Preço de alimento cai pela 1ª vez em mais de 2 anos, mas não alivia o bolso
Os preços dos alimentos caíram pela primeira vez desde julho de 2020, de acordo com dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a prévia oficial da inflação no país.
A queda está no grupo de alimentação e bebidas que, em setembro, teve deflação de 0,47%, conforme divulgado nesta terça-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O índice de setembro fechou em -0,37%, impactado também por transportes — o que inclui gasolina (-9,78%) e etanol (-10,10%).
A variação negativa terá pouco impacto no orçamento do brasileiro, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL. Embora a queda seja algo a ser comemorado, eles apontam que itens essenciais do carrinho de compras ainda estarão caros para o consumidor.
O que ainda mantém a alimentação cara? André Braz, economista da FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), afirma que a redução no preço dos alimentos no Brasil é registrada por alguns pontos: o efeito de sazonalidade — cuja produção pode ser prejudicada por temperaturas mais baixas e menos chuvas —, e a desaceleração da economia em diversos países.
Ele avalia que o desempenho econômico desfavorável da China e de países europeus já tem colocado para baixo a cotação de commodities — como soja, trigo e milho — em bolsas internacionais. Para conter o avanço da inflação, os juros são elevados.
A queda do mês já impacta a alta acumulada dos preços? Apesar da queda de 0,47% em alimentos e bebidas, o acumulado do ano (janeiro a setembro) para o grupo registra alta de 10,37%. Nos últimos 12 meses, de setembro de 2021 a setembro de 2022, a alta é de 12,73%.
O que caiu de preço em setembro já estava muito mais caro antes. Essa queda não vai deixar o consumidor feliz ao ir ao supermercado"
André Braz, economista
Segundo o IPCA-15, leite longa vida (-12,01%), tomate (8,07%) e óleo de soja (-6,07%) foram alguns dos produtos essenciais da cesta básica que tiveram diminuição considerável em setembro. Itens menos populares, como pepino (-17,49%), melancia (-13,17%) e morango (-25%), seguiram o mesmo caminho.
Porém, o leite longa vida, por exemplo, acumula alta de 58,19% desde janeiro.
Alimentos e bebidas tiveram o maior peso nos gastos mensais do brasileiro (21,8%) em setembro, seguido de perto por transportes (21%), segundo o IPCA-15.
Gasolina e diesel mais baratos também contribuíram para queda. O professor de Macroeconomia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Alexandre Gaino declara que nem todas as variações negativas em produtos alimentícios atingem diretamente a população de baixa renda.
Enquanto abacaxi (-2,58%) e requeijão (-0,38%) caíram, produtos mais populares, como macarrão (+0,45%) e cebola (+11,39%) subiram de preço.
"O recuo do pepino japonês não vai impactar muito quem tem rendimento mais baixo", afirma o especialista.
O professor acrescenta que o corte no preço para gasolina (-9,78%) e etanol (-10,1%) e diesel (-5,4%) — após o governo federal limitar impostos e a Petrobras anunciar reduções ao consumidor — ajuda a baratear os custos de transporte de alimentos.
"Uma retração no preço dos combustíveis leva a uma contração do custo em um mercado mais concorrencial, como alimentos in natura. É um efeito da própria concorrência que leva a um custo menor", destaca.
Entretanto, ele reforça que a diminuição em setembro ainda não é suficientemente grande para deixar esses itens mais em conta no orçamento do brasileiro.
A queda nos alimentos vai continuar? O estrategista-chefe da Levante, Rafael Bevilacqua, diz que o cenário de preços de alimentos ainda é incerto para os próximos meses.
Para ele, ainda é preciso observar o período de safra de alimentos, que pode ou não ser afetada pela chuva, e a reposição de água nos reservatórios, que teria impacto no custo médio de energia no país — e, consequentemente, nos custos do produtor.
Porém, um fator positivo é a estimativa de inflação menor feita pelo mercado financeiro, que passou de 6% para 5,88%, segundo o relatório Focus, divulgado na segunda-feira (26) pelo BC (Banco Central).
Todos os grupos pesquisados tiveram queda nos preços? Não. O IBGE destacou que apenas três dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram queda nos preços. No entanto, dois desses são os que mais pesam para a composição do índice: Transportes e Alimentação e bebidas.
Em transportes, todos os combustíveis pesquisados registraram queda, com destaque para o etanol (-10,10%), e a gasolina (-9,78%). Diesel (-5,4%) e gás veicular (-0,3%) também caíram. As passagens aéreas, porém, seguem subindo: alta de 8,2% no mês.
O outro grupo que registrou queda foi o de comunicação, com redução nos preços de planos de telefone fixo (-6,58%) e pacotes de acesso à internet (-10,57%).
Os demais seis grupos pesquisados pelo IBGE tiveram alta, inclusive saúde e cuidados pessoais, com aumento no preço de planos de saúde (1,13%), e vestuário, com roupas femininas, masculinas e infantis (1,66%).
Veja o índice por grupo:
- Vestuário: 1,66%
- Saúde e cuidados pessoais: 0,94%
- Despesas pessoais: 0,83%
- Habitação: 0,47%
- Educação: 0,12%
- Artigos de residência: 0,24%
- Alimentação e bebidas: -0,47%
- Transportes: -2,35%
- Comunicação: -2,74%
Como é calculado o IPCA-15? O indicador, que leva em consideração 465 subitens de produtos e serviços, capta a inflação para famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e do município de Goiânia.
A metodologia utilizada é a mesma do IPCA. A diferença está no período de coleta dos preços e na abrangência geográfica.
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