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REPORTAGEM

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Avião de 2 andares: A história do Jumbo, o Boeing 747, que sai de linha

Último 747 a ser produzido deixa a fábrica da Boeing em Everett, no estado de Washington (EUA) - Paul Weatherman/Boeing
Último 747 a ser produzido deixa a fábrica da Boeing em Everett, no estado de Washington (EUA)
Imagem: Paul Weatherman/Boeing

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/12/2022 12h00

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Após mais de cinco décadas de operação, o último exemplar do 747 deixou a fábrica da Boeing em Everett, no estado de Washington (EUA) no começo de dezembro. Ele deve ser entregue à Atlas Air em janeiro, e ainda passará por pintura e testes antes de chegar às mãos do seu dono.

Um dos aviões mais icônicos da história da aviação, o 747 se destacou e fez jus ao apelido de Jumbo. O modelo, com dois andares e alta capacidade de transporte, se transformou no favorito de muitas empresas para rotas longas e de alta densidade de passageiros, incluindo a extinta Varig, no Brasil.

Para conseguir fazer esse gigante voar, foram necessários quatro motores, sendo dois em cada asa. Também foi feita uma espécie de corcunda, uma elevação para acomodar o segundo andar.

Durante todos esses anos, o avião, que também é chamado "Queen of the Skies" ("Rainha dos Céus"), dominou os ares, tendo apenas um concorrente próximo, o Airbus A380, com maior capacidade de passageiros. Entretanto, o modelo europeu teve uma vida mais curta, voando pela primeira vez em 2005 e com sua última unidade entregue em 2021.

Prazo curto: O 747 foi desenvolvido em um período de apenas 16 meses, e realizou o primeiro voo em 9 de fevereiro de 1969. Ele surge em um contexto de crescimento do transporte aéreo, com o advento da era dos jatos (iniciada na década anterior) e da queda do preço das passagens, permitindo que mais pessoas voassem.

A Boeing havia perdido a concorrência para construir um avião militar de grande porte para o governo dos EUA, e se viu motivada a inovar com um produto totalmente diferente daquilo que o mercado havia visto até então.

Seu tamanho também apresentava uma certa praticidade, principalmente para voos internacionais: Com maior capacidade de transporte, poderia fazer o serviço de dois aviões menores, por exemplo, sendo necessário contratar menos tripulantes ao todo e com quase a mesma equipe trabalhando nos aeroportos.

O projeto final era formado por três versões, sendo uma exclusiva de carga, outra exclusiva de passageiros e uma terceira, que poderia ser convertida entre ambas as modalidades.

Um modelo para cada situação: Com o decorrer do tempo, a Boeing desenvolveu várias versões do 747. Entre elas, se destacam:

  • 747-100/-200 - As primeiras versões do 747, com capacidade para até 490 passageiros
  • Boeing 747SP - Versão menor do 747 original
  • Boeing 747-400 - Lançado em 1988, tinha asas maiores e capacidade para levar até 660 passageiros
  • Boeing 747-8 - Capaz de voar até 14.310 km sem precisar parar para reabastecer
Boeing 747 da KLM - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Fábrica recordista: Para comportar a fabricação do gigante, a Boeing precisou criar uma instalação específica para sua linha de montagem em Everett.

Esse é reconhecido pelo Guinness Book, o livro dos recordes, como o maior edifício em volume do mundo, com 13,4 milhões de metros cúbicos internos. Esse volume foi crescendo com o passar dos anos, chegando à atual configuração.

Boeing 747 VC-25, que também pode ser chamado de Força Aérea Um quando está levando o presidente dos EUA - Divulgação/Matt Hecht/Força Aéra dos EUA - Divulgação/Matt Hecht/Força Aéra dos EUA
Imagem: Divulgação/Matt Hecht/Força Aéra dos EUA

Avião presidencial dos EUA: O avião presidencial dos Estados Unidos é um Boeing 747-200 adaptado para finalidades militares. Ele tem medidas de contra-ataque e é blindado, além de resistir a pulsos resultantes de explosões nucleares.

