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Copom decide juros em meio a ambiente de pressão e pouca margem para corte
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O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decide nesta quarta (22) se mantém, eleva ou reduz a taxa básica de juros, hoje em 13,75% (os mais altos juros reais do mundo), em um ambiente de pressão extrema e pouca margem para uma queda nesta reunião.
A pressão vem de todos os lados:
- Política: desde que Lula atacou os juros altos, o vice-presidente, ministros, deputados e senadores passaram a criticar a taxa básica de juros definida pelo BC. Ontem Lula disse que não vai cessar as críticas;
- Popular: Centrais sindicais e movimentos ligados ao PT convocaram protestos em pelo menos dez capitais contra alta taxa de juros e pela saída de Campos Neto, intensificando a artilharia do partido contra o presidente independente do BC;
- Da inflação: apesar da queda do IPCA nos últimos 12 meses, projeções mostram que a inflação está resiliente;
- Do cenário externo: a quebra de bancos no exterior adiciona riscos ao sistema financeiro, pressiona por uma redução de juros nos EUA e pode resultar em desvalorização do real, o que eleva os preços por aqui.
É praticamente consenso entre economistas, a expectativa de que o Comitê irá manter as taxas no patamar atual, mas o governo e parte do mercado esperam que o comunicado da decisão traga uma sinalização de que o ciclo de corte de juros será antecipado para maio ou junho.
Os integrantes do comitê usam modelos, como o Samba, para definir a taxa básica de juros da economia e no comunicado e na ata explicam a decisão e sinalizam quais serão próximos passos. Causou desconforto no governo no último comunicado o seguinte trecho: "A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária".
Foi em função desse "particularmente incerta", que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou antecipar o desenho do novo arcabouço fiscal para antes da reunião do Copom, o que não aconteceu. A nova âncora fiscal será conhecida apenas após a viagem de Lula e ministros, incluindo Haddad, à China.
Inflação resiliente
O boletim Focus desta segunda-feira (20) trouxe uma tímida melhora na projeção de inflação para este ano (de 5,96% para 5,95%). Olhando apenas para isso, a notícia positiva pode levar a uma conclusão que há mais espaço para corte de juros pelo Copom, mas analisando o quadro geral, veremos que não.
O BC não se baseia no Focus para definir a taxa básica de juros. Mas o boletim traz projeções do mercado, que dão uma boa temperatura da economia e costumam ser alinhadas com as projeções feitas pelo BC (divulgadas de forma trimestral no relatório de inflação, o próximo relatório sai no dia 30 de março).
Além da melhora para 2023 ser muito tímida, o Focus traz uma piora nas projeções do IPCA (índice de inflação) para os próximos anos: 2024 (4,11%), 2025 (3,90%) e 2026 (4%).
A inflação dos preços administrados (bens e serviços com reajustes definidos por contrato ou regulados, como luz, gasolina e plano de saúde) também veio pressionada, saltando de 9,13% para 9,36% para 2023.
Se as projeções dos economistas de mercado que participam do Focus se confirmarem, a inflação medida pelo IPCA, portanto, deve ultrapassar bem o teto da meta em 2023 (teto de 4,75%), e ficar acima do centro da meta em 2024 (centro 3%, teto de 4,5%) e 2025 (centro 3%, teto de 4,5%).
Os dados sinalizam que, nas projeções do mercado, a inflação brasileira não deu trégua e se mantém resiliente. E sendo o controle da inflação a principal função do Banco Central, o espaço para sinalizar um corte de juros em maio no comunicado do Copom, como deseja o governo Lula e prevê parte do mercado, continua apertado.
Se o Copom não sinalizar o corte de juros em maio, a pressão política sobre o presidente Roberto Campos Neto deve aumentar?
Tudo indica que sim. O PT divulgou as manifestações populares contra os juros no seu site. Os ministros devem manter as críticas e elas devem se intensificar no Congresso.
No dia 4 de abril, o presidente do Banco Central será ouvido no Senado, e será questionado pelos senadores sobre os juros altos, sobre o erro na divulgação do câmbio e também os modelos usados para a definição da Selic.
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