Os que governam em tempos de partidos sem terem o poder e a energia de dominá-los, não contentam ninguém.
Lucas Alamán
Ainda que você deteste com todas as forças Jair Bolsonaro, há de concordar que o ex-presidente comeu o pão que o diabo amassou com o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Os projetos do governo, desde os mais simples aos mais complexos, sem nenhuma cerimônia, eram engavetados até caducar.
Os opositores vibravam com as atitudes de Maia, pois elas limitavam a capacidade de governar do presidente. Os bolsonaristas espumavam de raiva, já que esses entraves diminuíam o poder e as possibilidades de realização do governo. Maia se sentia, e era mesmo, o todo poderoso do país.
Mudança do sistema de governo
Tanto é verdade que por várias vezes o desafeto de Bolsonaro fez questão de discutir as vantagens de um regime parlamentarista, ou semipresidencialista no Brasil. Deixava claro, entretanto, que não seria para aquela gestão, pois o presidente havia sido eleito no presidencialismo pelo povo.
Suas asas tomaram tamanha envergadura que até chegou a ir à Espanha e França para compreender melhor o funcionamento dos sistemas parlamentarista e semipresidencialista nessas nações. Embora esse não fosse um tema revelado para sua viagem, a embaixada da Espanha divulgou essa matéria na agenda oficial.
Brigaram e perderam
Bem, Rodrigo Maia esperneou daqui e dali, mas não conseguiu convencer de que ele teria direito a mais uma gestão como presidente da Câmara. Tentou um último suspiro com cargo no governo de São Paulo, na gestão Doria, e desapareceu do cenário político brasileiro.
Ainda que visse sua trajetória truncada, talvez tenha feliz pendurado as chuteiras, pois conseguiu seu intento de atrapalhar o quanto pôde a vida de Bolsonaro. Deve ter assumido para si o crédito de parte da derrota do presidente na tentativa à reeleição. No fim, os dois brigaram e ambos perderam.
O mesmo veneno
Pois é, aqueles que exultaram com os obstáculos impostos por Maia ao governo passado, agora começam a sentir o gosto do mesmo veneno. Lula também está vivendo verdadeiro inferno nas mãos do atual presidente da Câmara, Arthur Lira. A vida do chefe do Executivo não tem sido fácil nas garras do Legislativo.
Com a faca e o queijo nas mãos, mandando e desmandando, Lira não esconde que Lula deve seguir suas determinações. Em recente matéria da Folha, foi noticiado:
Lira avisa que irá congelar projetos de Lula até o governo mudar a relação com os deputados.
Para não deixar dúvida de que o torniquete é bem apertado, a notícia complementa com esclarecimento indubitável:
Presidente da Câmara e líderes do centrão sinalizam que vão continuar pressionando o Planalto a buscar soluções céleres para atender pedidos da Casa.
Não tem para onde correr. Ou Lula se submete, ainda mais do que tem se submetido, às exigências daqueles que efetivamente têm o poder, ou vai continuar assistindo às derrotas sucessivas dos projetos apresentados. Por mais que o presidente se vanglorie da sua experiência e capacidade de articulação, está em um beco sem saída. Não consegue governar.
Já era tarde
Falando em "articulação", esse é outro ponto que foi muito criticado na gestão Bolsonaro. A oposição e boa parte da imprensa criticaram o fato de ele não saber articular com os parlamentares. Ele se defendia dizendo que, se para articular tivesse de distribuir cargos e verbas, preferia manter distância.
Quase ao apagar das luzes, naqueles momentos em que o chefe do Executivo passa a tomar café frio nas dependências do Planalto, vendo a água batendo no pescoço, deixou os escrúpulos de lado e sentou no colo do centrão. Aí já era tarde.
Os insaciáveis
Vamos ver o que Lula tem na manga para "convencer" suas excelências a chancelar suas propostas. Tudo indica que essa turma é insaciável. Quando conseguem a mão, já começam a reclamar que também querem o pé. Vão cedendo aos poucos para garantir o poder de barganha.
Os 37 ministérios para abrigar políticos de todos os partidos e as vultosas liberações de verbas não foram suficientes para aplacar a voracidade desses representantes do povo. É uma gula sem fim.
Os eleitores imaginaram ter escolhido o regime presidencialista, mas, na verdade, a Constituição de 1988, nas suas entrelinhas, foi promulgada para um sistema parlamentarista. Não dá para esquecer "as sábias" palavras de José Sarney.
Sarney profético
Ao ser perguntado em entrevista à Agência Senado se a Constituinte havia aprovado um Frankenstein, respondeu com ar profético: "Creio que o que foi feito é mais grave".
A frase repetida ad nauseam se confirma cada vez mais verdadeira: "Política não é para amadores". Do jeito que a coisa anda, parece que no Brasil atual, não é nem para profissionais.
Superdicas da semana
- As armas que empunha hoje serão as mesmas que o atacarão amanhã
- Há o poder de quem manda e o de quem pensa que manda
- Os poderosos quase sempre são insaciáveis em suas demandas
- Basta olhar a história para saber que nada é perpétuo
O conteúdo desse tema é estudado no curso de pós-graduação em "Gestão de Comunicação e Marketing" que ministro na ECA-USP. Livros de minha autoria que abordam esses conceitos: "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante.
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