Alta de juros nos EUA contribui para segurar inflação também no Brasil
A decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), de elevar sua taxa básica de juros em 0,75 ponto porcentual nesta quarta-feira (27), para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano, traz impactos para a economia brasileira. Analistas ouvidos pelo UOL afirmam que, com a alta, o Fed busca segurar a inflação nos EUA, o que influencia a demanda por commodities e pode favorecer o controle de preços também no Brasil.
Por que os juros estão subindo nos EUA? Em março, o Fed iniciou seu processo de alta de juros, para combater a disparada de preços no país. Desde então, os juros já saltaram da faixa de 0% a 0,25% para o intervalo atual de 2,25% a 2,5%. No mercado financeiro, a expectativa é de que, até o fim do ano, a taxa básica americana se aproxime dos 3,5%.
A alta de juros é uma reação à aceleração dos preços nos EUA, na esteira da pandemia de covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia. Em junho, o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) subiu 1,3% em relação a maio. Na comparação com junho do ano passado (inflação de 12 meses), o avanço foi de 9,1%, o maior nível em 40 anos.
O percentual é alto para os padrões dos EUA, país que estava acostumado com a inflação abaixo dos 2% nos últimos anos.
Com juros mais altos, o Fed segura a atividade econômica, reduz o consumo e, na prática, deixa menos espaço para a remarcação de preços.
Quais os efeitos para o Brasil? O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, afirma que a elevação dos juros nos EUA pode ter um efeito positivo para o controle da inflação também no Brasil.
"Com a alta de juros, há um processo de redução da demanda global, o que impacta nos preços das commodities", afirma Serrano. "Isso tende a trazer menos pressão para a inflação global, o que ajuda o Brasil."
Commodities são produtos primários, como petróleo e soja, que possuem negociação global. Em função disso, suas variações de preços acabam afetando os países ao redor do mundo.
Serrano lembra que boa parte da inflação registrada pelo Brasil em 2021, de 10,06%, foi "importada" do exterior. Ou seja, a disparada dos preços de commodities como o petróleo e dos alimentos impulsionou a inflação brasileira. O exemplo clássico é o dos combustíveis: a gasolina subiu 47,49% no ano passado no Brasil e o diesel avançou 46,04%.
Em 2022, nos 12 meses até junho, a inflação acumulada no Brasil é de 11,89%.
Com a alta de juros nos EUA e na Europa —que também iniciou recentemente o processo para controlar a inflação—, a tendência é de redução da demanda global por commodities. Com isso, os preços tendem a não subir tanto.
Para José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos, a alta de juros nos EUA pode, de fato, ajudar a conter os preços internacionais das commodities, em especial dos alimentos, com reflexos no Brasil. "No caso dos combustíveis, é difícil dizer, porque o petróleo continua em tendência de alta", pondera.
Impactos sobre o dólar. Outro efeito da elevação de juros nos EUA pode ser percebido no câmbio. Com juros mais elevados, o país tende a atrair mais investimentos, o que tradicionalmente significa que recursos podem sair de países emergentes como o Brasil. Uma das consequências pode ser a alta do dólar ante o real.
Faria Júnior, no entanto, lembra que o Brasil tem hoje uma Selic (a taxa básica de juros) de 13,25% ao ano. Na próxima reunião do Banco Central, marcada para a semana que vem, a instituição deve promover novo aumento da Selic, para 13,75% ao ano.
Assim, a taxa de juros do Brasil está em patamares bem mais elevados que a dos EUA, o que contribui para manter investimentos no mercado doméstico. Na prática, não é de se esperar um avanço grande do dólar ante o real em função das decisões do Fed.
Serrano vê o cenário da mesma forma. "Os preços internacionais das commodities tendem a ter mais influência sobre a inflação brasileira que o câmbio", diz.
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