Covid-19: Fabricantes de aviões desaceleram planos e focam em sobrevivência
Fabricantes de aviões estão reduzindo drasticamente o trabalho em novos projetos para economizar recursos, adotando estratégia de sobrevivência a uma crise que deve ter repercussões ao longo desta década, afirmaram fontes na indústria.
As gigantes do setor Airbus e Boeing devem enfatizar prioridades imediatas sobre planos de longo prazo quando divulgarem seus resultados financeiros na quarta-feira, no momento em que as viagens de avião foram drasticamente reduzidas por causa das medidas de confinamento contra o coronavírus.
A tendência foi ressaltada pela decisão da Boeing de desistir no final de semana de seguir com o processo de compra da divisão de aviação comercial da Embraer, um negócio de 4,2 bilhões de dólares que virou alvo de uma ação de arbitragem aberta pela companhia brasileira.
A Boeing já tinha congelado em janeiro planos de desenvolver um par de jatos para substituir os modelos 757 e 767, conhecidos como Programa Novo Avião de Médio Porte (NMA, na sigla em inglês), enquanto se concentra em tentar fazer o 737 MAX voltar ao serviço.
Desde então, a Boeing tem procurado separar o programa das duas aeronaves NMA em um avião no estilo do 757, enquanto estuda uma atualização mais modesta do 767, afirmam fontes.
O programa abriria caminho para um sucessor do MAX em um projeto embrionário conhecido como Futuro Avião Pequeno (FSA).
"Tudo do NMA, FSA e por aí vai foi congelado por enquanto", disse uma fonte com conhecimento do assunto.
Outros projetos que também devem ser deixados em segundo plano incluem um plano de dar ao jato 767 novas asas e motores, prolongando a vida do modelo.
A Flightglobal publicou em outubro que a Boeing estava negociando com a General Electric sobre um "767-X" com novos motores. Mas fontes próximas do assunto disseram que a Boeing estava estudando um plano maior de dar ao modelo novas asas também.
A Boeing não comentou sobre projetos individuais, mas negou qualquer interrupção de planos.
"Continuamos a olhar para as futuras necessidades do mercado e a investir em pesquisa e desenvolvimento", disse um porta-voz da companhia norte-americana.
O analista Scott Hamilton, da Leeham News, afirmou em relatório que a crise do coronavírus vai "inverter completamente" as estratégias de produtos.
Desde que a Boeing entregou o último 767 de passageiros em 2014, o modelo ganhou foi relegado a tarefas de transporte de carga e precisaria ser modificado para cumprir restrições de emissões de poluentes previstas para 2028.
757-PLUS
Um substituto para o 757 enfrentaria fortes vendas do Airbus A321 e permitiria à Boeing ser pioneira em futuros sistemas necessários para jatos pequenos e médios, especialmente cockpits.
A Boeing parou de fabricar o 757, com cerca de 240 lugares, em 2004. Qualquer substituto do avião teria alcance ligeiramente maior e mais assentos, algo que uma fonte chamou de "757-Plus".
Na Airbus, o trabalho continua no A321XLR, um modelo de longo alcance da família de aeronaves de menor porte mais vendida da companhia europeia.
A companhia desistiu de trabalhar em um protótipo híbrido-elétrico que estava desenvolvendo com a Rolls-Royce para atender uma futura demanda por aviões sem emissões de carbono, chamado de E-Fan-X. E o presidente-executivo da companhia, Guillaume Faury, está cortando uma série de outros projetos herdados de seu predecessor, afirmam fontes.
Faury tem dito que a Airbus continua comprometida em trabalhar em aeronaves "verdes", mas em um ritmo mais lento por causa da crise do coronavírus.
Também na geladeira ficaram planos confidenciais para versões cargueiras do A330neo ou do A350, disseram fontes.
Um porta-voz do grupo europeu afirmou que a Airbus está sempre buscando novos conceitos baseados em plataformas existentes, mas que ainda é prematuro especular sobre as oportunidades futuras para cargueiros da Airbus.
Analistas afirmam que a atualização 777X do mini-jumbo da Boeing 777, que teve um primeiro voo em janeiro, também pode sofrer adiamentos por causa da queda na demanda por aeronaves de dois corredores gerada pela pandemia.
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