Gás está caro, mas pesa menos no salário mínimo do que há 20 anos
A alta do gás de cozinha (GLP) virou mais um item na lista de preocupações dos brasileiros em 2021. De janeiro a junho, o preço médio do botijão de 13 quilos já avançou 13,75%, levando famílias a usar lenha para cozinhar. Ainda assim, o atual nível de preço do combustível é menor do que o de 20 anos atrás, quando se compara com o salário mínimo.
Em dezembro de 2001, o GLP custava em média R$ 18,69, o que equivale a 10,38% dos R$ 180 de salário mínimo da época. Vinte anos depois, esse percentual equivale atualmente a 7,95%, com o GLP a R$ 87,43 (média de junho) e o salário mínimo a R$ 1.100.
Os dados dessa comparação constam da série de preços de GLP ao consumidor, consolidados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). São valores médios, e há variações para cima e para baixo conforme as regiões.
Em 2002, o gás de cozinha comprometia quase 13% do salário mínimo daquele ano, o maior valor verificado no período analisado.
O percentual mais baixo é o de 2015, quando o GLP a R$ 45,92 equivalia a 5,83% do salário mínimo vigente (R$ 788).
Veja os detalhes da evolução de preços nos gráficos abaixo.
Preço de 2001 corrigido pela inflação seria de R$ 60
A análise não considera a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Entre dezembro de 2001 e maio deste ano, o indicador registra alta de 218,7%, segundo o IBGE.
Desse modo, os R$ 18,69 necessários para comprar um botijão de gás no final de 2001 equivaleriam hoje a R$ 59,56 - cerca de 32% a menos que os atuais R$ 87,43.
Mas há que se considerar que o preço do gás de cozinha não varia apenas com a inflação, uma vez que a composição do preço repassado ao consumidor inclui também tributos estaduais (ICMS) e federais (PIS/PASEP e Cofins).
Veja como é a composição do preço do GLP:
- Remuneração da Petrobras: 50.6%
- Distribuição e Revenda: 35%
- ICMS: 14,4%
- PIS/PASEP e Cofins: 0%
Disparada do gás de cozinha em 2021
Se os brasileiros tiveram um pequeno alívio no bolso no primeiro semestre do ano passado, com a ligeira queda de 0,23% no preço do gás de cozinha, o sentimento neste ano é de preocupação. Isso porque, entre janeiro e junho, o preço médio do botijão de 13 quilos já aumentou 13,75%.
Se considerar algumas regiões isoladamente, o cenário é ainda mais grave. No Centro-Oeste, por exemplo, o produto chegou a ser encontrado por R$ 130 no final do mês passado.
Em Cuiabá (MT), onde os termômetros chegaram a marcar 7 ºC em 30 de junho, algumas famílias já usavam lenha para esquentar água e tomar banho.
Veja como variou o preço médio do gás de cozinha entre 2020 e 2021:
- Janeiro de 2020: R$ 69,74
- Junho de 2020: R$ 69,58
- Dezembro de 2020: R$ 74,75
- Janeiro de 2021: R$ 76,86
- Junho de 2021: R$ 87,43
R$ 87 ainda é caro para os brasileiros
Entre 2001 e 2021, o salário mínimo avançou 511%. Esse aumento melhorou as condições de vida dos brasileiros, embora ainda esteja muito abaixo do que algumas instituições calculam como necessário.
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 5.421,84 em junho. Esse valor é 4,93 vezes o valor atual (R$ 1.100).
Salário mínimo teve melhora significativa, diz professor
"O salário mínimo teve correções e uma melhoria significativa em termos nominais nestes últimos anos. Mas é importante destacar que em qualquer família que depende de um salário mínimo, o gás a quase R$ 90 não é pouco", afirma Walter Franco, professor de Economia do Ibmec-SP.
Embora o percentual que o combustível tome do salário mínimo seja menor que o de 20 atrás, o economista diz que as condições de vida das famílias são delicadas, principalmente na pandemia de covid-19.
"Em um momento de desemprego, nem todo mundo ganha R$ 1.100. Além disso, com as pessoas dentro de casa, o consumo do botijão ficou mais pressionado. Antes, as pessoas estavam trabalhando, tinham alimentação na empresa, e hoje não têm", diz Franco.
Com isso, a ida ao fogão tem sido mais frequente, o que pressiona a demanda pelo produto, afirma o professor do Ibmec. Nos casos de famílias mais numerosas, a durabilidade do combustível acaba diminuindo também, por conta dessa situação.
"O GLP não é um item de luxo, mas nas classes menos favorecidas ele chega a ser inacessível em alguns momentos, em função do seu preço. Muitas famílias, se forem escolher entre o alimento e o botijão, vão optar pelo alimento, e cozinhar de outra maneira, por exemplo com lenha"
Walter Franco, professor de Economia do Ibmec-SP.
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