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Reinaldo Polito

Terminou sua apresentação? Fique esperto com os elogios que recebe

Reinaldo Polito, colunista do UOL, durante palestra - Reinaldo Polito/Arquivo Pessoal
Reinaldo Polito, colunista do UOL, durante palestra Imagem: Reinaldo Polito/Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

13/06/2023 04h00

Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.
Machado de Assis

Receber elogio é muito bom. Dá uma acariciada no ego. Nós nos sentimos importantes. É a afirmação de um valor a nosso respeito que gostamos de ver refletido nos olhos dos outros.

Sempre que me elogiam no final das minhas palestras, agradeço, mas, dependendo da circunstância, fico com um pé atrás. Até contrariando as palavras do dramaturgo romano, Tito Mácio Plauto:

Prefiro até ser elogiado falsamente a ser criticado sinceramente

Na carreira de palestrante, esse feedback positivo é importante. Após encerrar sua apresentação, o orador espera por um retorno elogioso da palestra. Afinal, seria o reconhecimento do bom desempenho que teve diante do público. Veja, entretanto, que eu disse "seria". Este texto discute esse tema.

Esta semana, por exemplo, proferi palestra no evento do agente de palestrantes, David Fadel: "Estratégias poderosas para turbinar sua carreira". Já é a quarta vez que o Fadel me convida. Entre todos os motivos para aceitar, há um que me torna seu eterno devedor.

Capacitação dos jovens

Sou presidente da ONG Via de Acesso. Fazemos capacitação e inclusão de jovens no mercado de trabalho. Entre as ações de capacitação estão as palestras. Reunimos centenas de jovens para ouvir profissionais bem-sucedidos em suas carreiras.

De vez em quando, bem na véspera do evento, o palestrante rói a corda e diz que não poderá comparecer. Como encontrar um substituto em cima da hora? A solução salvadora sempre foi pedir ajuda ao Fadel. Sem hesitar, em poucos minutos ele põe alguém à nossa disposição. Por isso, não tenho como recusar.

Convidado novamente

No sábado, 10/6, iniciei a minha apresentação diante de cerca de 200 ouvintes me valendo de um recurso arriscado, mas campeão quando o objetivo é o de conquistar a atenção do público logo nas primeiras palavras. Usei uma frase de impacto:

A minha palestra aqui no ano passado foi maravilhosa, excepcional (pausa prolongada). Sei que alguns devem estar pensando que sou prepotente, arrogante. Por isso vou explicar o motivo de eu ter tanta certeza.

A partir desse instante, já com o público atento, passei a elencar os motivos que determinam se uma palestra tem ou não boa qualidade. Alguns indicadores ajudam a dar resposta à questão: afinal, a minha apresentação foi boa?

Ouvintes atentos

O primeiro critério de avaliação é observar se os ouvintes permaneceram até o final da apresentação. Se as pessoas saíram muito da sala, pegaram com frequência no celular, mantiveram conversas paralelas, significa que algo errado aconteceu. Se ficaram atentos o tempo todo, foi a primeira indicação de que gostaram.

A interação do público

O segundo critério para medir a qualidade da palestra é verificar se a plateia reagiu às brincadeiras, piadas e tiradas bem-humoradas. Quando os ouvintes dão pronta resposta a esses momentos significa que estão em sintonia e interagindo com o palestrante.

Convite renovado

O terceiro critério, e dos mais relevantes, é verificar se a empresa que o contratou renovou o convite para novos eventos, ou indicou sua palestra para outras organizações. Se a contratação ficou apenas naquela experiência, cuidado, pois talvez não tenha ido tão bem.

De nada adianta aplaudirem, elogiarem até com entusiasmo o seu desempenho se nunca mais pensarem no seu nome. Nesse instante pude enfatizar:

Como fui convidado pelo Fadel para esse novo evento, significa que agradei no ano passado.

Além das palestras tenho um exemplo muito particular com as minhas aulas de apresentação. A cada início do curso de oratória, faço 10 apresentações gratuitas. Só depois de assistir a uma delas é que as pessoas decidem se farão ou não o curso. Em número redondo, ministrei cerca de 1.500 dessas aulas.

Mesmo tendo cada detalhe milimetricamente planejado, às vezes, sentia não ter tocado a emoção dos ouvintes. Ao final da aula, recebia muitos elogios. Agradecia, mas aguardava o resultado das inscrições.

Depende do desempenho

Ao final as secretárias me perguntavam: e aí, professor, qual a nota para a sua aula hoje. Eu respondia com sinceridade. Hoje foi dez, ou, esta não passou de 7. Era matemático. Quando eu sentia que os ouvintes interagiam e prestavam muita atenção, as matrículas abundavam. Caso contrário, não.

Por isso, depois de uma palestra, ou mesmo de uma reunião, de um processo de negociação, avalie esses indicadores:

Os ouvintes prestaram atenção? A plateia reagiu às suas brincadeiras ou histórias interessantes? Foi convidado a discursar novamente em outra oportunidade, ou indicaram seu nome para falar em outros departamentos ou outras empresas? Atingiu o resultado pretendido?

Se ficaram só com tapinha nas costas e nos elogios, faça uma boa análise das suas apresentações e descubra o que precisa ser aperfeiçoado para cobrir com sucesso todos esses pontos. Não confie muito nesses elogios protocolares. Ou você acha que alguém vai dizer a você que não gostou da sua palestra?

Superdicas da semana

  • Elogios são bons, mas às vezes apenas protocolares
  • Pedirem para falar em outro evento é o melhor elogio que poderia receber
  • Ouvintes interessados raramente saem da sala
  • Se a plateia estiver gostando, reagirá às suas brincadeiras

O conteúdo desse tema é estudado no curso de pós-graduação em "Gestão de Comunicação e Marketing" que ministro na ECA-USP. Livros de minha autoria que abordam esses conceitos: "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante.