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REPORTAGEM

O avião alemão que foi sequestrado por terroristas e depois voou no Brasil

Avião Boeing 737 Landshut da Lufthansa em 1975, dois anos antes do sequestro - Divulgação/Ken Fielding
Avião Boeing 737 Landshut da Lufthansa em 1975, dois anos antes do sequestro
Imagem: Divulgação/Ken Fielding

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/10/2022 12h00

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Há 45 anos, um avião Boeing 737-200 que fazia o voo 181 da companhia aérea alemã Lufthansa era sequestrado por integrantes da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP). O grupo pedia a libertação de integrantes do Baader-Meinhof, uma organização guerrilheira alemã.

Toda ação durou cinco dias, com passagens por seis países e resultando na morte do piloto e de três sequestradores. Até hoje, o sequestro do voo Lufthansa 181 é considerado um marco da Alemanha na luta contra o terrorismo em seu país.

A aeronave do Lufthansa 181 chegou a voar no Brasil na década de 2000, pela TAF Linhas Aéreas, quando encerrou sua vida útil.

Histórico: O avião, que havia sido batizado como Landshut (nome de uma cidade alemã), decolou de Palma de Mallorca, na Espanha, no dia 13 de outubro de 1977. Seu destino era Frankfurt, na Alemanha.

A bordo estavam 86 passageiros e cinco tripulantes. O voo foi desviado para Roma (Itália), onde ficou por algumas horas antes de decolar rumo ao aeroporto de Larnaca, no Chipre.

Nessa escala, os sequestradores chegaram a ser contatados por um líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que tentou dissuadi-los da ação. Eles não deram ouvidos ao apelo, reabasteceram a aeronave e decolaram rumo ao Bahrein.

O aeroporto do país estava fechado, mas o piloto disse que estava sem combustível e que precisaria pousar de qualquer jeito, conseguindo colocar o avião no chão e reabastecer. Já era madrugada do dia 14 de outubro.

A próxima escala foi em Dubai (Emirados Árabes Unidos), onde o avião permaneceu até o dia 16 de outubro.

Mais uma escala: Pousar em Dubai quase não foi possível, pois o governo local havia fechado o aeroporto e colocado caminhões na pista para evitar que a aeronave conseguisse tocar o solo.

Entretanto, os pilotos alertaram que não tinham combustível e, em um último momento, caminhões que bloqueavam a pista liberaram a passagem. No solo, os sequestradores exigiram que fossem fornecidas água e comida, além de jornais.

Também foi pedido que o lixo fosse retirado, momento em que o capitão conseguiu avisar quantos sequestradores estavam no avião. Pelo rádio, ele conversou com a torre, quando pediu quatro caixas com cigarros: "Misto. Diferentes. Dois desse e dois desse, talvez";

Era uma maneira cifrada de dizer que o avião havia sido capturado por quatro terroristas, sendo que dois eram homens e dois eram mulheres.

O governo local havia se recusado a fornecer combustível para a aeronave, mas, após a ameaça de começarem a matar os passageiros, o avião foi reabastecido e eles partiram rumo a Áden (Iêmen) no dia 16 de outubro.

Capitão executado: O pouso no Iêmen foi um dos mais delicados. Sem poder pousar nas pistas asfaltadas, já que estavam bloqueadas para evitar que o avião as utilizasse, a solução foi pousar em um trecho não asfaltado entre elas.

No momento de partir, o comandante Jürgen Schumann foi autorizado a deixar o Boeing 737 para analisar a extensão dos danos causados ao avião no pouso. Com sua demora em retornar, o que ele fez de maneira voluntária, os sequestradores o mataram na frente dos demais passageiros.

O primeiro oficial Jürgen Vietor assumiu o controle do avião e decolou rumo a Mogadíscio, capital da Somália, a última parada antes do fim do sequestro.

Operação Fogo Mágico: Em Mogadíscio, o clima se tornou mais tenso. Os terroristas continuavam a exigir que os integrantes do Baader-Meinhof fossem libertados ou explodiriam o avião.

Ele havia pousado na madrugada do dia 17 de outubro, com o corpo do capitão a bordo. No dia 18, uma equipe tática alemã iniciou a operação Fogo Mágico, que culminou no fim do sequestro.

Os agentes se aproximaram pela traseira da aeronave, onde não seria possível serem vistos por quem estava a bordo. Ao mesmo tempo, os sequestradores eram avisados por rádio que os presos haviam sido libertados e estavam sendo transportados para fora da Alemanha em segurança. Era uma mentira para ganhar tempo.

Com a equipe tática posicionada, soldados somalis iniciaram uma labareda a poucos metros da frente do avião. Isso serviu de chamariz, levando três dos sequestradores para a cabine de comando.

Os alemães conseguiram entrar nesse momento no avião pelas saídas de emergência, mandando todos se abaixarem e iniciando uma troca de tiros com os sequestradores. Dois morreram na hora, outro após ter sido retirado com ferimentos, e uma sobreviveu.

Nenhum passageiro morreu, e todos foram libertados.

Com a notícia do fracasso do sequestro, três dos líderes do grupo que tiveram sua soltura exigida foram encontrados mortos na prisão. A causa da morte apontada nos laudos foi suicídio.

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