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PIB: investimento sobe, mas não o bastante para manter crescimento do país

Investimentos na economia somaram R$ 1,7 trilhão em valores atualizados, mas precisam crescer mais, dizem economistas - Foto: José Paulo Lacerda/Agência Brasil
Investimentos na economia somaram R$ 1,7 trilhão em valores atualizados, mas precisam crescer mais, dizem economistas Imagem: Foto: José Paulo Lacerda/Agência Brasil

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

04/03/2022 09h35

Resumo da notícia

  • Taxa de investimento na economia em relação ao PIB cresce em 2021, de 16,6% para 19,2%
  • Apesar do avanço, investimento segue abaixo do necessário para manter crescimento do PIB nos próximos anos, dizem economistas
  • País precisa de mais previsibilidade econômica e política para atrair mais recursos, dizem economistas

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil divulgado nesta sexta-feira (4) mostra um crescimento em um índice importante para a economia: a taxa de investimento, que revela aumento de produção, como ampliação de fábricas, novas rodovias, portos e aeroportos. Essa taxa é medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em relação ao PIB.

Ela atingiu 19,2% em 2021, uma alta em comparação com 16,6% em 2020, segundo informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas especialistas dizem que esse crescimento ainda está abaixo do necessário.

No acumulado em quatro trimestres, a Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 17,2% em relação ao mesmo período de 2020, após recuo de 0,5% em 2020. No ano todo, os investimentos na economia medidos por esse indicador somaram R$ 1,7 trilhão a valores correntes.

Entre as atividades que ajudaram a alimentar investimentos na economia brasileira ao longo de 2021 estão o setor da construção, que teve avanço de 9,7%, o setor das Indústrias de transformação, que cresceram 4,5%, influenciadas positivamente pela fabricação de máquinas e equipamentos, metalurgia, fabricação de outros equipamentos de transporte, produtos minerais não-metálicos e ainda indústria automotiva.

Como investimento move economia

Segundo economistas, o crescimento da taxa de investimento na economia brasileira é positivo porque sinaliza uma tendência de expansão da atividade econômica para os próximos trimestres.

Os investimentos influenciam diretamente o crescimento econômico porque são esses recursos que permitem a construção e ampliação de estradas, portos e aeroportos, a aquisição de máquinas e equipamentos pela indústria e pelo agronegócio, a expansão das redes de saneamento e energia e outras formas de aumento da infraestrutura capazes de suportar mais negócios e gerar mais empregos.

Sem novos investimentos, a economia gira em torno de uma mesma estrutura que, em algum momento, atinge o limite da capacidade.

Apesar do crescimento, investimento ainda é baixo

Segundo economistas, o volume de investimentos ainda está abaixo do que necessário para que o país mantenha o ritmo de expansão verificado em 2021. Nos momentos em que o Brasil teve crescimento do PIB mais forte e por mais anos seguidos, a taxa de investimento em relação ao PIB circulada ao redor de 25% ou mais.

A gente precisa mais que isso de investimento para vislumbrar um PIB voltando a crescer de forma mais forte por mais tempo.
José Ronaldo Souza Júnior, diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea e professor do Ibmec-RJ

Os números até vieram um pouco melhores que o esperado, mas ainda é pouco para o Brasil. Com esse patamar de investimento, nosso potencial de crescimento está em apenas 2,5%.
Roberto Troster, economista e sócio da Troster & Associados

Precisa aumentar a poupança

Para o Brasil aumentar o volume de investimentos em relação ao PIB é necessário ampliar a capacidade de poupança interna e ainda atrair recursos externos para complementar os aportes necessários.

No fim de 2021, por exemplo, a taxa de poupança, que indica quantos recursos a economia brasileira acumulou para poder investir na produção, ficou em 17,4%. Isso é mais que os 16,6% obtidos em 2020, mas menos que o volume de investimentos totais.

A poupança de uma economia cresce quando empresas e pessoas separam uma parte dos recursos para aplicar ou investir. Um exemplo disso é a previdência -pública e privada. Em muitos países, como Estados Unidos, os fundos de pensão de empresas e entidades compõem uma das principais fontes de recursos para novos investimentos.

Quando a poupança não é suficiente para gerar os investimentos de uma economia, o complemento precisa vir do exterior.

Cenário desafiador para 2022

Mas tanto para estimular a formação de poupança interna como para atrair investidor externo, o Brasil precisa melhorar o grau de previsibilidade para os negócios, dizem economistas.

O desafio, apontam economistas, é que o cenário para 2022 é de mais incertezas. No ambiente externo, por causa de fatores como a guerra no leste europeu e a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos.

E, no ambiente doméstico, as fontes de dúvidas partem da inflação persistente, dos juros em elevação e, ainda, das eleições presidenciais em outubro.

O que move o investimento privado são duas coisas: expectativa de crescimento da demanda e dos lucros. Nenhum desses elementos está presente para o ano em curso. Portanto, o crescimento do investimento privado será apenas pontual, em setores específicos, como logística, serviços e modernização industrial em alguns segmentos.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia

Este cenário de inflação elevada e aumento na taxa de juros não é positivo para os investimentos. Enquanto as incertezas perdurarem, dificilmente veremos uma recuperação do PIB baseada na retomada dos investimentos.
Helena Veronese, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management

Vai ser difícil ter crescimento sustentado e forte do PIB nos próximos trimestres enquanto desafios estruturais ligados às questões regulatórias, à condução da política fiscal e à produtividade não forem resolvidos.
Felipe Sichel, estrategista chefe do banco digital Modalmais

Nosso maior obstáculo é a falta de um modelo de crescimento que seja consistente. Por exemplo, reduzir IPI em 25% de maneira linear e acreditar que isso vai gerar industrialização. Não sei para quem? Falta uma política econômica consistente, que deixe de ficar tentando apenas apagar incêndios em vez de planejar o longo prazo.
Roberto Troster, sócio da Troster & Associados

O que pode gerar investimentos na economia este ano

Apesar de expectativas pessimistas para aumento dos investimentos no país nos próximos trimestres por causa das incertezas políticas e econômicas no Brasil e no mundo, economistas apontam alguns fatores que podem ajudar o país a driblar esses obstáculos.

Entre esses fatores estão o programa de concessões públicas, com destaque para rodovias, portos e aeroportos, as novas regras de investimentos e de operação em setores públicos, como saneamento e transporte ferroviário, além das mudanças trazidas pela chegada do 5G, nas telecomunicações

Neste ano, podemos ter aumento de investimentos em infraestrutura por causa das concessões e das mudanças na regulação de vários setores. Mas para um crescimento mais forte precisamos ter um ainda maior impulso na capacidade produtiva.
José Ronaldo Souza Júnior, Ipea e Ibmec-RJ

Outro dado relevante que chama atenção nos dados do PIB é crescimento da poupança, mostrando capacidade das pessoas de acumular capital, abrindo espaço para investimentos futuros.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos