Quem fala melhor: Temer, Dilma ou Lula?
O que mais tenho ouvido nos últimos dias é que existe uma grande diferença na qualidade da comunicação de Dilma e Temer. Vou além e adiciono a esse pacote FHC e Lula. E se quiséssemos retroceder ainda mais, Tancredo, Sarney, Collor e Itamar também se comunicavam de maneira muito distinta. Cada um com seu estilo. Segundo certas opiniões, alguns até com falta de estilo.
Tancredo Neves
Tancredo, considerado por muitos brasileiros como um dos nossos presidentes, mesmo sem ter podido assumir o cargo, tinha aquele discurso meio “palanqueiro”, que os políticos utilizavam lá pelos anos 1950. Talvez a mensagem que mais tenha marcado sua carreira política seja a conclusão do discurso que proferiu depois de vencer a convenção que o elegeu presidente em janeiro de 1985:
“Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos, há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, podemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la”. Lapidar!
José Sarney
Sarney tem boa comunicação. Um estilo formal, um pouco rebuscado em determinadas circunstâncias, mas sempre eficiente na busca dos seus objetivos. Tive oportunidade de comentar aqui nesta coluna sobre um de seus desempenhos mais extraordinários como orador, defendendo posições econômicas e diplomáticas importantes nos Estados Unidos.
De comportamento conciliador, fez uma transição tranquila para a democracia, depois de nos livrarmos da ditadura militar. Chegou a enfrentar sem o uso da força dezenas de greves simultâneas. Em situações extremas, entretanto, chegava a ser contundente. Como, por exemplo, quando precisou tomar uma das decisões mais difíceis no período em que ocupou a Presidência:
“Brasileiros e brasileiras, boa noite. É com grande emoção que eu falo à nação para dizer que, depois de ouvir o Conselho de Segurança por mim convocado, tomei uma decisão de grave importância para a história do Brasil contemporâneo. Quero anunciar que o país suspende o pagamento de juros de sua dívida externa.”
Fernando Collor
Collor conseguiu vencer Lula em uma eleição disputadíssima apenas com a força da sua comunicação. Praticamente desconhecido pelos brasileiros, participando de um partido sem projeção, com promessas sem consistência, apenas dizendo que acabaria com os marajás e que daria um choque de credibilidade no país. Renunciou ao mandato. Ou sofreu impeachment. Há controvérsias.
Recentemente, foi um dos senadores mais elogiados entre aqueles que discursaram na abertura do processo de impeachment da presidente Dilma. Pessoas que sempre o criticaram de maneira feroz se dobraram diante do brilhantismo da sua apresentação, tanto pelo conteúdo histórico e emocional, quanto pela forma elegante e competente como ocupou a tribuna do Senado.
Itamar Franco
Itamar, com seu jeito mineiro de ser, habilidoso nas negociações políticas, com aquele discurso saudosista que defendia a volta do Fusca e do fogão à lenha, conseguiu atravessar muito bem os anos em que foi presidente. Montou um dos melhores ministérios da nossa história, acabou com a inflação descontrolada e fez seu sucessor, elegendo Fernando Henrique Cardoso.
FHC
Fernando Henrique Cardoso se comunicou de forma excepcional quando ocupou a Presidência nas duas gestões. Elegante, bem preparado intelectualmente, ótimo articulador político, com livre trânsito nos países de todos os continentes, sabia exatamente o que dizer em todas as circunstâncias.
No começo do primeiro governo, faltava a ele um pouco de emoção nos discursos. Cheguei a comentar na época que ele falava do problema da segurança do país como se discutisse o problema de segurança do prédio onde morava, na rua Maranhão, em São Paulo. Corrigiu a falha rapidamente e passou a falar com mais energia e emoção.
Seu pequeno problema de dicção nunca prejudicou o entendimento das mensagens. Atropela uma sílaba aqui, outra acolá, mas sua mensagem é sempre perfeitamente compreensível. Disse em uma palestra que seu maior feito foi ter vencido as eleições tendo como adversário um líder carismático como Lula.
Lula
Lula foi um dos mais competentes oradores entre todos os presidentes do Brasil. Com seu jeito simples de se expressar, sabia o que dizer a cada tipo de público. Contava histórias e se valia de comparações que tornavam sua fala encantadora para a maioria dos brasileiros. Ficaram famosas suas ilustrações sobre churrasco e futebol. Independentemente do ambiente onde se apresentasse, era admirado e aplaudido por quase todos.
Dilma Rousseff
Dilma é péssima oradora. Troca os nomes das pessoas, inventa teses impossíveis, perde o raciocínio, trunca as ideias, chega a ser desconexa. Enfim, não sabe como se expressar em público. Sempre apresentou uma boa qualidade como oradora –sabe ler bem os discursos. Só que, em vez de se valer dessa técnica de apresentação, preferia falar de improviso. Aí era uma tragédia.
Michel Temer
Temer chegou como um bálsamo com sua oratória. Formal, quase protocolar, cirúrgico nas ideias que defende. Não agride a gramática. Não perde a linha de raciocínio. Não se compromete com afirmações contraditórias. Ao contrário de Dilma, pensa antes de falar. É provavelmente um dos presidentes de comunicação mais elaborada que tivemos no país.
Ainda na Vice-Presidência, Michel Temer dava exemplos de possuir comunicação excepcional. Na despedida do Papa Francisco, Temer tinha um grande desafio. Precisava contornar a resistência que possuía àquela altura, fazer um levantamento positivo da visita do papa, proferir um discurso brilhante e não tentar aparecer mais que Sua Santidade.
Foi perfeito. Em poucos minutos, atingiu todos esses objetivos. Quebrou a resistência daqueles que torciam o nariz com sua presença, fez uma revisão muito boa da visita do papa, proferiu um discurso de excelente qualidade e se colocou no seu lugar, sem tentar concorrer com a figura do ilustre visitante.
Nos discursos que tem proferido e nas entrevistas que tem concedido depois que assumiu interinamente a Presidência, demonstrou comunicação exemplar. Já ouvi inúmeras pessoas comparando sua habilidade oratória com a da dificuldade apresentada por sua antecessora no cargo. Pelo menos nesse quesito, nós brasileiros estamos muito bem representados. Tomara que suas ações estejam à altura da sua capacidade de se expressar em público.
Superdicas da semana
- Qualquer estilo de comunicação pode ser bom, desde que bem aplicado.
- Aprenda com o estilo dos grandes oradores, mas não os tente copiar.
- Ainda que tenha imperfeições, você será melhor comunicador sendo você mesmo.
- Pequenos problemas técnicos de comunicação podem ser úteis para dar mais naturalidade.
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e “Assim é que se fala”, "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.
Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)
Siga no Instagram: @reinaldo_polito
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.