O avião do juízo final deles também é um 747 adaptado. Ambos podem ficar voando por vários dias sem precisar pousar, dependendo apenas de reabastecimento no ar e de comida e água a bordo.

Já carregou ônibus espacial: Uma das missões mais importantes do 747 foi transportar os ônibus espaciais por determinação da Nasa, a agência espacial dos EUA. Dois aviões modificados levavam as espaçonaves dos locais onde pousavam até o centro espacial Kennedy, no Cabo Canaveral (Flórida), de onde eram feitos os lançamentos.

Nesse caso, todo o interior do avião foi removido, e ele teve a traseira alterada para melhorar o voo com a carga pesada que ficava presa acima da fuselagem.

O Boeing 747 "Supertanker": capacidade de lançar mais de 70 mil litros de produtos contra incêndios (Global Supertanker) - Divulgação/Supertanker - Divulgação/Supertanker
Imagem: Divulgação/Supertanker

Combate a incêndio: Alguns 747 aposentados foram adaptados para combate a incêndios. Batizados de Supertanker, são o maior do gênero no mundo, com capacidade para despejar até 72 mil litros de água de uma vez sobre locais que estão pegando fogo.

Após cada voo, o avião é reabastecido e fica pronto em cerca de meia hora para uma nova operação. Ele tem 14 assentos de primeira classe e dois beliches para poder levar sua própria equipe até os locais onde terá de atuar.

Maior acidente da história: Em março de 1977, dois Boeings 747 se envolveram em um acidente na ilha de Tenerife, que deixou cerca de 583 pessoas mortas e dezenas de outras feridas. Esse ficou conhecido como o pior acidente da aviação da história, com o maior número de vítimas fatais.

O local contava com uma única pista de pouso e estava sob forte nevoeiro no dia da tragédia. Um dos aviões iniciou o procedimento de decolagem sem autorização, colidindo com o outro que ainda estava na pista.

Observatório espacial: A Nasa utilizou um 747 como observatório estratosférico de astronomia infravermelha. O avião, que se aposentou em 2022 após 26 anos em serviço, era batizado de Sofia, que vem da sigla em inglês Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy.

Durante o voo, uma grande porta na lateral de sua fuselagem se abria, expondo um telescópio de 2,7 metros de diâmetro. O motivo de ser utilizado em voo era evitar a interferência da atmosfera nas observações realizadas.

Disparador de laser: A Boeing chegou a desenvolver uma plataforma de disparo de laser em voo a partir de um 747. O objetivo era destruir mísseis enquanto eles ainda estavam em sua fase de aceleração.

Designado YAL-1, o avião conseguiu cumprir sua missão em um teste realizado em 2010, mas o programa foi cancelado em 2011, e, no ano seguinte, avião foi levado para um cemitério de aeronaves para ser transformado em sucata.

Avião cargueiro Boeing Dreamlifter - Divulgação/18.abr.2013/Bryan Jones - Divulgação/18.abr.2013/Bryan Jones
Imagem: Divulgação/18.abr.2013/Bryan Jones

Cargueiro especial: O 747 ainda tem uma versão especial de carga, chamada Dreamlifter. São quatro unidades que são utilizadas para transportar partes do Boeing 787 dos diversos fornecedores até a linha final de montagem da empresa.

Ficha técnica

Boeing 747
Unidades produzidas: 1.574
Primeiro voo: 9 de fevereiro de 1969
Carga máxima: 133,1 toneladas (Último 747-8F - cargueiro)

Medidas (referentes ao modelo 747-8):
Capacidade: 410 passageiros (na configuração de três classes)
Autonomia: Até 14.310 km de distância de voo
Comprimento: 76,3 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 68,4 metros
Altura: 19,4 metros
Motores: Quatro GEnx-2B

Fontes: Guinness Book - O livro dos recordes, livro "Boeing 747 - A History: Delivering the Dream" (de Martin W. Bowman), Boeing e Nasa

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