José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

IPCA atingirá pico em setembro e não deve alterar ritmo de corte nos juros

A marcha da inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), está cumprindo o roteiro previsto. Em agosto, conforme divulgado nesta terça-feira (12) pelo IBGE, a alta de preços ficou ligeiramente abaixo do esperado, com destaque para nova redução de preços de alimentos.

No mês passado, o IPCA subiu 0,23% (previsões eram de elevação de 0,28%), somando alta de 3,23% no ano e acumulando 4,61% em 12 meses (3,99%, em julho). Se não houver mudanças inesperadas de curso, a inflação atingirá em setembro o pico de 2023. Com a maior elevação mensal no ano, entre 0,45% e 0,5%, avançará para 5,3%, no acumulado em 12 meses.

Selic no ritmo já sinalizado

Projeções indicam recuo da inflação, em relação ao pico de setembro, no trimestre final de 2023. Apesar de manter elevações mensais nas vizinhanças de 0,5% entre outubro e dezembro, as previsões para o fechamento do ano variam em torno de alta de 5%. Confirmado esse resultado, a inflação, por mais um ano, ficará acima do teto do intervalo de tolerância previsto no sistema de metas. Para 2023, o centro da meta está fixado em 3,25%, com intervalo de 1,75% a 4,75%.

O ritmo de evolução da inflação, com previsão de altas moderadas nos preços até o fim do ano, reafirma também a expectativa de cortes na taxa básica de juros no passo já sinalizado de reduções de 0,5 ponto percentual, em cada uma das três reuniões restantes do Copom (Comitê de Política Monetária) em 2023. Com base nessa expectativa, dos atuais 13,25% ao ano, a Selic fecharia o ano em 11,75%.

Previstas reduções menos intensas em alimentos

Embora a alta no acumulado em 12 meses, no terceiro trimestre, se explique pela base de comparação deprimida de 2022, pelas intervenções do governo Bolsonaro para segurar a inflação, às vésperas da eleição presidencial de outubro, o ambiente dos preços aponta pressões moderadas para os próximos meses.

Sinais dessas tendências de alta nos preços já puderam ser localizadas no índice de dispersão e na evolução da média dos núcleos de inflação. A dispersão, que mede a quantidade de itens que compõem o IPCA com alta de preços no mês, avançou de 46,15%, em julho, para 53,05%, em agosto, embora se encontre bem abaixo do índice de 65,25%, registrado em agosto do ano passado. Já a média dos núcleos, subiu para 0,28%, em agosto, ante alta de 0,18%, em julho, mas manteve tendência de alívio, na média móvel trimestral.

Nas projeções de Fabio Romão, economista da LCA Consultores com larga experiência no acompanhamento de preços, uma aceleração do IPCA em setembro deverá vir do recuo menos intenso em alimentos, da entrada de novas coleções em vestuário e de altas em combustíveis. A reversão da alta em energia elétrica, que afetou, negativamente, a inflação de agosto, deve contribuir para segurar o índice.

Momento de pressão em combustíveis

Nos combustíveis, chamam a atenção as altas projetadas para o óleo diesel, cujo impacto é forte em grande parte das atividades, a começar da comercialização de alimentos. De deflação de 1,37%, em julho, o preço do diesel aumentou 8,54%, em agosto, com o IPCA já captando os reajustes de preços decretados em meados do mês passado.

Continua após a publicidade

Para setembro, Fabio Romão projeta alta de 13%, e tem observado pressões nos preços do diesel por desequilíbrios de oferta. Para o acumulado do ano, contudo, as projeções são de alta pequena, abaixo de 2%, em razão da base elevada de comparação com 2022, ano em que o preço do diesel subiu 22,8%.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes