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'Querendo me fod*': Guimarães xinga por perder R$ 100 mil por mês na Caixa

Pedro Guimarães pediu demissão da Caixa na semana passada, após denúncias de assédio sexual; ele nega as acusações - Valter Campanato/Agência Brasil
Pedro Guimarães pediu demissão da Caixa na semana passada, após denúncias de assédio sexual; ele nega as acusações Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

05/07/2022 08h36Atualizada em 05/07/2022 11h08

O ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães se irritou com funcionários e disse ter sido traído após descobrir uma mudança no regimento interno que, na prática, o faria perder mais de R$ 100 mil por mês, durante uma reunião realizada no fim do ano passado. As informações e áudios foram obtidos pela coluna de Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles.

A nova resolução, aprovada por executivos da Caixa em 2021, estabelecia um limite à participação de Pedro Guimarães em conselhos de subsidiárias da Caixa e de empresas privadas das quais o banco é sócio. Ele chegou a integrar 18 conselhos, que lhe renderam mais de R$ 130 mil mensais em jetons (uma espécie de gratificação pelo trabalho extra), de acordo com o Metrópoles. O valor era acrescentado ao salário de R$ 56 mil que Guimarães recebia como presidente da Caixa.

"O Mauro [Cunha, ex-presidente do Conselho de Administração da Caixa] nunca nem chegou a comentar isso comigo, porque ele sabia que era inaceitável. Então, isso é traição. Porque isso passou sem nunca ninguém passar para mim", afirmou Pedro Guimarães.

Em seguida, ele pede que sua chefe de gabinete, Rozana Alves, o assessor Álvaro Pires e o vice-presidente da Caixa, Celso Leonardo Barbosa, façam um levantamento de tudo o que foi feito nos últimos três anos, "porque nego está me fod*, nego vai me fod*".

Álvaro Pires e Celso Barbosa são amigos pessoais de Guimarães. Considerado o número dois na administração da Caixa, Barbosa foi afastado do cargo após ser citado em denúncias de assédio sexual.

Eu vou devolver o dinheiro, não tem condição. Como é que eu não vou devolver o dinheiro? Vai estourar essa merda daqui a seis meses, dizer que estou roubando a Caixa.
Pedro Guimarães em áudio obtido pela coluna de Rodrigo Rangel

Ele ainda acusa os funcionários de deslealdade:

Como é que eu vou saber? Como é que eu vou ter tempo, eu não posso confiar nas pessoas de dentro do banco?

Segundo Pedro Guimarães, os funcionários querem "fazer hedge (se proteger) para se o presidente Jair Bolsonaro (PL) não ganhar a eleição". Em seguida, ele ameaça funcionários de demissão: "Eu vou tirar. Ô, Celso, você olha isso no detalhe?".

Procurado pelo Metrópoles, o advogado José Luis de Oliveira Lima, que representa Pedro Guimarães, afirmou que ele não devolveu o dinheiro citado no áudio. "Ele não tinha que devolver nada, pois tudo estava dentro da lei".

Guimarães pediu demissão da presidência da Caixa no último dia 29, após a imprensa divulgar relatos de funcionárias que o acusam de assédio sexual.

Em sua carta de demissão, Guimarães negou as acusações e declarou que combateu o assédio dentro do banco. Acrescentou que foi colocado em uma "situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade".

Guimarães diz que falas contra ele são 'mentiras'

Ontem, Pedro Guimarães escreveu uma coluna no jornal Folha de S.Paulo para se defender das acusações. Ele diz que as falas contra ele são "mentiras" e que solicitou vídeos de hotéis e nas dependências da Caixa para comprovar sua honestidade.

Leia trechos do texto. A coluna completa pode ser lida na Folha:

"Poucas coisas podem ser piores do que a situação em que uma vida inteira de correção e honestidade se vê tomada pela sombra de acusações baseadas apenas na palavra de alguns. No direito criminal, até mesmo a versão de um delator não vale nada se não vier acompanhada de provas materiais que a convalidem. Pois eu estarei agora na linha de frente para travar o bom combate, a luta pela verdade.

Informo que irei solicitar aos hotéis em que estive como presidente da Caixa Econômica Federal qualquer imagem minha nas suas dependências, durante o tempo de minhas hospedagens. Será que um assediador serial pediria ou permitiria a divulgação de conteúdos como esse? Claro que não. Pelo simples motivo de que o que se falou contra mim não é o que as provas demonstrarão.

Eu solicitarei à presidência da Caixa que me forneça todas as imagens, de todas as câmeras, da presidência, dos corredores, elevadores, garagens. Esse acervo todo eu quero ver exposto! E quero ver se há em todas essas horas um segundo sequer de comportamento impróprio, um ato atentatório contra uma única mulher. Se não houver, o que dizer? Que eu era um abusador-serial-randômico? Ou será que o mais plausível não é a verdade:? Que as falas contra mim são mentiras e os fatos irão demonstrá-las.

Não sou perfeito. Sou humano. Dirigi a Caixa com uma diretriz clara. Quando cheguei, a empresa estava nas manchetes policiais. Era necessário um choque de postura.

Sou eu o maior interessado em que tudo venha à tona. Conclamo os agentes e as agentes da difamação: mostrem tudo! Porque, de minha parte, minha luta agora é colecionar todas as provas possíveis para expor esta farsa. Que nada fique na sombra. Que tudo venha a lume. E então veremos onde a verdade está."