Golpista criou conta no PicPay, fiquei com nome sujo e dívida de R$ 7.000
Em fevereiro, a fisioterapeuta Renata Ferreira, 42, descobriu que seu CPF havia sido usado por um golpista para a abertura de uma conta no PicPay. Ela pesquisou o número do seu documento no site do Serasa e viu uma dívida de mais de R$ 7.000 cobrada pelo Banco Original.
Renata, que aceitou conversar com o UOL mas não quis fazer foto, afirma nunca ter sido cliente de nenhuma das instituições. Ela mora desde 2013 em Los Angeles (EUA).
"A dívida foi feita em maio do ano passado, ou seja, ficou todo esse tempo acumulando juros", diz.
Durante a pesquisa, descobriu que estava com o nome sujo porque o Banco Original pediu a negativação de seu CPF ao Serasa. No total, a dívida feita pelo fraudador era de R$ 7.213,75
A dívida foi feita no PicPay, e o Original emite os boletos do PicPay. Ambas as empresas são controladas pelo mesmo grupo financeiro, o J&F Investimentos. Por isso foi o Original que pediu a negativação.
Demora para resolver: Renata diz que tanto o Original quanto o PicPay demoraram quase dois meses para solucionar parte do caso, e ainda há uma outra pendência. A reportagem teve acesso à troca de emails com as duas companhias e o boletim de ocorrência que a fisioterapeuta fez. O PicPay apenas afirmou que resolveu a situação, e o Original não quis comentar.
"O Original me informou que não constava nada [irregularidade] e disse que o problema poderia estar com o PicPay. Um me empurrou para o outro" declara.
É difícil abrir uma conta no PicPay? Para se tornar um cliente, basta fornecer nome completo, email, CPF e número de telefone.
Em seu site, o PicPay informa que pode pedir o envio de uma selfie como parte do cadastro.
Fuso horário aumentou a dor de cabeça: Vivendo numa cidade com diferença de quatro horas a menos em relação ao fuso horário do Brasil, Renata acordava de madrugada para enviar emails e ligar para o SAC das empresas.
Ela acionou principalmente o atendimento do PicPay, sobretudo após a resposta do Banco Original.
"O atendimento que tive foi falho, não fui informada a respeito de como isso tudo aconteceu", declara.
Como as empresas resolveram? Após algumas trocas de mensagens, o PicPay confirmou a falha de segurança. "Identificamos que seus dados foram utilizados por terceiros e como isso vai contra nossos termos de uso, intervimos e liberamos seus dados de nosso app", disse a fintech por email.
Entretanto, a companhia não respondeu como o sistema de segurança foi burlado pelo estelionatário. "Por questões internas, não posso passar mais detalhes sobre nossas análises". O Banco Original excluiu o CPF da vítima da lista de devedores.
Houve mais algum problema? Renata imaginou que o caso já estivesse concluído, mas foi surpreendida novamente com outra cobrança em junho. O Original emitiu um boleto no valor de R$ 51,91 que pode ser pago até 2030. Novamente, ela não reconhece a dívida.
O PicPay e o Original negam que a segunda cobrança exista, mas o valor aparece no nome de Renata Ferreira há dois meses.
O que dizem as companhias? Procurado pelo UOL, o PicPay afirma que o caso foi solucionado e que a dívida foi retirada. "A empresa reforça ainda que segurança é sua prioridade, com times dedicados a mitigar, monitorar e controlar riscos em tempo real", declara, em nota.
A companhia não mencionou, porém, a segunda cobrança. O Banco Original não quis se pronunciar sobre o ocorrido.
"Que punição essas empresas podem ter? Eles causaram um transtorno em minha vida e nada acontece? A punição só veio para mim", diz Renata.
PicPay e Banco Original podem ser responsabilizados? Pedro Guimarães, advogado e especialista em direito digital, diz que um banco pode responder na Justiça caso a vítima comprove que a negativação de seu nome tenha sido irregular.
Essa solicitação pode ser feita em caráter de urgência, para que o juiz julgue imediatamente a questão, antes de se debruçar sobre o restante do processo.
De acordo com Guimarães, uma outra opção é entrar com pedido de danos morais em razão da negativação indevida, em virtude de todos os transtornos sofridos. O fraudador, se for identificado, pode responder por crime de estelionato.
A distância entre os dois países faz Renata questionar a tomada de novas iniciativas. Como mora no exterior, ela registrou o boletim de ocorrência na internet e usou o endereço e telefone da sua família em São Paulo. Uma saída é acionar um advogado no Brasil e participar de audiências virtuais.
No último contato, feito por email na terça-feira (16), a equipe de atendimento do PicPay respondeu para Renata ficar de olho na conta e no aplicativo. Ela não tem nem um nem outro. A dívida segue ativa. "A sensação de insegurança é grande, chega a dar desespero."
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