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Crise do 737 Max, Embraer e atrasos no 777: os desafios da Boeing em 2020

Boeing 737 Max está impedido de voar desde março por conta de dois acidentes fatais - Divulgação
Boeing 737 Max está impedido de voar desde março por conta de dois acidentes fatais Imagem: Divulgação

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

04/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Boeing enfrentou sua pior crise em 2019 após dois acidentes com o modelo 737 Max
  • Em março, avião foi proibido de voar, e, em dezembro, a empresa suspendeu temporariamente sua produção
  • Para 2020, Boeing também espera concluir o processo de compra da divisão de aviação comercial da Embraer
  • Outro desafio será resolver os problemas no desenvolvimento do avião de longo alcance 777x, que está atrasado

A Boeing viveu em 2019 um de seus piores momentos em mais de cem anos de existência. Após dois acidentes fatais que deixaram 346 pessoas mortas, o 737 Max, modelo mais vendido da empresa, foi proibido de voar em todo o mundo. A suspensão dos voos foi em março do ano passado e ainda não há uma data para retomada de operações.

A crise do 737 Max vem causando mudanças profundas na companhia. A mais recente aconteceu no último dia 23. Em meio ao momento crítico da Boeing, o então CEO Dennis A. Muilenburg renunciou ao cargo. A empresa terá um novo comando a partir de 13 de janeiro, quando David L. Calhoun assumirá a cadeira de CEO e presidente com a missão de tirar a Boeing de sua pior crise e retomar a confiança do mercado e dos órgãos reguladores.

Além de resolver a crise do Boeing 737 Max, o novo CEO da Boeing terá outros desafios pela frente em 2020. Um dos principais será a conclusão do processo de compra da divisão de aviação comercial da brasileira Embraer. Além disso, a Boeing também precisa resolver os problemas no atraso do desenvolvimento da nova versão do modelo 777x.

Boeing 737 Max

A suspensão dos voos do 737 Max aconteceu no dia 13 de março, logo após o segundo acidente com um avião do modelo. Os acidentes tiveram como ponto em comum uma falha no sistema MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System, ou sistema de ampliação de característica de manobra). Esse sistema controlaria a inclinação do avião para evitar uma perda de sustentação, chamada de estol.

Na queda dos aviões da Lion Air e da Ehtiopian Airlines, os pilotos não conseguiram controlar o avião após o sistema receber informações incorretas dos sensores localizados na fuselagem.

Até então mais de 350 unidades do 737 Max já haviam sido entregues a companhias aéreas de todo o mundo. Enquanto tentava resolver os problemas que causaram os acidentes, a empresa continuou a produzir o modelo, mas em ritmo menor.

O processo para tentar retomar os voos do modelo enfrentou mais dificuldades do que a Boeing esperava. Com a demora para a liberação e sem uma perspectiva clara de quando ela ocorrerá, a empresa decidiu no último dia 16 suspender temporariamente a fabricação do 737 Max.

A Boeing já acumula cerca de 400 unidades prontas que ainda não puderam ser entregues às companhias aéreas. Cada unidade do 737 Max 8 tem preço-base de US$ 121,6 milhões (R$ 494,4 milhões).

A retomada dos voos do modelo é essencial para a Boeing. O 737 Max representa mais de 80% de todos os pedidos em estoque da companhia. De todos os 5.444 aviões já vendidos e que aguardam produção, 4.405 são do modelo.

O desafio da empresa é provar aos órgãos reguladores, companhias aéreas e aos passageiros que as mudanças que têm sido feitas vão deixar o avião realmente seguro. No comunicado que anunciou a mudança na liderança da empresa, a própria Boeing afirmou que a troca de comando tinha o objetivo de "reestabelecer a confiança na companhia".

A Boeing esperava que o modelo recebesse a autorização para voltar a voar ainda em 2019. Com as dificuldades enfrentadas, no entanto, a empresa evitar dar novas previsões.

A versão NG do 737 também enfrentou problemas. Fissuras estruturais obrigaram a empresa a interromper o uso de alguns aviões do modelo. O problema, no entanto, foi menos abrangente, atingindo menos de 5% das unidades em uso em todo o mundo. Muitos deles já tiveram o problema resolvido e voltaram a voar.

