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Número de tartarugas que desovam em reserva no Pará cai 91% em 33 anos

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

10/02/2014 06h00

A caça ilegal e a coleta de ovos são os principais responsáveis pela diminuição do número de tartarugas na Amazônia.

Na Reserva Biológica de Trombetas, em Oriximiná (PA), por exemplo, para onde tartarugas se deslocam anualmente para se reproduzir, a quantidade de animais avistados caiu de 7.000, em 1980, para cerca de 600, em 2013, queda de 91%.

De acordo com o chefe da reserva, José Risonei Assis, a construção de um porto no rio Trombetas pode ter impedido animais de chegarem à reserva, mas, de todo modo, o número seria um avanço frente às 200 tartarugas observadas em 2004.

"Com a fiscalização, nenhum ninho de tartaruga foi atacado em 2013", afirma. Já o Ibama ((Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) informa que 3.644 animais foram apreendidos por fiscais no ano passado.

Para a pesquisadora Vera Ferreira Luz, do Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, a ação do homem com a caça ilegal e coleta de ovos ainda é o maior perigo para as tartarugas.

Ela afirma que um estudo do qual participou avalia que o status de uma das principais espécies que vive na região, a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), deve ser mudado de "não preocupante" para "quase ameaçada de extinção".

Como essa é a primeira avaliação científica sobre a população da tartaruga, diz, não indica que a situação do animal piorou, mas reforça a necessidade de se manter programas de preservação. A criação em cativeiro é outra das ações incentivadas pelos órgãos de proteção.

Número de criações de tartarugas cai 74% desde 2002

O número de criações caiu 74% desde 2002, quando eram contabilizadas 122 unidades pelo Ibama. Hoje há 31, distribuídas entre Acre, Amazonas e Goiás.

Dados do Ibama datados de 2012 mostram que há 90 mil tartarugas em fazendas especializadas. A entidade não sabe explicar o motivo da queda do número de criações e afirma que elas estão atualmente sob responsabilidade dos Estados.

O pesquisador Richard Vogt, que ajudou a formular as regras para a criação de tartarugas na década de 90 e hoje dirige a ONG Tartarugas da Amazônia, suspeita que o crescimento lento da tartaruga seja uma das explicações.

"Elas crescem devagar, em no mínimo cinco ou seis anos, enquanto a galinha demora 90 dias [em criações não comerciais]", afirma. Vogt diz que a entrada de "aventureiros" no mercado e a falta de estudos sobre tartarugas também pesam contra as criações.

Além disso, de acordo com o Ministério da Agricultura, nenhum frigorífico possui o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) que permite a venda de tartarugas em supermercados.

O produtor José Roberto Ferreira Alves afirma que o frigorífico no qual abate suas tartarugas, em Brasília, tenta desde 2011 obter o selo. Sem ele, vende diretamente ao consumidor. Hoje, Alves fatura mais com a venda de cosméticos feitos com óleo extraído da gordura do animal.

A diminuição do número de criadores não significa desinteresse pela carne de tartaruga, que continua a ser consumida ilegalmente.

Um estudo publicado no site Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine neste ano afirma que, apenas no município de Tapauá (AM), de 19 mil habitantes, são consumidas anualmente 34 toneladas de carne de tartaruga.