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Ovos vão continuar caros em 2023, dizem especialistas; o que acontece?

Preço do ovo deve continuar em disparada pelo menos até o começo de abril, diz especialista - Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo/AE
Preço do ovo deve continuar em disparada pelo menos até o começo de abril, diz especialista Imagem: Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo/AE

Do UOL, em São Paulo

05/03/2023 04h00

O ovo, que subiu de preço por causa do aumento de consumo na pandemia e de fatores externos, deve continuar caro no Brasil em 2023.

A situação no Brasil é diferente do que acontece nos EUA na Inglaterra, atualmente castigados pela gripe aviária. Ainda existe o risco de a doença chegar por aqui, mas especialistas dizem que é remoto.

Os problemas brasileiros são outros: aumento da demanda acompanhado de baixa oferta e custo elevado de produção. Entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023, o preço de venda no atacado da caixa com 30 dúzias de ovos brancos subiu 28,6%, para R$ 174,89; e a caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos ficou 26,9% mais cara, chegando a R$ 198,82, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A Quaresma também é uma fonte de pressão no Brasil. Pela tradição católica, come-se menos carne nessa época, e os ovos são substitutos naturais. Isso fará aumentar os preços nas próximas semanas.

Mais de 70% do custo de produção de ovos é composto pelo milho e farelo de soja, utilizados para alimentar as galinhas. Thomas Peeters Kors, sócio da Granja Macaco, empresa familiar em Holambra (SP), afirma que a escalada de mais de 100% no preço de ambas as commodities, puxada pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, tem prejudicado a expansão do número de galinhas.

Se a ração sobe, todo mundo roda no vermelho. Muitos produtores, inclusive eu, chegaram a atrasar a recria [segunda fase da criação de aves], ficaram com o galpão vazio. Enquanto os grãos estiverem caros, o produtor terá pouca rentabilidade.
Thomas Peeters Kors, sócio de granja em Holambra

Altos custos causam queda na produção de ovos

Além das despesas com alimentação, o custo da embalagem é um peso a mais nas contas dos produtores, afirma o empresário. Isso fez com que produtores desistissem no negócio, o que resultou em uma queda significativa na produção de ovos em 2022.

O país teve uma produção de 52 bilhões de ovos no ano passado, queda de 5,9% em comparação com os 54,9 bilhões produzidos em 2021, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

A Mantiqueira Brasil, que investe na criação de galinhas livre de gaiolas, fez uma aquisição de granja e três centros de distribuição em 2022. O diretor comercial, Murilo Pinto, afirma que a oportunidade de crescer surgiu após a desistência de médios produtores, impactados com o alto custo de produção. A expectativa é aumentar de 14 milhões de aves para 15 milhões até o fim deste ano.

O médio produtor sofre mais do que o pequeno porque suas despesas são maiores e ele não tem um caixa robusto para enfrentar [essa adversidade].
Murilo Pinto

Sem queda no milho, preço do ovo também não cai

Murilo Pinto declara que o produtor brasileiro ainda será impactado pelos altos custos do milho e do farelo de soja que alimentam as galinhas. "O produtor precisa repor prejuízo e reequilibrar a oferta. Só assim se pode pensar em uma possível redução de preço", afirma.

O movimento natural é que a demanda caia levemente com o fim da Quaresma, em 6 de abril, de acordo com Juliana Ferraz, analista do mercado de ovos do Cepea.

Entretanto, os preços devem seguir altos ao longo de todo o ano. "A expectativa é que no acumulado do ano os preços vão ficar maiores, mas tudo vai depender da pré-disposição do consumidor em pagar mais pelos ovos."

O risco de uma possível crise causada pela gripe aviária é descartado pela ABPA. O presidente da entidade, Ricardo Santin, declara que o Brasil garante a biosseguridade na criação de galinhas. Ele também afirma que o país não sofrerá desabastecimento de ovos, qualquer que seja o cenário em 2023.

Comerciantes sentem redução de oferta

Vendedores de ovos já começam a sentir o impacto na queda de produção. Jairo dos Santos, que dirige um "carro do ovo" pelas ruas da zona leste de São Paulo, afirma que alguns tipos de ovos, como o vermelho e de codorna, estão em falta nas distribuidoras. O preço da caixa com 30 dúzias subiu de R$ 150 para R$ 186 em questão de semanas, diz ele. Nos supermercados da capital paulista, a oferta do produto não sofreu alterações.

Por causa do aumento do início deste ano, Santos teve de repassar o valor ao consumidor. Uma cartela com 30 ovos brancos grandes sai hoje por R$ 21 —já custou R$ 18 antes da virada para 2023. "O cliente reclama do preço e eu falo que sou obrigado a aumentar, senão nem compensa trabalhar na rua", lamenta.