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Pesquisa francesa avalia se uva do RS é só do Brasil; conheça outros tipos

Priscila Tieppo

Do UOL, em Bento Gonçalves (RS)*

12/03/2014 06h00

O Rio Grande do Sul tem uma uva que possivelmente não é cultivada de forma comercial em nenhum outro lugar do mundo. Trata-se da moscato branco, de origem italiana e que está no Brasil desde os anos 30.

Os pesquisadores da Embrapa suspeitavam que a variedade colhida no país tivesse características diferentes das de suas "parentes" europeias. O estudo de um especialista francês em classificação de videiras aponta que a suspeita seja verdadeira.

Jean-Michel Boursiquot, da universidade de Montpellier, na França, comparou as características da moscato branco com bancos de dados genéticos da Europa e não encontrou nada parecido. Os estudos da Embrapa ainda prosseguem.

Farroupilha é o município gaúcho que concentra cerca de 50% da produção da moscato branco, variedade utilizada na produção de vinhos e espumantes, que costumam ser mais doces que as bebidas feitas com variedades próximas.

A uva é a aposta da Embrapa e de produtores locais para que Farroupilha consiga a Indicação de Procedência para vinhos espumantes do tipo moscatel, um processo que foi iniciado em 2009.

Rio Grande do Sul cultiva 148 tipos de uva

A moscato branco é uma das 148 variedades de uva cultivadas em mais de 40 mil hectares de vinhedos do Rio Grande do Sul, de acordo com informações da Embrapa Uva e Vinho.

A maior produção fica por conta das chamadas uvas americanas ou híbridas, voltadas para o consumo in natura e para produção de vinhos de menor qualidade.

Em 2013, o Estado produziu 611,3 milhões de quilos de uvas, de acordo com dados da Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho), o que corresponde a pelo menos 80% da produção nacional. Do total gaúcho, 73,9 milhões de quilos são das chamadas uvas viníferas, que rendem vinhos de maior qualidade.

Apesar da grande variedade, dez tipos de uva ocupam a maior área plantada com mais de 80% do total. São elas isabel, bordô, niágara branca, concord, niágara rosada, seibel, cabernet sauvignon, jacquez, merlot e chardonnay.

A uva isabel, a mais plantadas entre as americanas, ocupou 11 mil hectares em 2012, data do último levantamento feito pela Embrapa.

Uvas tintas dão vinhos brancos?

A uva pinot noir, de casca bordô, é bastante usada na produção de espumantes no Rio Grande do Sul. Mesmo sendo tinta, rende bebidas de coloração clara.

"Não se consegue produzir vinho tinto com uvas brancas, mas é possível elaborar vinhos brancos com uvas tintas", afirma João Carlos Taffarel, analista da Embrapa Uva e Vinho e diretor de Viticultura da Associação Brasileira de Enologia.

Isso acontece porque o que dá a cor nos vinhos tintos é a casca das uvas, que são deixadas em contato com o mosto (suco e polpa extraídos da fruta). Os vinhos rosados ganham essa coloração porque as cascas são deixadas menos tempo neste processo.

"Na maioria das variedades, as antocianinas [substâncias que definem cor] estão na casca", diz o enólogo André Larentis, da vinícola Larentis, em Bento Gonçalves (RS). Segundo ele, em alguns casos essas substâncias também estão presentes na polpa.

Além da pinot noir, as variedades tintas pinot meunier, pinotage, merlot e malbec também estão entre as mais utilizadas para produzir vinhos brancos, afirma Larentis.

Entre as uvas viníferas, ou seja, aquelas que rendem vinhos de maior qualidade, as brancas mais usadas no Brasil são chardonnay, riesling itálica e sauvignon blanc. Já entre as tintas, destacam-se cabernet sauvignon, merlot, tannat e pinot noir.

(*A repórter Priscila Tieppo viajou a convite da Ibravin)