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Lembra do Mappin? História da loja vai do século 18 a prisão de dono

Fachada do Mappin na praça Ramos, em São Paulo, em 1997 - Paulo Giandália/Folhapress
Fachada do Mappin na praça Ramos, em São Paulo, em 1997 Imagem: Paulo Giandália/Folhapress

Lucas Baldez

Colaboração para o UOL

30/05/2023 04h00Atualizada em 30/05/2023 19h52

Se você precisar de um eletrodoméstico novo, qual é a primeira loja que vem à cabeça? Na década de 1970 e 1980, certamente muitos paulistas correriam ao Mappin, que vivia seus anos dourados.

O Mappin escreveu sua história na cidade de São Paulo desde a década de 1910, como uma loja de departamentos que foi referência, seja pela variedade de produtos — que iam muito além dos eletrodomésticos — ou por seus comerciais, com jingles inesquecíveis para os paulistanos mais antigos. como o que se vê abaixo, lembrando que as lojas fechavam à meia-noite.

Auge e queda: quem ficou com o Mappin?

Em 1983, o Mappin foi considerado a empresa do ano e, em 1984, foi eleito pela revista Exame como a melhor empresa de varejo dos dez anos anteriores. Também em 1984, uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup apontou que 97% dos moradores da capital paulista conheciam a empresa e que 67% já haviam comprado em suas lojas.

A década de 1990 foi, ao mesmo tempo, a de maior expansão da empresa e a da derrocada. Em 1991, o grupo Mappin comprou a Sears, outra importante loja da época, adquirindo novas cinco unidades em shoppings, sendo duas em Campinas.

Em 1995, aparentemente em franca expansão, o Mappin disponibilizava mais de 85 mil itens em suas diversas seções, como eletrodomésticos, eletrônicos, vestuário, móveis, esportes e lazer, entre outras.

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Mappin. São Paulo (SP), 1961
Imagem: Folhapress

Apesar do pedido de falência e de ser extinta como loja em 1999, a marca Mappin permaneceu e foi vendida só em 2010, para a Rede Marabraz, em leilão público. A compra foi efetuada por R$ 5 milhões, valor 60% menor que a avaliação judicial, fixada em R$ 12 milhões.

Os novos proprietários reativaram a marca em junho de 2019, iniciando as vendas por e-commerce, e prometeram reavivar lojas físicas no ano seguinte, mas o plano foi adiado devido à pandemia e até hoje não se concretizou.

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Fachada da loja de departamentos Mappin no centro de São Paulo
Imagem: Marcio Arruda/Acervo UH/Folhapress

Começo de tudo: 1775, na Inglaterra

O Mappin Stores foi fundado em São Paulo em 29 de novembro de 1913. Mas a história da loja tem origem na Inglaterra, mais de um século antes. A Mappin & Webb surgiu na cidade Sheffield, em 1775, quando duas tradicionais famílias de comerciantes se juntaram para criar uma loja de produtos sofisticados.

A loja se expandiu e chegou a Londres, de onde cruzou o Oceano Atlântico, rumando primeiro a Buenos Aires, na Argentina, nos primeiros anos do século 20, e depois ao Brasil.

Primeiro, os irmãos Walter e Hebert Mappin fundaram duas filiais da Mappin & Webb, em 1912: a primeira na então capital federal do Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor, e a segunda em São Paulo, na Rua 15 de Novembro. As especialidades da loja eram produtos finos, cristais, pratarias, relógios, joias e porcelanas importadas.

No ano seguinte, surgiu o Mappin Stores, na capital paulista. A loja funcionava no mesmo endereço da Mappin & Webb, no centro de São Paulo, mas legalmente as empresas estavam desvinculadas. Seis anos depois, em 1919, o Mappin Stores se mudou para a Praça do Patriarca. Na época da chegada da loja ao Brasil, a cidade de São Paulo tinha apenas pouco mais de 300 mil habitantes, bem distante ainda da megalópole atual.

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Cliente escolhe TV no setor de televisores nas lojas Mappin, em São Paulo
Imagem: Cláudia Guimarães/Folhapress

Em seus primeiros anos, o Mappin Stores tinha como seu público-alvo a elite paulistana, priorizando vestimentas para mulheres e crianças, cortinas e artigos de armarinhos. Seguindo as tradições inglesas, a loja servia chá da tarde, passando a funcionar também como ponto de encontro das "senhoras" da sociedade da época. Em 1914, a loja sediou em suas dependências a primeira exposição de arte da pintora Anita Malfatti.

A crise econômica mundial de 1929 fez a loja se reinventar para sobreviver. Com as dificuldades financeiras da elite cafeicultora, o Mappin voltou seus olhos para o grande público.

Pioneira no país em utilizar vitrines para expor seus produtos, a loja passou a exibir também os preços para quem olha de fora, com o objetivo de atrair mais clientes. Além disso, o Mappin também foi a precursora do crediário na cidade, oferecendo a possibilidade de dividir e comprar a prazo.

Com sua expansão, o Mappin chegou ao seu famoso edifício na Praça Ramos de Azevedo em 1939, onde passou a funcionar quase como um shopping center. No local, os departamentos — de roupas, eletrodomésticos, brinquedos etc — eram distribuídos pelos diversos andares do prédio, conectados por elevadores.

Os irmãos Mappin haviam deixado o negócio, adquirido pelo também inglês Alfred Sim, que buscou ampliar a popularização da loja e torná-la mais nacional. A empresa mudou seu nome oficial de Mappin Stores para Casa Anglo Brasileira S.A., mantendo, porém, o nome comercial de Mappin. Os Mappin chegaram a reivindicar na Justiça brasileira a proibição do uso do nome, mas não obtiveram êxito.

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Vista interna do Mappin em São Paulo, em 1996
Imagem: Renata Jubran/Estadão Conteúdo

Como a empresa faliu -- e a Mesbla entrou no negócio

Ao final de 1995, o Mappin anunciou o maior prejuízo de sua história, de quase R$ 20 milhões. Herdeira do negócio — comprado em 1950 por Alberto Alves Filho —, a empresária Sônia Cosette Alves acabou por vender a loja ao também empresário Ricardo Mansur por R$ 25 milhões, em 1996.

Ex-gestor do banco Crefisul, Mansur pretendia entrar de vez no segmento do varejo e, no ano seguinte, comprou a também extinta Mesbla — outra gigante das lojas de departamento. Seu objetivo era mesclar as empresas e expandir o negócio em filiais pelo país, mas a ideia não saiu do papel.

Prisão de Mansur

Em 1999, o Mappin acumulava 300 pedidos de falência e uma dívida de R$ 1,2 bilhão. Naquele ano, o Mappin fechou as portas, deixando cerca de 2 mil funcionários desempregados, com direito a manifestação na rua, e milhões de paulistanos com saudades de uma era que chegava ao fim. Mansur foi preso em janeiro de 2020, aos 71 anos, condenado por gestão fraudulenta.

Mansur foi condenado em 2011 pelo juiz Marcelo Costenaro Cavali, então da 6ª Vara, a 6 anos de reclusão em regime semiaberto por crime de gestão temerária de instituição financeira, no caso a Mappin Previdência Privada (MPP). A Procuradoria da República apontou nove operações que caracterizaram concentração ilegal do capital da MPP em companhia de Mansur.

Segundo a denúncia, a concentração de investimentos em empresas do mesmo grupo "agravou-se a partir da gestão Mansur". Na sentença, o juiz Cavali destacou. "Era o réu Mansur quem detinha o domínio do fato, o domínio das ações."