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Reinaldo Polito

OPINIÃO

Os bolsonaristas, de novo, esperam por milagre

Bolsonaro e Alexandre de Moraes com cara de poucos amigos - Antonio Augusto/Divulgaçao TSE
Bolsonaro e Alexandre de Moraes com cara de poucos amigos Imagem: Antonio Augusto/Divulgaçao TSE

Colunista do UOL

04/07/2023 04h00

O cético é um homem que não duvida de nada.
Paul Claudel

Bolsonaro ainda não foi sepultado. Os governistas lutam para que ele suma do mapa de uma vez por todas. Querem que seja preso como fizeram com Lula. O ex-presidente, porém, para desespero do líder petista, parece ter fôlego de reserva e luta incansavelmente para sobreviver no jogo político.

Eleitores inconformados

Assim que o resultado das eleições foi divulgado, houve um choque de incredulidade em boa parte dos eleitores de Bolsonaro. Acostumados a ver legiões de seguidores do então presidente por todos os cantos do país, não se conformavam com a derrota do seu candidato.

Muita gente não acreditou na apuração das urnas. Sem ter a quem recorrer, os seguidores do ex-presidente se postaram na frente dos quarteis na esperança de que os militares se juntassem a eles. Esperaram que um milagre pudesse surgir. O fim foi trágico, com centenas de manifestantes presos, acusados de tentativa de golpe.

Bolsonaro inelegível

Passados seis meses, os eleitores de Bolsonaro perceberam que o resultado era irreversível. Lutaram por uma causa perdida. Talvez tivessem aproveitado mais o tempo se dedicassem os esforços a planejar oposição ao governo Lula.

Agora, tornaram Bolsonaro inelegível por oito anos. Fora das disputas políticas até 2030, não poderá pleitear até lá a presidência da república. Outra vez os eleitores do ex-presidente se mostram indignados com a decisão do TSE e, a exemplo do que ocorreu em janeiro, renovam as esperanças para um milagre.

O projeto de lei

Uma das iniciativas para tentar reverter a decisão dos ministros é o projeto de lei de autoria do deputado Sanderson (PL-RS). O texto tem por finalidade anistiar quem foi condenado por ilícitos cíveis eleitorais ou declarados inelegíveis a partir de 2 de outubro de 2016.

Há várias exceções. Não serão contemplados, por exemplo, quem cometeu crime de racismo, terrorismo e hediondo. Ficam de fora também os condenados por abuso de autoridade, lavagem de dinheiro, ocultação de bens e tráfico de entorpecentes. Também não serão anistiados, entre outros, aqueles que cometeram crimes contra a administração pública e o patrimônio público.

Seria casuísmo?

Não é preciso muita reflexão para observar que esse projeto de lei talvez seja um casuísmo que visa conceder a Bolsonaro o direito de continuar se candidatando. Embora os bolsonaristas estejam esperançosos, na verdade é mais uma busca daqueles sonhos que tem tudo para terminar em pesadelo.

Para dar ideia de como o projeto de lei encontrará dificuldade na tentativa de aprovação, é suficiente mencionar que precisará passar primeiro pela Câmara dos Deputados, onde a oposição até possui números vantajosos. Depois pelo Senado, que conta com maioria governista. Ainda que seja aprovado nas duas casas legislativas, terá de enfrentar o veto presidencial.

Dentro da lei

Nesse labirinto, é necessário considerar que Lula não daria sua chancela a um projeto que anistiasse seu maior desafeto e mais ferrenho adversário. Com seu veto o projeto volta para o legislativo que deverá aceitar ou não a decisão presidencial. É muita peregrinação para encontrar a saída desejada.

Mesmo tendo de esmurrar portas trancadas, o projeto de lei é constitucional. O próprio autor enfatizou que tomaram todos os cuidados para que o texto obedecesse às normas legais. Por isso, ainda que critiquem o caráter conveniente do projeto, terão de aceitar que se ampara na lei.

A derradeira esperança

Como, entretanto, enquanto há vida há esperança, os seguidores de Bolsonaro se agarram a esse fio para não entregar os pontos definitivamente. É legítimo que pelejem, mesmo com chances tênues, por uma causa na qual acreditam. Quem pode impedir que lutem enquanto há armas para as suas batalhas?

A fresta no fim do túnel é que muitos políticos que votarão o projeto de lei também poderão se beneficiar dele. Assim, para defender seus próprios interesses, ainda que não quisessem, talvez deem uma mãozinha à causa bolsonarista.

Previsão ilógica

Seria uma grande surpresa se em 2026 víssemos o ex-presidente novamente como candidato. Quantos "sustos", porém, a política brasileira já nos proporcionou?! Teríamos apenas mais uma notícia fora das previsões lógicas. E na linha do batido "enquanto há vida há esperança", cabe aqui "o futuro a Deus pertence".

Bem, para quem viu Lula sair da prisão, com todas as condenações anuladas nas três instâncias, chegando mais uma vez ao Palácio do Planalto, não pode duvidar de nada.

Superdicas da semana

  • A derrota só é consumada depois de concluídas todas as tentativas
  • O amanhã é incerto até para as maiores certezas
  • Desde que as normas legais sejam respeitadas tudo pode ser tentado
  • As portas trancadas hoje, talvez estejam abertas no futuro

O conteúdo desse tema é estudado no curso de pós-graduação em "Gestão de Comunicação e Marketing" que ministro na ECA-USP. Livros de minha autoria que abordam esses conceitos: "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante.