Temporais no RS prejudicam lavouras, e preço do arroz deve subir

Os temporais no Rio Grande do Sul, que já deixaram 38 mortos em todo o estado, devem trazer novas perdas severas na agricultura. O estado, que é o principal produtor de arroz do Brasil, tem sofrido com o excesso de chuva que cai sobre as lavouras do cereal nas últimas duas semanas, segundo especialistas.

Qual será o impacto

O Rio Grande do Sul produz 70% de todo o arroz no Brasil. De acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), os produtores do estado devem colher 7,48 milhões de toneladas ao final desta safra. Mas essa previsão foi divulgada antes do evento climático.

Esse número provavelmente será revisado para baixo em breve, alertam especialistas. O Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz) afirma ser difícil calcular os prejuízos no momento porque as tempestades continuam.

A safra deste ano deveria ter sido encerrada em abril, mas as chuvas atrapalharam. O Irga afirmou nesta sexta-feira (3) que 82,8% da colheita foi concluída. Ainda restam aproximadamente 150 mil hectares para serem colhidos. A região central, que inclui as cidades de Santa Maria, Agudo e Dona Francisca, é a mais afetada pelas enchentes e igualmente a mais atrasada, com 62% da área colhida.

A sequência de atrasos traz outras consequências graves no campo. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Ariano Magalhães Júnior, diz que o arroz colhido fora de época tem qualidade inferior. Os grãos crescem durante um período mais frio e com menos sol. Além da provável redução na safra, mais uma perda em produtividade é esperada.

A produtividade do arroz no estado estava estimada em 8.600 kg por hectare, mas eu imagino que agora vai ter uma diminuição, talvez algo em torno de 8.200 kg a 8.300 kg por hectare. Isso deve trazer uma perda de 5% a 7% na safra.
Ariano Magalhães Júnior, pesquisador da Embrapa Clima Temperado

O mesmo aconteceu no ano passado. Em 2023, os produtores do estado atrasaram o plantio das sementes por causa das tempestades que caíram a partir do segundo semestre.

O arroz pode subir de preço

Vista de área de plantio de soja e arroz no Rio Grande do Sul
Vista de área de plantio de soja e arroz no Rio Grande do Sul Imagem: Divulgação/Fagner Almeida/Federarroz
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O arroz deve ficar mais caro com o novo revés no campo. A diretora executiva da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), Andressa Silva, diz que o preço do arroz deve subir para o consumidor.

Nos últimos 12 meses, o arroz acumulou alta de 28,39%. São dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o principal medidor de inflação do país.

Os indicadores estão em alta nas últimas semanas. O preço pago ao produtor de arroz nesta quinta-feira (2) ficou em torno de R$ 106,67 pela saca de 50 kg, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Desde março, o aumento é de 7,5%.

O abastecimento também é uma grande questão para indústria. A diretora da Abiarroz diz que o bloqueio de rodovias por causa das chuvas é um problema a mais uma vez que o transporte do arroz é feito por via terrestre. Ou seja, a logística impõe mais uma dificuldade para a manutenção de preços.

Ainda não houve repasse da indústria para o varejo. Mais cedo ou mais tarde vai chegar porque vamos avaliar a condição de escoamento do arroz das regiões produtoras para as regiões consumidoras.
Andressa Silva, diretora executiva da Abiarroz

'Tristeza define'

Pequenos produtores estão entre os mais afetados. O presidente da Federarroz (Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul), Alexandre Velho, diz que os trabalhadores rurais da região central do estado certamente terão prejuízos que são incalculáveis no momento.

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O cenário é especialmente incômodo por se tratar de produtores monocultores. Eles contam apenas com a produção de arroz como fonte de renda e dificilmente teriam recursos financeiros para migrarem de área. À frente da associação, Velho afirma que tem recebido vídeos de lavouras alagadas com frequência.

A palavra que define é tristeza. É triste porque a maioria é de pequenos produtores que depende disso. São produtores que já tiveram problema com plantio no final do ano passado e agora enfrentam essa situação.
Alexandre Velho, presidente da Federarroz

Ele também acredita que o preço do arroz deve subir muito em breve. No entanto, o presidente da Federarroz descarta que a quebra de safra esvazie as prateleiras dos supermercados. Em uma primeira avaliação, ele sugere que as exportações vão aumentar e as importações, por sua vez, vão cair.

Arroz ou soja: o que vale mais?

A cultura do arroz tem literalmente perdido espaço no Brasil. Em 2023, a área total foi de 1,4 milhão de hectares, a menor em 47 anos, aponta a Conab. O agricultor gaúcho tem preferido migrar para a soja, cuja rentabilidade é maior. No ano passado, o valor bruto da produção da oleaginosa foi de R$ 38,4 bilhões, enquanto o do cereal foi de R$ 11,4 bilhões.

O produtor de soja também acendeu um alerta vermelho. O atraso plantio das sementes, também causado pelos efeitos climáticos, também deve dar prejuízos para a economia do Rio Grande do Sul, segundo maior produtor da oleaginosa. "A lavoura de soja em terras baixas [áreas de relevo plano] na zona sul ainda tem cerca de 200 mil hectares para serem colhidos. Vamos ter bastante prejuízo nessa região."

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Mesmo com as adversidades, o produtor de arroz deve permanecer no Rio Grande do Sul. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado acredita que o estado oferece o melhor clima para a cultura—que combina chuva e sol na medida certa, sem considerar os excessos—, além de sua produtividade e qualidade serem superiores às do cereal plantado em estados como Mato Grosso e Tocantins.

Por esses motivos, eu acredito que o Rio Grande do Sul vai continuar por muitos anos como o maior produtor de arroz do Brasil.
Ariano Magalhães Júnior, pesquisador da Embrapa Clima Temperado

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