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Rui Costa nega divergências com Haddad: 'Mais próximo, só se morar com ele'

O presidente Lula (PT) em reunião com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) no Palácio do Planalto - Sergio Lima / AFP
O presidente Lula (PT) em reunião com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) no Palácio do Planalto Imagem: Sergio Lima / AFP

Do UOL, em Brasília

22/03/2023 11h35Atualizada em 22/03/2023 13h46

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, negou hoje possíveis desavenças com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O que ele disse

  • Rui afirmou que tem "proximidade político-ideológica" com o colega. "Para ficar mais próximo, só se eu for morar com ele ou ele vier morar comigo", disse, em café da manhã com jornalistas.
  • Pessoas próximas à cúpula do Palácio do Planalto narram que os ministros têm entrado em embates discretos nos bastidores. As desavenças relatadas teriam se intensificado nos últimos dias durante a discussão sobre o arcabouço fiscal, formulado pela Fazenda e apresentado diretamente pela equipe econômica ao presidente Lula (PT), sem a Casa Civil.
  • Rui disse que, na Casa Civil, seu papel é de coordenar, mas que, no caso de um projeto aguardado como este da nova regra fiscal, considera natural que o colega vá direto ao presidente.
  • O ministro chamou ainda a disputa relatada nos bastidores de "invenção". "Gosto de trabalhar, de ver o resultado do nosso trabalho. Se tem algo que eu não gosto, é fofoca. Acho que não contribui", disse.

Alguém criou essa tese de que há uma polêmica, uma disputa, entre mim e o ministro Haddad, e fica isso há semanas. Eu até brinquei com ele nesta semana: 'Acho que a gente vai ter de tomar café da manhã junto, almoçar junto, quem sabe morar junto, para ver se para com isso'. Porque não é possível..."
Rui Costa, sobre relação com Haddad

Os ministros são dois dos principais nomes para uma possível sucessão de Lula em 2026, caso o presidente cumpra a promessa de não concorrer à reeleição.

  • Ex-governador da Bahia por oito anos, Costa é tido como um dos homens mais leais a Lula --característica que o presidente valoriza muito. Ele ganhou o cargo de principal assessor do presidente, na Casa Civil e é considerado como alguém de "perfil técnico", apelidado pelo presidente de "Dilma de calças". Além disso, conseguiu fazer sucessor no estado que deu mais votos ao petista no país.
  • Já Haddad é o principal pupilo do presidente. Candidato em 2018 após Lula ser preso, também é tido como uma figura leal e próxima de Lula. Foi indicado a um dos cargos mais disputados -- e com maior responsabilidade -- do governo e é elogiado pelo chefe tanto publicamente quanto em reuniões particulares.

O ministro também amenizou o atraso da apresentação do arcabouço fiscal para depois da viagem do presidente à China, na semana que vem. Tanto Lula quanto Haddad tinham afirmado que o plano era apresentar a proposta ainda nesta semana, antes da viagem.

Segundo ele, o projeto já está pronto, mas faltam acertar alguns detalhes. Por isso, não é preciso ter pressa. "Às vezes a gente engasga com o farelo do pão, não com o pão inteiro".

Se você deixa a pressa lhe conduzir, pode pecar na implementação. Cautela, no arcabouço fiscal, é perfeitamente compreensível. Uma pressa exagerada para ganhar dez dias no envio pode significar atraso na aprovação."
Rui Costa

Arcabouço fiscal e críticas ao BC

  • Na entrevista, Rui Costa também criticou a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação à manutenção da taxa básica de juros em patamar alto --atualmente em 13,75%--, classificando como "um desserviço" para a população brasileira.
  • Campos Neto tem sido alvo de críticas por parte do governo federal desde o início do mandato de Lula.
  • A cúpula do governo federal defende que o BC reduza os juros para estimular a economia. A taxa básica de juros (Selic) é um dos instrumentos da política econômica para controlar a inflação.
  • O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne nesta semana e decide hoje se mantém, eleva ou reduz a taxa básica de juros.
Ele [Campos Neto] não precisa de um anúncio de novo marco fiscal para rever isso. Me desculpe, não precisa."
Rui Costa, ministro da Casa Civil

A proposta já está pronta

A proposta da Fazenda para a nova regra fiscal já está pronta e sendo apresentada por Haddad a parlamentares.

Na terça (21), o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse a interlocutores que Haddad pretendia conversar com senadores sobre o tema na volta da China.

No governo está pacificada a ideia de que Haddad deve debater a proposta com os líderes políticos antes de o governo enviar a medida para ser votada no Congresso. O objetivo é que o texto vá para análise dos parlamentares depois de já ter sido debatido em reuniões privadas

O que é o novo marco fiscal?

O novo marco fiscal (chamado também de "arcabouço" ou "âncora" fiscal) altera as regras para o controle das contas públicas do país e é um substituto ao teto de gastos. A medida vem sendo discutida pelos economistas ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde a campanha presidencial.