Decisão do Copom era esperada, mas mercado discorda sobre tom de comunicado

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano era amplamente esperada pelo mercado. A maior expectativa girava em torno do tom do comunicado, mas não houve consenso entre os analistas: alguns consideraram que o comitê adotou um discurso mais duro, enquanto outros entendem que o texto veio em linha ou até mais leve do que o anterior.

O que dizem os analistas

Mercado estava atento ao tom do comunicado, mas não há consenso entre os analistas. Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, afirma que o comitê não trouxe uma sinalização explicita de uma possível alta na taxa de juros e que o tom foi mais agressivo. Gala destaca a frase que diz que o Copom vai ficar mais vigilante o que, para ele, pode ser lido como subir juros.

Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, afirma que o tom veio "mais duro ditando a piora nas expectativas de inflação". Para Vieira, o cenário continua desafiador ao BC com as expectativas de inflação e a desvalorização do real frente ao dólar. "O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", afirma Vieira.

Incertezas no Brasil fizeram comunicado ser mais duro. É o que diz Marcos Moreira, CFA e sócio da WMS Capital. "Dado todo o aumento das incertezas que nós tivemos no cenário doméstico ao longo das últimas semanas, o cenário base nosso se mantém, nós não vemos com clareza um aumento na taxa de juros, mas em linha com o comunicado que os juros devem permanecer em patamares mais restritivos e por mais tempo"

Para Leonardo Costa, economista do ASA, comunicado veio mais brando do que o esperado. Havia especulações de que o comitê poderia sinalizar um aumento na taxa de juros em reuniões futuras, o que não aconteceu.

Tom do comunicado foi parecido com o anterior, para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter. Ela diz que o colegiado manteve um tom de cautela, sinalizando uma deterioração nas expectativas de inflação. "Em geral o comunicado foi semelhante e indica que deve manter a Selic por um patamar restritivo mais prolongado. para convergir para a meta", afirma Vitória.

Copom inclui um novo risco de alta da inflação. Helena Veronese, economista-chefe B.Side Investimentos, afirma que a novidade o acréscimo de políticas econômicas internas e externas com impacto inflacionário, "por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais elevada". Para Veronese, o comunicado trouxe um tom mais duro do que o anterior.

Impactos dos juros na economia

A Selic é chamada de taxa "básica" de juros. Isto porque serve como referência para outros juros do mercado, como os cobrados em empréstimos e financiamentos. Juros menores deixam o crédito mais barato, favorecendo o consumo; quando estão mais altos, o efeito é o contrário.

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Os juros também afetam a geração de empregos. Quando a taxa está alta, o custo de operação de uma empresa é maior, o que desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários ficam mais dispostos a tomar riscos e crédito para crescer e, consequentemente, gerar empregos.

A Selic influencia ainda nos investimentos financeiros. Com juros baixos, as aplicações de risco, como ações, tendem a ser mais buscadas. Os juros altos favorecem produtos de renda fixa, como títulos do Tesouro, CDB e LCI.

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