Fatia de quem ganha até dois salários mínimos cai, mas ainda passa de 90%
A criação de vagas de emprego com pagamento de até dois salários mínimos (R$ 2.424) caiu entre 2021 e 2022, mas ainda passa de 90% do total. É a faixa que concentra mais abertura de vagas com carteira assinada. Entre janeiro e setembro deste ano, 92,44% das vagas criadas estão nessa faixa salarial. No mesmo período de 2021, eram 93,64%. A criação de vagas para quem ganha acima de 10 salários mínimos corresponde a 0,17% do total em 2022.
No geral, considerando todas as faixas de salário, a criação de vagas é menor do que em 2021. Os dados são do Ministério do Trabalho e Previdência e foram compilados a pedido do UOL.
Em 2021, foram criadas 2.345.010 vagas que pagavam até dois salários mínimos e, em 2022, foram criadas 1.985.328 vagas com os mesmos salários.
Por que a criação de vagas de salários mais baixos caiu? Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria, especializado em mercado de trabalho, estudos regionais e classes de renda, afirma que, no ano passado, o mercado de trabalho recuperou as vagas que foram mais prejudicadas pela pandemia, que são aquelas com atendimento ao público (como comércio e serviços) e que normalmente pagam salários mais baixos aos funcionários.
Em 2022, Assis afirma que existe uma recuperação tardia das vagas em setores que também foram prejudicados pela pandemia, mas que demoraram mais para se recompor, como as escolas, o turismo e bares e restaurantes.
Procurado pelo UOL, o Ministério do Trabalho e Previdência não respondeu até a conclusão deste texto.
Dados de setembro: O Ministério da Previdência e Trabalho divulgou os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de setembro nesta quarta-feira (26), que mostram que o país criou 278.085 empregos com carteira assinada em setembro.
Cresce número de vagas que pagam mais de 20 salários mínimos: O número de vagas que pagam mais de 20 salários mínimos subiu 5%, de 1.071 para 1.125.
Assis diz que essas vagas costumam ser beneficiadas pela retomada da atividade econômica e que isso pode justificar o aumento do número, mas pondera que é difícil ter certeza, já que o número representa uma parcela muito pequena dos trabalhadores com carteira assinada.
Essas vagas são aquelas que costumam ter mais facilidade de recuperação em momentos de melhora da atividade econômica e que são menos afetadas pelo cenário econômico ruim do que as pessoas que recebem menos.
Salários baixos são comuns no Brasil: Assis afirma que o mercado de trabalho brasileiro, historicamente, tem remunerações baixas, e que a pandemia piorou o cenário.
É um mercado que tem uma crônica questão de baixos salários, mas sabemos que a chegada da covid em 2020 deteriorou o mercado de trabalho, principalmente dos grupos de maior vulnerabilidade econômica.
Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria
Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de economia aplicada do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirma que a renda baixa está ligadA ao baixo nível de produtividade dos brasileiros e à falta de qualificação profissional.
Crise diminui salários: Em um cenário de desemprego alto, as pessoas ficam mais dispostas a voltar ao mercado de trabalho ganhando menos, o que justifica as quedas nos salários de contratação que foram vistas no começo deste ano.
Agora, o salário de contratação está aumentando, mas ainda não chegou ao nível pré-pandemia. O valor passou de R$ 1.892,44 em maio para R$ 1.949,84 em agosto, em três altas consecutivas. Em janeiro de 2020, antes da pandemia, era de R$ 2.115,82.
Barbosa Filho diz que a tendência é que o salário de contratação suba caso o desemprego continue em queda.
Correção do salário mínimo influencia: Barbosa Filho diz que o valor mais alto do salário mínimo também faz com que as pessoas fiquem concentradas nas faixas de renda mais baixas.
Hoje o cálculo do governo para corrigir o salário mínimo leva em consideração a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
Se o INPC de determinado ano ficou em 5%, por exemplo, o piso nacional do ano seguinte também será reajustado em 5%. Essa regra está em vigor desde 2019, primeiro ano de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência.
Qual a expectativa para 2023? Assis afirma que as projeções são que o mercado de trabalho tenha uma desaceleração na criação de vagas no final deste ano e começo de 2023.
Isso deve ser motivado pelo aumento da taxa básica de juros, que diminui a atividade econômica, e pelo esgotamento das vagas de emprego disponíveis. Neste ano, o mercado de trabalho ainda reflete as perdas de empregos formais da pandemia.
No próximo ano, não deve haver perda de vagas, mas a criação deve ser mais lenta do que neste ano.
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