'Eu tentei pedir o empréstimo do Auxílio Brasil, e o banco me disse não'
A desempregada Thaís de Souza, 34, tinha interesse em conseguir o empréstimo consignado do Auxílio Brasil desde que ouviu falar do benefício pela primeira vez. Ela fez o pré-cadastro em agosto com o Banco Pan, chegou a aguardar mais de um mês na esperança de ser aprovada, mas teve o pedido recusado por SMS há mais de duas semanas.
Para que ela iria usar o dinheiro? Thaís contava com a liberação do empréstimo de R$ 2.000 para comprar equipamentos de confeitaria. Demitida há quatro meses do emprego de auxiliar de cobrança de uma empresa de cartão de descontos, ela começou a preparar trufas, brigadeiros e bolos em geral para vender nas ruas de Poá, na Grande São Paulo.
Seu maior desejo é comprar um forno elétrico e equipamentos essenciais da confeitaria, como espátulas, bicos e pratos giratórios. Com o botijão de gás acima de R$ 100, ela escolhe apenas uma semana do mês para assar bolos e assim consegue cozinhar no restante do mês para os filhos Marcos Miguel, 8, e Maria Alice, 4.
Por que o empréstimo foi rejeitado? Ela conta que o Banco Pan não explicou o motivo de a solicitação ter sido rejeitada. A mensagem enviada ao seu celular apenas informava que a proposta fora cancelada por "política de crédito".
De acordo com o Ministério da Cidadania, o objetivo do empréstimo consignado do Auxílio Brasil é permitir que as famílias, hoje sem acesso a crédito e muitas delas endividadas e pagando altos juros, possam se reorganizar financeiramente, empreender e buscar autonomia.
Qual o valor do empréstimo? Nessa modalidade, os empréstimos podem ser de até 40% do Auxílio Brasil. O valor considerado é o básico do auxílio (R$ 400). Embora o pagamento hoje esteja excepcionalmente em R$ 600, o cálculo é feito em cima do valor normal. Ou seja, 40% de R$ 400, o que dá R$ 160.
O valor é descontado mensalmente na conta do titular do programa. A taxa de juros está limitada a 3,5% por mês, e o prazo máximo para quitar a dívida é de 24 meses.
Vale a pena fazer o empréstimo? Especialistas em finanças criticam o modelo do consignado por usar o Auxílio Brasil como moeda de pagamentos a instituições financeiras. Para pessoas negativadas, o empréstimo só é recomendado se a taxa da dívida for maior que a do empréstimo.
Receio de ouvir novamente um 'não': Mesmo ciente da redução no valor do pagamento mensal, Thaís acredita que o consignado do Auxílio Brasil lhe permitiria diminuir um pouco do sufoco financeiro. Ela diz que tem uma dívida que hoje gira em torno de R$ 15 mil e continua a crescer, pois nem todas as contas de água e luz são pagas em dia.
O aperto só não é maior porque ela mora de graça com as duas crianças em um cômodo cedido pelo ex-sogro. "Eu pago uma conta e empurro a outra para frente. Tenho que dar uma segurada para comprar arroz, feijão e leite", lamenta.
Depois da negativa, a confeiteira desistiu de pedir novamente o consignado para outro banco habilitado pelo governo. "Eu fico até com receio, né?"
Banco diz usar critérios para empréstimos: Segundo o Banco Pan, as propostas cadastradas passam por uma avaliação de crédito própria e avaliações formais e regulamentares, embora não tenha detalhado quais são os critérios.
"Após análise criteriosa, as solicitações pré-aprovadas de empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil seguiram no processo de formalização junto aos clientes, averbação e pagamento, iniciado em 10 de outubro", diz, em nota.
Ainda de acordo com o Banco Pan, as pessoas que tiveram o pedido negado foram "devidamente comunicadas, sem qualquer ônus". A reportagem perguntou quantas solicitações foram aceitas e rejeitadas, mas a instituição não informou.
'Tenho medo de não conseguir pagar o empréstimo'
Laianny Araújo de Sousa, 26, está na expectativa de receber o empréstimo pelo mesmo Banco Pan. Após a aprovação igualmente informada por SMS, ela irá usar os R$ 2.400 para fazer o que Thaís de Souza não conseguiu: comprar materiais para produzir doces confeitados para venda. Ela aguarda a liberação do dinheiro pela instituição.
Nos últimos dias, o estoque de chocolate, leite condensado e farinha de trigo zerou. Sem ter como confeitar, atualmente sua única fonte de trabalho, Laianny também encara outro problema: a mãe-solo não tem com quem deixar os filhos Davi Anthony, 7, Ícaro Henrique, 5, e Nicolas Benício, 2, para poder vender seus bolos de pote e trufas nas ruas de Osasco (SP).
Desde que ficou desempregada, há três meses, a confeiteira perguntou para amigos e familiares se valeria a pena pegar o consignado. "Eu tenho medo de fazer o empréstimo e não conseguir pagar", confessa.
Diante dos questionamentos, ela se convenceu de que seria uma boa oportunidade para aumentar sua renda. Laianny afirma que o Auxílio Brasil de R$ 600 mal cobre a alimentação de seus filhos. A maior parte do pagamento vai em leite, fraldas e cereal infantil. O pai das crianças dá R$ 200 ao mês, que são usados para completar as compras de alimentos.
Ainda que receba o empréstimo, Laianny deseja mesmo conseguir um emprego formal. Ela tem pouca experiência no currículo, já que só trabalhou como caixa em pizzaria e atendente em um trailer, mas já projeta o que fazer caso seja contratada. "Eu vou continuar pagando o empréstimo, fazer os doces que conseguir e trabalhar."
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