Compra da divisão comercial da Embraer

Embraer Boeing - Divulgação - Divulgação
Compra da divisão de aviação comercial da Embraer deve ser concluída em 2020
Imagem: Divulgação

Outro desafio que a Boeing terá em 2020 será a conclusão do processo de compra da divisão comercial da Embraer. A previsão inicial das duas empresas era de que o negócio fosse finalizado até o final de 2019. O adiamento ocorreu por conta de uma investigação mais detalhada na União Europeia.

"A Comissão Europeia indicou recentemente que iniciará uma segunda fase de análises da transação, e a Embraer e a Boeing continuarão contribuindo com esse processo de revisão. Diante disso, as empresas esperam que a transação seja concluída no início de 2020", afirmaram as duas empresas em um comunicado conjunto divulgado no início de outubro.

Os termos do acordo entre Embraer e Boeing foram anunciados em dezembro de 2018. A área de aviação comercial da Embraer será transformada em uma nova empresa, chamada de Boeing Brasil - Commercial, controlada pela Boeing e avaliada em US$ 5,26 bilhões. A Boeing terá 80% de participação e a Embraer ficará com os outros 20%.

Além da investigação da União Europeia, o negócio ainda aguarda aprovação no Brasil do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Por aqui, no entanto, a expectativa é que o órgão dê o aval sem restrições significativas, segundo a agência Bloomberg.

Por outro lado, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, onde fica a sede da Embraer, tem feito pressão para tentar impedir ou atrasar o negócio. O sindicato acusa a fabricante brasileira de promover uma série de demissões, o que a Embraer nega.

Em meio à crise do 737 Max, o negócio com a Embraer se tornou ainda mais relevante para Boeing. A brasileira é líder mundial na produção de aviões comerciais de até 150 lugares. O interesse da Boeing pela Embraer surgiu após a Airbus adquirir a divisão de jatos regionais da Bombardier, principal concorrente da fabricante brasileira.

O negócio entre Boeing e Embraer envolve ainda a criação de uma joint-venture para vendas do avião multimissão militar KC-390, recentemente rebatizado como C-390 Millennium. Até o momento, apenas os governos de Brasil e Portugal fizeram pedidos firmes para o modelo.

Boeing 777X

Boeing 777 - Divulgação - Divulgação
Nova versão do Boeing 777 está atrasada, mas deve fazer voo inaugural em 2020
Imagem: Divulgação

A fabricante norte-americana também enfrenta atrasos no desenvolvimento da nova versão do modelo 777. A previsão inicial era de que o avião tivesse voado em junho de 2019, mas problemas com o novo motor G9X, que será o maior motor de um jato comercial, atrasaram o projeto.

Agora, a Boeing espera que o modelo faça seu voo inaugural de testes neste ano. Em outubro, no entanto, a empresa também adiou a sua previsão para a primeira entrega. A alemã Lufthansa esperava receber o primeiro avião até o final de 2020, mas a Boeing já admitiu que isso só deve ocorrer no início de 2021.

A mudança oficial no cronograma veio logo após o 777 enfrentar outro problema. Em setembro, a fuselagem de um dos protótipos rompeu em testes de pressão. Na ocasião, a Boeing afirmou que "o problema ocorreu durante os minutos finais do teste, quando aproximadamente 99% da carga já havia sido aplicada sobre a asa, e envolveu uma despressurização na fuselagem traseira".

No entanto, em novembro surgiram novas fotos e informações de que o problema teria sido algo mais grave e que pode exigir mais tempo para ser solucionado.

O Boeing 777X é um avião de longo alcance com capacidade para transportar entre 384 e 426 passageiros. A versão 777-8 tem autonomia para voar por até 16.170 quilômetros, enquanto o 777-9 tem alcance de 13.500 quilômetros. O preço-base varia entre US$ 410,2 milhões (R$ 1,67 bilhão) e US$ 442,2 (R$ 1,8 bilhão).

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