito mais barata para esse cliente de outro banco cobrir o cheque especial. Vai haver mais concorrência. E isso pode reduzir custos. Outro exemplo é o surgimento de um agregador, um aplicativo que reúna os dados de todas as contas bancárias e investimentos de uma pessoa ou empresa em um só lugar. Com ele, por exemplo, uma pequena empresa vai poder pagar uma conta A no banco B onde tem dinheiro em caixa. O open banking vai permitir que cada um tenha seu próprio banco. São infinitas possibilidades
Por que open banking não caiu no gosto do brasileiro como o Pix?
Para o diretor do BC, o open banking ainda não é um sucesso popular como o Pix, mas seu processo de uso será gradual.
O processo de estruturação do open banking é diferente do Pix, em que o BC teve papel central. No open banking, o BC fez a regulamentação, e a estrutura ficou com os participantes de mercado. Além disso, o open banking vai ser um processo gradual, diferentemente do Pix, que teve crescimento muito já rápido no primeiro momento
E a segurança dos dados?
Damaso afirmou que as informações dos clientes que autorizarem a troca de seus dados vão trafegar em sistemas seguros e sem riscos de vazamentos.
Sobre segurança e privacidade, a troca de informações ocorre da mesma forma que no sistema financeiro, onde as instituições financeiras hoje já trocam informações e fluxos de recursos entre elas. A gente diz às instituições financeiras: vocês têm que seguir as regras porque o Banco Central está vigiando vocês. E o processo de autorização para o acesso dos dados deve ser com segurança e sem burocracia. Tem que ser simples, como se acessa o home banking ou mobile banking
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