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Conheça a chinesa Comac, possível parceira da Embraer após Boeing desistir

Avião chinês Comac C-919 - Divulgação
Avião chinês Comac C-919 Imagem: Divulgação

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/04/2020 04h00

Depois da desistência da Boeing na compra da divisão de aviação comercial da Embraer, o mercado e integrantes do governo passaram a especular uma possível negociação da fabricante brasileira com os chineses. Segundo maior mercado de aviação do mundo, a China tenta emplacar um novo modelo de avião comercial, mas tem enfrentado dificuldades técnicas. O conhecimento da Embraer poderia ser um grande aliado para fazer o avião chinês decolar de vez.

Por outro lado, especialistas do setor aeronáutico avaliam que a Embraer não poderia ficar sozinha no mercado. Desde que a Airbus adquiriu a linha de jatos comerciais C-Series da Bombardier, a fabricante brasileira ganhou um concorrente de peso. A parceria com a Boeing era vista como inevitável para brigar de frente com a Airbus. Agora, seria necessário buscar um novo parceiro.

Na manhã desta segunda-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro chegou a cogitar uma nova negociação, sem citar qual seria o parceiro comercial. "Estamos avaliando. Tem golden share, é minha, eu assino. Se o negócio for desfeito, talvez se recomece uma nova negociação com outra empresa", disse o presidente ao deixar o Palácio da Alvorada.

O novo negócio poderia ser feito com a fabricante chinesa Comac. A empresa foi criada em 2008 com o objetivo de desenvolver um avião que pudesse brigar com as gigantes Boeing e Airbus, mais especificamente com os populares 737 e A320.

China desenvolve avião há 12 anos

A Comac vem desenvolvendo nos últimos 12 anos o modelo C919. O primeiro protótipo fez seu voo inaugural de testes em maio de 2017, mas ainda não há uma previsão de quando estará aprovado para voar comercialmente por alguma companhia aérea.

O C919 é um avião com capacidade para entre 156 e 174 passageiros e alcance de até 5,5 mil quilômetros. São números similares aos dos aviões produzidos por Boeing e Airbus.

A grande aposta dos chineses, no entanto, está no preço. A expectativa é que o C919 custe menos de metade do preço do A320 ou do 737. O C919 tem um preço estimado de US$ 50 milhões (R$ 285 milhões), enquanto o Airbus A320 tem preço de US$ 110 milhões (R$ 627 milhões). O Boeing 737 Max8 custa US$ 120 milhões (R$ 684 milhões).

Mesmo com o longo período de desenvolvimento, o C919 já recebeu pedidos de 570 unidades do modelo. A grande maioria das 23 companhias aéreas interessadas em voar com o novo avião são empresas estatais chinesas. Fora da China, apenas a empresa de leasing (aluguel) GE Capital Aviation e a companhia aérea tailandesa City Airways também já assinaram contrato de compra do novo avião.

China já tem um concorrente da Embraer

Os aviões da Embraer são menores e brigam pelo mercado de jatos regionais. Os chineses até já desenvolveram um avião para esse segmento. O ARJ21 foi criado por um consórcio de empresas chinesas e desde a fundação da Comac passou a ser fabricado pela empresa.

O modelo tem capacidade para entre 70 e 105 passageiros, o que faria do avião chinês um concorrente direto dos jatos regionais da Embraer. O ARJ21 lembra os antigos McDonnell Douglas MD-80/MD-90. A China tinha licença para produzir esses aviões, mas diz que o modelo ARJ21 é um design novo.

Diferentemente da popularidade mundial dos MD-80/MD-90 e dos jatos da Embraer, o chinês ARJ21 passou longe na missão de conquistar o mundo. Problemas de performance afastaram potenciais compradores e até o momento apenas 30 aviões do modelo foram produzidos. Todos voam por companhias aéreas chinesas.

Mercado chinês e engenheiros brasileiros

A união entre Embraer e Comac poderia gerar benefícios para as duas empresas. A fabricante brasileira teria as portas abertas e como parceira preferencial no mercado chinês, enquanto a Comac poderia se beneficiar do conhecimento e experiência dos engenheiros brasileiros para resolver os problemas no desenvolvimento de seu avião.

Um acordo entre Embraer e chineses pode esbarrar, no entanto, nos militares brasileiros. Segundo a colunista do UOL Thaís Oyama, "essa possibilidade deixa os generais de cabelo em pé". Mesmo que as empresas cheguem a um acordo, o governo brasileiro poderia vetar o negócio.

A Embraer foi privatizada em 1994, mas no processo de venda da empresa o governo ficou com uma ação chamada "golden share". Isso significa que qualquer decisão nesse nível precisa ser aprovada ou vetada pelo governo brasileiro.