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Demissão de Pedro Guimarães é oficializada; Daniella Marques assume a Caixa

Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa - Isac Nóbrega/Presidência da República
Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Imagem: Isac Nóbrega/Presidência da República

Carla Araújo, Mariana Durães, Giuliana Saringer e Weudson Ribeiro

Do UOL, em Brasília e São Paulo

29/06/2022 18h37Atualizada em 30/06/2022 17h21

O economista Pedro Guimarães deixou hoje voluntariamente a presidência da Caixa Econômica Federal. A saída, publicada no DOU (Diário Oficial da União), ocorre depois de o site Metrópoles ter publicado, ontem, relatos de funcionárias que afirmam terem sido vítimas de assédio sexual por parte dele, que foi indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019. Na carta com o pedido de demissão, o ex-chefe da estatal negou as acusações.

Para o lugar de Guimarães, o governo anuncia Daniella Marques Consentino, considerada uma das protagonistas da gestão de Paulo Guedes no Ministério da Economia. A nomeação foi antecipada pela colunista Carla Araújo, do UOL.

"O presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere a Constituição, e tendo em vista o Estatuto da Caixa Econômica Federal, resolve exonerar, a pedido, Pedro Guimarães do cargo de presidente da Caixa Econômica Federal e nomear Daniella Consentino para exercer o cargo", destacou o DOU.

O UOL apurou que uma das diretrizes de Daniella no comando da estatal será reforçar o programa Caixa para Elas, com políticas de estímulo ao empreendedorismo feminino.

Auxiliares do presidente, que classificaram a situação de Guimarães como insustentável, afirmaram que a oficialização da demissão demorou por questões burocráticas. O anúncio poucas horas depois de um evento no Palácio do Planalto sobre o Plano Safra.

Interlocutores do chefe do Executivo afirmaram que Bolsonaro teve conversa rápida com Pedro Guimarães ontem à noite, no Palácio da Alvorada, e já havia decidido que o tiraria do governo.

Na manhã de hoje, após reunião com ministros e auxiliares, Bolsonaro bateu o martelo sobre o nome de Daniella, que além de vista como "técnica e competente", ajudaria no discurso da campanha de que Bolsonaro, que busca o voto de mulheres.

Daniella estava em São Paulo quando chamada à Presidência da República para que o presidente formalizasse o convite.

A queda de Pedro Guimarães

Os casos relatados por funcionárias da Caixa contra Pedro Guimarães incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho. As denúncias estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal. O TCU (Tribunal de Contas da União) também pediu a órgãos de controle a abertura de investigação.

Após as denúncias, Guimarães afirmou durante um evento da Caixa que tem "uma vida inteira pautada pela ética" e orgulho de como se portou ao longo da vida. O ex-presidente da Caixa é casado com Manuella Guimarães, filha do delator da Lava Jato Léo Pinheiro. Ele tem 57 anos e tem dois filhos. É formado em Economia pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e possui três cursos em nível de mestrado, sendo um na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Antes de assumir a Caixa, passou pelos bancos BTG Pactual e Plural.

Especialista em privatizações, Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro. Desde então, Guimarães se afastou do chefe da pasta e virou um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), participando várias vezes da live semanal do presidente.

Em abril, Guimarães disse que se mudaria para a África caso Bolsonaro não seja reeleito este ano, mostrou a coluna de Bela Megale, do jornal O Globo. De acordo com a colunista, a fala teria ocorrido durante um jantar promovido pelo grupo Esfera Brasil.

Polêmicas

O colunista do UOL Ricardo Kotscho afirma que Guimarães já havia sido investigado em processo administrativo interno da Caixa em 2019 por suspeita de envolvimento com uma funcionária. No fim do ano passado, Guimarães foi alvo de polêmicas por ter colocado funcionários para fazer flexões durante um evento de fim de ano para gestores da instituição. Na ocasião, no palco e na plateia, diretores e vice-presidentes da Caixa fizeram os movimentos em dois momentos, sob contagem do chefe.

Auxílio emergencial deu holofote a Guimarães

Antes considerado uma figura discreta, Guimarães foi colocado no centro das atenções após o início da pandemia, quando o governo federal criou medidas de socorro financeiro à população. A mais conhecida delas foi o auxílio emergencial, benefício pago pelo governo por meio do banco. Com isso, Guimarães se tornou peça central em diversos anúncios e entrevistas do governo sobre o auxílio.

Cogitado em ministérios

Guimarães chegou a ser cotado para assumir o cargo do ex-ministro Rogério Marinho, que deixou o comando da pasta do Desenvolvimento Regional para concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Norte. Além disso, Guimarães também foi cogitado como substituto de Paulo Guedes em momentos de crise na pasta de seu padrinho no governo, de acordo com a Folha.

"Eu não controlo o que as pessoas falam. Mas não tenho diferenças com o ministro Paulo Guedes. Do ponto de vista objetivo, sou presidente da Caixa com muito orgulho — e essa é a minha missão no governo", disse Guimarães à Veja ao comentar esses rumores.