Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Ata do Copom: 5 pontos para entender a decisão do BC sobre a Selic a 13,75%

Ata do Copom destacou deterioração global e piora das expectativas de inflação no país - Getty Images/iStockphoto
Ata do Copom destacou deterioração global e piora das expectativas de inflação no país Imagem: Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

28/03/2023 10h14Atualizada em 28/03/2023 15h20

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulgou hoje a ata da reunião em que decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. Veja trechos do documento e a repercussão entre analistas do mercado.

1 - BC diz que situação no mundo piorou

"A sinalização majoritária entre as autoridades monetárias é de um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias, o que requer maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de países emergentes", diz a ata

Na visão do BC, os juros vão continuar altos no mundo por um bom tempo por causa da inflação ainda elevada. A ata cita a crise envolvendo bancos nos EUA e na Europa, diz que a turbulência nos mercados requer monitoramento e que o ambiente externo segue marcado pela previsão de baixo crescimento.

2 - Inflação é alimentada pelas previsões

"À medida que se projeta inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim, há uma maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas", afirma a ata.

A inflação continua elevada no país e a incerteza em torno das projeções atualmente é maior do que o usual, segundo o BC. A ata lembra que as expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela última pesquisa Focus subiram e encontram-se em 6% e 4,1%, respectivamente, acima da meta.

3 - Regra de gastos pode facilitar queda da inflação

"O Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos", diz a ata.

O comitê reconhece o compromisso do governo Lula com a apresentação de uma nova regra de controle das contas públicas. Mas diz que a regra deve funcionar de verdade ("arcabouço sólido e crível") e que seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação da proposta. Também destaca que não há relação direta entre redução de inflação e a nova regra de gastos públicos. Isso porque a inflação é influenciada por outros fatores, como expectativa do mercado, projeções da dívida pública e preços em geral.

4 - Incertezas justificam decisão de manter juros altos

"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", afirma a ata.

O BC disse que a decisão de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano tem o objetivo reduzir a inflação para dentro da meta até 2024. A projeção do Copom para o IPCA de 2023, em seu cenário de referência, está em 5,8%. Para 2024, a projeção para o IPCA está em 3,6%.

5 - BC quer esfriar economia para cortar inflação

"O Copom segue avaliando que a desaceleração econômica em curso é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas. Por fim, notou-se que as perspectivas de crescimento econômico não mudaram significativamente no período recente", afirma a ata.

A desaceleração da atividade econômica e o maior aperto nas condições para a concessão de crédito seguem dentro do esperado, segundo o BC. A ata destaca que perspectivas de crescimento do PIB não mudaram significativamente no período recente e que a desaceleração econômica é necessária para garantir a tarefa de reduzir a inflação para a meta.

Ata mantém tom duro, mas faz acenos, dizem analistas

A ata do Copom serviu para atenuar, ainda que marginalmente, o tom duro do comunicado da semana passada. Naturalmente, ele não poderia recuar muito da postura recente, mais conservadora, uma vez que poderia prejudicar sua própria credibilidade, mas a ata foi sim um aceno, houve um nítido reconhecimento do trabalho realizado pela Fazenda
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research

A ata manteve o tom duro, mas fez um aceno importante em reconhecer o esforço do governo, e pede paciência e cautela. O Copom fez um esforço grande em ser didático e claro sobre o que está impactando sua decisão de manter as taxas elevadas, que é principalmente o papel das expectativas de inflação
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico

O Copom deixou claro que não alterará o plano de voo da política monetária enquanto não houver uma sinalização clara de ancoragem das expectativas em horizontes mais longos e uma redução do risco fiscal que passa por um novo arcabouço fiscal crível
Gustavo Sung, economista-chefe Suno Reserach

A diretoria do BC reforça a perspectiva que vai iniciar a queda da Selic se e somente se duas coisas acontecerem simultaneamente, a saber: queda mais forte da inflação corrente, e, ancoragem das expectativas de inflação. Acredito que estas condições não estarão presentes de maneira "clara" nas reuniões de maio e junho, logo o início de algum afrouxamento monetário deve ocorrer apenas no segundo semestre
André Perfeito, economista