Reinaldo Polito

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Opinião

Torço para Lula acertar a mão e melhorar o país, mas ele não ajuda muito

Quem não sabe agradar segundo o vento que sopra, logo, logo pega um resfriado.
Millôr Fernandes

Acendeu a luz amarela no governo. O decreto assinado pelo presidente Lula, publicado no Diário Oficial no dia 28, sexta-feira, retira R$ 1,5 bilhão de dez ministérios. As pastas mais afetadas são da Saúde, com R$ 452,024 milhões; e da Educação com R$ 332,017 milhões. Quem poderia ficar feliz com uma notícia dessa?!

Se alguém, simplesmente por ideologia ou preferências políticas partidárias, torcer para que o país vá mal com a nova administração, é imbecil e antipatriótico. Quem ficaria insatisfeito vendo o desemprego despencar, o PIB crescer, a inflação perder força e a taxa de juros declinar?

Se o país for bem, os investidores internos e externos se sentirão tranquilos e motivados para empreender e colocar seu rico dinheirinho na nossa economia. Por outro lado, se houver desconfiança e os números não forem positivos, essa turma fugirá do risco como o diabo da cruz.

A esperança

Muita gente que votou em Lula estava com a cabeça voltada para os seus dois primeiros mandatos. Havia esperança de que aquelas gestões que mereceram 83% de aprovação popular pudessem se repetir. Quem sabe, até ser um pouco melhor. Afinal, agora já existe a experiência das duas primeiras administrações.

Bastaria que Lula e seus ministros observassem o que não deu certo nas primeiras vezes e ajustassem para que o resultado fosse ainda mais expressivo. Os eleitores confiavam que haveria menos pobres e mais pessoas felizes sob a proteção do "Painho". Depois de sete meses de governo, entretanto, infelizmente para os brasileiros, as perspectivas não são animadoras.

Os motivos

Há explicação lógica para que as coisas não caminhem de acordo com as expectativas. O primeiro motivo é a composição dos ministérios. É gente demais, gastando muito dinheiro, sem experiência técnica, a maioria pinçada apenas por motivos políticos e, o que é pior, sem projetos consistentes, que pudessem canalizar de maneira competente os nossos escassos recursos.

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Outro motivo é a falta daquela sorte que bafejou Lula quando habitou o Palácio do Planalto nas duas administrações anteriores. Naquela época, todos os ventos eram favoráveis. O mundo crescia de forma harmoniosa. A China, o grande mercado consumidor do planeta, expandia a taxas impressionantes de até 12%. Por isso, as comodities, nosso carro-chefe nas exportações, deitavam e rolavam.

A herança maldita

O dinheiro jorrava naturalmente por todas as portas. Além desse voo de cruzeiro, que ganhava os ares até sem a necessidade de piloto, havia a "herança maldita". Embora Lula criticasse Fernando Henrique Cardoso por ter quebrado o país duas vezes, todo mundo sabe que esse julgamento não correspondia à realidade. FHC foi "uma verdadeira mãe" para o petista.

O pessedebista deixou o país azeitado para Lula. Tanto assim que o próprio então ministro Palocci foi procurar o ex-presidente para agradecer o cuidado e a lisura que teve com as contas. Não que Bolsonaro não tenha feito o mesmo. Talvez até pensando que pudesse se reeleger, deixou um superavit de R$ 54,1 bilhões. Esses números superaram as estimativas do seu próprio governo, que eram de R$ 34,1 bilhões.

O cenário hoje

Só para dar ideia da situação atual, basta dizer que o governo de turno já registrou déficit de R$ 42,3 bilhões. Ao assumir a presidência pela primeira vez, Lula recebeu números redondos e equilibrados. Com o crescimento do mercado mundial, bastou surfar na onda. Agora não. Mesmo recebendo os cofres em ordem, não poderá contar com a ajuda do comércio favorável entre os países.

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Ainda que a China cresça 5%, segundo as previsões para este ano, esse indicador pode ser considerado um desastre quando comparado com os saudosos 12%. E a estimativa para 2024 é ainda mais desanimadora. Sem contar que a União Europeia e os Estados Unidos estão se virando do jeito que podem para conter a inflação. Lançam mão do aumento da taxa de juros para não perder o controle.

Impostos ou corte de gastos?

Para dar comida e um pouco de qualidade de vida às classes mais necessitadas o governo precisa de muito dinheiro. E não tem grana para todo mundo. Como Lula não tem vocação para cortar gastos, só pode contar com os indigestos impostos para aumentar a arrecadação. Essa prática, entretanto, asfixia o país, que já é hoje um dos maiores pagadores de tributos do mundo.

Será difícil encontrar investidores interessados em pôr dinheiro em um país com esse quadro de incertezas. Continuo torcendo. Muito. Pelo andar da carruagem, todavia, por mais fortes que sejam as minhas preces, só muita fé para o "cavalo selado" passar trotando novamente.

Superdicas da semana

  • Ninguém é obrigado a saber tudo, mas sim como se cercar de pessoas competentes
  • Os discursos são bons para a campanha política, mas nem sempre resolvem os problemas econômicos
  • Se a situação externa for favorável, o governo deve pensar no futuro e investir
  • Se a situação externa não for boa, deve apertar o cinto e equilibrar as contas
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O conteúdo desse tema é estudado no curso de pós-graduação em "Gestão de Comunicação e Marketing" que ministro na ECA-USP. Livros de minha autoria que abordam esses conceitos: "Superdicas para uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar corretamente e sem inibições" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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