Reinaldo Polito

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Opinião

Bolsonaro e Lula seriam reféns do Congresso?

Nem todos podemos fazer tudo.
Virgílio

Você é lulista ou bolsonarista? Não importa. Seja lá de que lado esteja, vai concordar que para governar o país o presidente precisa se ajoelhar com o pires na mão para obter o aval dos senhores congressistas. Negociar com deputados e senadores faz parte da política. E tanto Bolsonaro quanto Lula são mestres nessa arte.

Dialogar, entretanto, com a cabeça voltada para o bem do país é uma coisa, insistir no "toma lá, dá cá", visando apenas interesses particulares, é outra. Infelizmente, o que se sabe dessas conversas de coxia e de pé de escada tem pouco a ver com objetivos republicanos. A cada projeto do executivo, bom ou não, vem pressão para conquistas de cargos e liberação de verbas.

Sempre insatisfeitos

É um saco sem fundo. Se pedem a mão e recebem, já ficam de olho arregalado ambicionando os pés. Se forem atendidos nesse naco adicional, usam seu poder e experiência para visar outros benefícios. A imprensa revela parte dessas conversas de bastidores, mas a população fica alheia à maioria das pressões feitas.

Tanto Rodrigo Maia, no governo Bolsonaro, quanto Arthur Lira, na administração petista, enxergam vários lances à frente no tabuleiro. Sabem como ninguém tirar proveito de seus cargos. Não estou dizendo que buscam proveitos próprios. Não, na presidência da Casa, cada um em sua época precisa satisfazer as vontades dos grupos para continuar liderando.

Ou cede, ou cede

Você poderia perguntar: por que, então, o presidente não revela o que o obriga a ceder aqui, ali e acolá? Até poderia, mas e as consequências? Desnudar essas intenções camufladas talvez fosse como declarar guerra a um "inimigo" mais poderoso. Aí sim é que não conseguiria aprovar um único projeto.

Ou será que foi diferente com Bolsonaro? Na verdade, foi ainda pior. Rodrigo Maia demonstrou ser um adversário de todos os momentos. Com ele não tinha acordo. A não ser que o presidente concordasse com todas as suas exigências. O então primeiro mandatário endureceu o jogo, não abriu os cofres, nem as vagas e, por essa "ousadia", comeu o pão que o diabo amassou.

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Bolsonaro encurralado

Maia não perdia oportunidade para criticar Bolsonaro e estabelecer confronto. Sabia que estava com a faca e o queijo na mão. Se o presidente esperneasse, poderia ser ainda mais perverso em suas ações. Não media palavras para colocar o presidente contra as cordas. Em certo momento disse:

A gente precisa que o governo tenha uma base no sistema democrático. Não é o sistema autocrático, onde o governo impõe a sua posição. Nós vivemos numa democracia, e a decisão de hoje (aprovação da Reforma da Previdência) reafirma nossa democracia.

Ou seja, tentou capitalizar para a Câmara os louros da aprovação daquela reforma para a qual o Executivo havia lutado tanto, até contra a vontade de muitos deputados. Essas excelências só se renderam porque houve movimentos populares gigantescos defendendo a reforma.

Comendo pelas bordas

Bolsonaro, calejado pelos quase 30 anos de convivência com essa turma, não revidou aos ataques recebidos. Ao contrário, "malandramente" se referiu ao comprometimento do presidente da Câmara. Tinha consciência de que seus projetos continuariam dependendo da caneta de Maia para ter andamento.

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Se não bastasse, do outro lado da Praça dos Três Poderes havia o Alcolumbre, presidente do Senado, que agia na mesma linha que o seu parceiro da Câmara. Até que vencido seu mandato, o chefe do Executivo pôs sua cavalaria para destroná-lo. E ajudou a eleger Rodrigo Pacheco. Ufa! Ufa, nada! Pacheco, com intenções de ser o candidato da terceira via à presidência, foi ainda pior que seu antecessor.

Lula não bate de frente

A posição de Lula, embora tenha de ceder os anéis e os dedos, é mais confortável. Está perfeitamente alinhado com o presidente do Senado. Dizem que, como está de olho na próxima vaga do STF (Supremo Tribunal Federal), Pacheco não mede esforços para se mostrar um parceiro de todas as horas. Com Lira, mais ou menos. O jogo político é um pouco diferente. O presidente da Câmara negocia tudo e mais alguma coisa.

Sabe que Lula está desesperado para aprovar medidas que possam viabilizar seu governo, especialmente o aumento de tributos para dar conta dos incontroláveis gastos. Só que Lira também quer ficar para a história com uma marca perene. Deseja que a sua gestão seja a responsável pela Reforma Tributária. E praticamente vincula as aprovações dos projetos de Lula a essa sua conquista.

É fácil governar o país? Entendeu agora porque os presidentes entram no Palácio do Planalto com os cabelos pretinhos como a asa da graúna e saem de lá como se tivessem algodão sobre a cabeça? Mesmo assim, deve ser muito bom vestir essa faixa, já que todo mundo fica de olho nela. Alguns por até três vezes.

Superdicas da semana

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  • Para atingir objetivos maiores, às vezes, é preciso fazer concessões menores
  • Se não conseguir vencer o inimigo, junte-se a ele
  • Ações intempestivas podem provocar reações devastadoras
  • Em certas situações é preciso ceder os anéis, em outras até os dedos

O conteúdo desse tema é estudado no curso de pós-graduação em "Gestão de Comunicação e Marketing" que ministro na ECA-USP. Livros de minha autoria que abordam esses conceitos: "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Como falar corretamente e sem inibições" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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