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REPORTAGEM

22% do ganho de aéreas já é com itens como bagagem e marcação de lugares

Serviços como despacho de bagagem, transporte de carga e serviço de bordo respondem por boa parte das receitas das aéreas - Getty Images
Serviços como despacho de bagagem, transporte de carga e serviço de bordo respondem por boa parte das receitas das aéreas Imagem: Getty Images

Por Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/08/2021 07h00

Uma companhia aérea pode ter outras fontes de renda além da venda da passagem aos consumidores. Essas receitas representam uma fatia importante e já chegam a uma média de 21,5% do faturamento com transporte aéreo nas empresas brasileiras.

O ano de 2020, em decorrência da pandemia, foi diferente de qualquer outro até então registrado. A receita total com transporte aéreo na Azul, Gol e na operação nacional da Latam foi de aproximadamente R$ 19.5 bilhões no ano passado. Desse montante, R$ 15,3 bilhões foram com o transporte de passageiros.

As outras receitas, que incluem itens como despacho de bagagem, carga e mala postal (correspondências e outras encomendas), penalidades, serviço de bordo e marcação de assentos, foi de R$ 4,2 bilhões ao todo, chegando a 21,5% da receita em média.

O peso maior dessas outras receitas são os serviços de carga e mala postal (até 13% do total). O ganho com cobrança de bagagens é menor (cerca de 3% do total), mas compõe essa fonte alternativa de receita (veja mais abaixo o peso de cada item).

Veja quanto rende cada item extra

Segundo demonstrações contábeis das empresas, divulgadas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), as receitas auxiliares das companhias aéreas são aquelas compostas pela venda de alimentos e bebidas, serviços multimídia, marcação de assentos, acompanhamento de passageiro, serviços de assistência médica, transporte de animais, entre outras.

Há ainda a entrada de valores originada com as penalidades aplicadas, que incluem cobranças por cancelamento da passagem, reembolso, remarcação de voo, não comparecimento para o embarque, entre outras.

Veja quanto cada empresa teve de receita com o transporte aéreo em cada segmento em 2020:

Azul

  • Passageiros - R$ 4,7 bilhões (79,5% da receita total com serviços aéreos)
  • Carga e mala postal - R$ 747,9 milhões (12,6%)
  • Penalidades - R$ 219,7 milhões (3,7%)
  • Bagagem - R$ 146,8 milhões (2,5%)
  • Marcação de assentos - R$ 57,3 milhões (1%)
  • Demais receitas auxiliares - R$ 43,7 milhões (0,7%)
  • Total - R$ 5,9 bilhões (100%)

Gol

  • Passageiros - R$ 5,2 bilhões (86% da receita total com serviços aéreos)
  • Carga e mala postal - R$ 316,3 milhões (5,2%)
  • Penalidades - R$ 252,7 milhões (4,2%)
  • Bagagem - R$ 164,1 milhões (2,7%)
  • Marcação de assentos - R$ 64 milhões (1%)
  • Demais receitas auxiliares - R$ 40,8 milhões (0,7%)
  • Outras receitas - R$ 10,6 milhões (0,2%)
  • Total - R$ 6,1 bilhões (100%)


Latam (Brasil)

  • Passageiros - R$ 5,3 bilhões (71,8% da receita total com serviços aéreos)
  • Carga e mala postal - R$ 822 milhões (11,1%)
  • Outras receitas - R$ 703,5 milhões (9,5%)
  • Penalidades - R$ 253,3 milhões (3,4%)
  • Bagagem - R$ 209,1 milhões (2,8%)
  • Marcação de assentos - R$ 61,2 milhões (0,8%)
  • Demais receitas auxiliares - R$ 46,2 milhões (0,6%)
  • Total - R$ 7,4 bilhões

Carga

Carga - Maria Carolina Abe/UOL - Maria Carolina Abe/UOL
Cargas também podem ser transportadas em aviões de passageiros
Imagem: Maria Carolina Abe/UOL

A operação de carga também representa uma importante fonte de receita para as empresas aéreas. Seja pela operação com aviões cargueiros exclusivos ou com cargas despachadas nos porões dos aviões de passageiros, o valor injetado chega a uma cifra bilionária anualmente.

Em 2020, a Azul Cargo, divisão de carga da Azul, aumentou sua receita em 38,4% em comparação com 2019, totalizando R$ 764,1 milhões. Em todo o grupo Latam (operação brasileira somada à de outros países), por exemplo, apenas a operação de carga foi responsável por 28% da receita em 2020, enquanto o transporte de passageiros ficou com 68% do total (outras receitas somaram 9% apenas).

Apesar da queda brusca com a venda de bilhetes em relação a 2019 no grupo Latam (cerca de 70%), a receita com cargas teve um aumento de 13% no mesmo período. Isso se deve ao aumento no transporte de produtos por via aérea, principalmente materiais médicos e comércio eletrônico.

Nos EUA, receita com outros itens chega a 47%

De acordo com um estudo da consultoria IdeaWorksCompany, em parceria com a empresa de tecnologia CarTrawler, durante o ano de 2019, Azul e Gol obtiveram, juntas, um total de R$ 4,92 bilhões apenas com as receitas que não fossem a venda de passagem, sendo R$ 2,56 bi e R$ 2,36 bi, respectivamente. Isso representa 22,4% e 17% do faturamento de cada uma, que foi de R$ 11,44 bi e R$ 13,86 bi, respectivamente.

Bagagem avião - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Aéreas podem ter outras receitas além da venda de bilhetes aos passageiros
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A consultoria considera como rendas auxiliares aquelas que fogem à venda do transporte do passageiro no avião diretamente, e inclui nesse rol os programas de fidelidade, entre outros.

Essas receitas vêm ganhando espaço com o passar dos anos, se tornando uma fonte de renda cada vez maior, destaca a IdeaWorksCompany.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as empresas Spirit e Allegiant têm 47% e 46,5% de suas vendas compostas por receitas auxiliares, respectivamente.

Entre os principais itens vendidos que puxam esse tipo de faturamento das empresas, está a escolha de assentos. A opção por lugares com mais espaço é considerada a mais popular entre os viajantes, segundo a consultoria.

A escolha antecipada de assentos também se tornou um fator de atenção para as companhias, com o crescimento do número de pessoas que optam por se sentar à frente para conseguir sair mais rapidamente do avião, afirma a IdeaWorksCompany.

Azul, Gol e Latam não comentaram os dados de faturamento até a publicação desta reportagem.