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Carne vai ficar mais cara para o brasileiro porque China voltou a importar?

 Pixabay/Kerstin Riemer
Imagem: Pixabay/Kerstin Riemer

Viviane Taguchi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/12/2021 04h00

O fim do embargo da China às importações de carne de boi brasileira, anunciado na quarta-feira (15), vai deixar as carnes mais caras para o consumidor final aqui? Como vai haver mais exportação, pode cair a oferta no mercado interno, aumentando o preço?

Segundo especialistas do mercado agropecuário, a carne sempre sobe em dezembro por causa das festas de fim de ano, e isso deve acontecer de novo agora. A volta das importações chinesas, no entanto, não deve pesar no bolso neste mês. Pode acontecer a partir de janeiro, quando as fazendas provavelmente vão reajustar o preço do boi vendido aos frigoríficos.

Brasileiro não consegue pagar muito mais

"Mas o repasse para o consumidor final também não deve ser alto porque ele não está em condições de pagar mais pela carne", disse Hyberville Neto, especialista em mercado agropecuário da Scot Consultoria.

O período, segundo Neto, é o de mais compras no comércio e, por isso, tradicionalmente, o preço costuma subir.

No entanto, com a situação econômica do brasileiro fragilizada, o setor varejista não tem como repassar todo o reajuste.

"A partir de setembro, quando o embargo foi determinado, a cotação da arroba do boi caiu e o preço da carne para o consumidor, não. Isso permitiu ao varejo trabalhar com margens maiores nesse período", explicou. "Mas, ao longo do ano todo, o setor varejista trabalhou com margens pequenas porque na ponta final [o consumidor] não tinha condições econômicas para acompanhar as altas".

Fazendas devem aumentar preço

Nas fazendas, no médio e longo prazo, a retomada das exportações para a China pode ser boa porque indica uma recuperação nos preços do boi, e com a demanda chinesa, os frigoríficos vão comprar carnes.

O embargo, em 4 de setembro, provocou uma queda no preço da arroba (cerca de 15 kg) nos últimos meses. Em 3 de setembro, um dia antes, a arroba do boi custava R$ 305,50. No dia 20 de outubro, o preço estava em torno de R$ 262 e, em novembro, a média era de R$ 290,43. Os dados são do Cepea/USP e valem para São Paulo. Nas duas primeiras semanas de dezembro, a média foi de R$ 320.

De acordo com Hybervile Neto, até o começo desta semana, o setor projetava um fraco movimento no fim do ano, mas agora, com a retomada das exportações, a tendência é que o preço da arroba volte a subir.

"Com a volta da China para o mercado, o pecuarista vai segurar um pouco o produto no pasto, para aguardar a valorização da arroba. Esse movimento normalmente já acontece na segunda quinzena de dezembro [devido às festas e maior demanda] e agora tende a ser maior", declarou.

A alta nas cotações, deve ser sentida a partir de janeiro, quando a China começa o período de compras para repor a movimentação do fim do ano.

"Outro fator que contribuirá para a retomada das movimentações é o fato de que os feriados do fim de ano caem em finais de semana, então, os frigoríficos vão trabalhar normalmente, não tem aquela semana picada, e eles devem pagar mais pelo boi para voltar a exportar para a China a partir de janeiro".

"Preço alto não tem relação com exportação"

Para o especialista em agropecuária do Itau BBA, César Castro, a retomada das exportações para a China é um fato positivo para o setor, que vai ajudar a organizar a formação de preços no mercado internacional, mas não vai provocar alta nem baixa de preços da carne para o consumidor final.

"[O preço alto da carne] não tem a ver com exportação, mas sim com a oferta de gado no pasto e, há pelo menos dois anos, a pecuária vem de um ciclo de baixa, com pouca oferta de boi para o abate", afirmou.

Segundo Castro, o preço do boi, e consequentemente, o da carne em supermercados e açougues, só deve cair a partir de 2023, quando haverá mais oferta.

Queda de preço só em 2023

"Estamos vivendo uma fase de recomposição do rebanho, há uma capacidade muito promissora para oferta de gado, mas isso só deve ocorrer a partir de 2023, e aí podemos esperar uma queda nos preços da carne para o consumidor final", disse.

"Mas a pecuária é um setor que vive de ciclos, e o produtor precisa sempre de estímulo para continuar investindo. O que aconteceu [embargo] prejudicou muitos produtores, e aqueles que planejavam investir nos próximos anos, para continuar o ciclo, estão bem desestimulados".

Carne virou item de luxo

Por um lado, segundo ele, a retomada pode ser uma injeção de ânimo no setor, mas nada é para curto prazo.

"O cenário não vai mudar em nada neste fim de ano e, em janeiro, a entrada do auxílio do governo, de R$ 400, também não. Esse dinheiro vai ser direcionado para comprar itens básicos, arroz e feijão, ovo e, talvez, frango e suíno, mas a carne bovina vai cair lá pro fim da lista porque é um item que está se tornando de luxo".