Baixar preços? Fiscais do Sarney e planos Collor não conseguiram; relembre

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva estuda medidas para baixar os preços dos alimentos, e já negou a possibilidade de uma intervenção artificial nos preços. Ainda assim, o tema trouxe à memória dos brasileiros a figura dos fiscais do Sarney, pessoas que iam ao supermercado na década de 1980 fiscalizar se os estabelecimentos haviam aumentado os preços dos produtos.

Relembre momentos da história brasileira em que o governo tentou segurar os preços para combater a inflação.

Plano Cruzado

O Plano Cruzado foi decretado em fevereiro de 1986, no governo de José Sarney. Foi uma espécie de irmão mais velho mal-sucedido do Plano Real. Na época, a moeda era o cruzeiro (Cr$) e a inflação chegava a 235% ao ano.

O governo mudou a moeda para cruzado (Cz$) e cortou três zeros. Também houve aumento de salários e congelamento de preços de alimentos, combustíveis, produtos de higiene e limpeza, e de serviços. O câmbio também foi congelado.

Fiscais do Sarney

Com o Plano Cruzado foi criada a tabela da Sunab. Elaborada pela Superintendência Nacional de Abastecimento, ela era publicada nos jornais e fixada nos supermercados, mostrando quanto cada item deveria custar.

Uma campanha do governo convocou a população a verificar se os preços estavam sendo respeitados. Com a tabela em mãos, as pessoas checavam se os estabelecimentos estavam seguindo os preços determinados. Surgia, assim, a figura dos "fiscais do Sarney". Descumpriu a tabela? A Sunab vinha e fechava o estabelecimento.

O congelamento funcionou por um tempo. O poder de compra e as condições de vida dos brasileiros melhoraram. A popularidade de Sarney cresceu. Mas a solução não durou muito.

A demanda por produtos cresceu e os produtores não queriam produzir mais com aqueles preços. Muitas vezes, eles tinham que vender abaixo do custo para obedecer a tabela da Sunab. Com isso, começou a haver escassez de produtos, em especial alimentos. Houve filas e até racionamento.

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Plano Cruzado 2

Depois de nove meses, nascia um novo plano: o Cruzado 2. Os preços de alguns produtos e serviços foram descongelados e houve também aumento de impostos para cobrir os déficits nas contas do governo.

O câmbio congelado favoreceu as importações e fez com que as reservas internacionais caíssem rapidamente. Em fevereiro de 1987, o Brasil declarou moratória da dívida externa, suspendendo o pagamento dos juros por tempo indeterminado. Em dezembro daquele ano, a inflação mensal chegou novamente aos dois dígitos.

Planos Bresser e Verão

O Plano Bresser, lançado em 1987, trouxe um novo congelamento de preços. Também desvalorizou a taxa de câmbio, a fim de fortalecer as reservas internacionais. A inflação caiu. Mas logo voltou a subir, porque o congelamento de preços não era respeitado.

O Plano Verão veio em 1989 e mudou novamente a moeda. Foi-se o cruzado e veio o cruzado novo (NCz$), com corte de três zeros. Mais uma vez o governo congelou preços. A inflação caiu por um tempo, mas depois voltou a subir. A inflação anual em 1989 chegou à marca impressionante de 1.972,91%.

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Planos Collor I e II

Veio o Plano Collor, com o confisco da poupança. O plano foi implementado em 1990, logo após a posse de Fernando Collor como presidente da República. Ele determinou o confisco da poupança e dos depósitos da população. Estavam liberadas apenas retiradas de até NCz$ 50 mil. A moeda voltou a se chamar cruzeiro.

Preços e salários foram congelados. O governo abriu o mercado brasileiro para o comércio internacional, flexibilizou o câmbio e reduziu a máquina pública. Mas o resultado não foi positivo. O país entrou em uma recessão severa e não conseguiu conter a inflação, que chegou a 1.621% ao ano em 1990.

No Plano Collor 2, mais uma vez, preços e salários foram congelados. Anunciado em 1991, o plano só conseguiu conter a inflação por um período curto. Em setembro de 1992, Collor sofreu impeachment.

A inflação dos alimentos hoje

O preço dos alimentos teve inflação de 8,23% em 2024. A alta veio após queda de 0,52% em 2023. Os dados são do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Na média geral, o IPCA fechou o acumulado de 2024 com alta de 4,83%, acima do teto da meta de inflação para o ano, que era de 4,5%.

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A alta de preços dos alimentos está associada a eventos climáticos. Em 2024, o Brasil teve forte seca em diferentes regiões. Também enfrentou enchentes históricas no Rio Grande do Sul.

O dólar alto também contribuiu para o aumento dos preços. Além de encarecer parte dos produtos, a moeda americana mais cara estimulou as exportações de itens como as carnes.

As medidas estudadas pelo governo

O governo disse que não fará intervenção artificial nos preços. Estão em análise uma série de medidas propostas pelo setor de supermercados, que incluem redução do custo das transações eletrônicas, antecipação da entrada em vigor da nova cesta básica, venda de remédio nos supermercados e redução do desperdício.

As propostas em análise geraram atrito com farmácias e gestoras de vale-refeição. As sugestões feitas ao governo pelo setor de supermercados colocaram o segmento em rota de colisão com as farmácias e as administradoras de benefícios de vale-refeição, que se veem ameaçadas pelas propostas apresentadas.

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