José Paulo Kupfer

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Opinião

Inflação moderada em setembro abre espaço para IPCA dentro da meta em 2023

A alta setembro, no acumulado em 12 meses, deve marcar o pico da inflação em 2023. Divulgado nesta quarta-feira (11), a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que vem subindo, no acumulado em 12 meses, mês a mês, desde julho, avançou 5,19%. Mas esse recorde esconde uma marcha moderada dos preços, com projeção de resultados mais favoráveis no final de 2023 e em 2024.

Com avanço de 0,26% no mês (abaixo das estimativas de 0,33%) e 3,5% no ano, a variação do IPCA, em 12 meses, deve recuar a partir de outubro, fechando 2023 com elevação abaixo de 5%, segundo novas projeções, refeitas a partir dos resultados de setembro.

O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, um dos mais experientes especialistas brasileiros em acompanhamento de preços, está projetando agora inflação de 4,7% para o conjunto de 2023. Para 2024, Romão projeta inflação, medida pela variação do IPCA, com alta de 4%.

Tendência dos preços reforça ritmo de corte dos juros

Se esta previsão se confirmar, a inflação terá voltado, em 2023, para dentro o intervalo de tolerância do sistema de metas, que prevê centro em 3,25%, podendo variar de 1,75% a 4,75%. A variação do IPCA ficou acima do teto do intervalo da meta em 2021 e 2022.

A tendência de convergência da inflação para dentro da meta reforça a perspectiva de que o Banco Central continue cortando a taxa básica de juros (taxa Selic) em pelo menos no 0,5 ponto já anunciado, nas duas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) restantes no ano.Se isso ocrrer, o ano de 2023 se encerrará com a Selic a 11,75% nominais ao ano.

Dependendo de uma evolução mais favorável da situação internacional, sobretudo se a guerra no Oriente Médio não se estender no tempo ou no envolvimento de outros países, não se deveria descartar a hipótese de cortes acima de 0,5 ponto, já no último Copom de 2023 e em 2024.

O recorde de setembro, no acumulado em 12 meses, se deve à base de comparação baixa de 2022. Em setembro de 2022, o IPCA registrou variação negativa de 0,29%, inferior à alta de 0,26%, apurada em setembro de 2023. Para os três meses finais de 2023, as altas mensais previstas variam entre 0,3% e 0,5%. Como, possivelmente, a inflação mensal, nos três finais de 2023, ficará abaixo das variações registradas nos mesmo meses de 2022, a tendência é de recuo, no acumulado em 12 meses.

Preços de alimentos continuam para baixo

Mais uma vez, a inflação foi puxada para baixo pelos preços dos alimentos. O recuo no grupo foi menos intenso do que em agosto, quando houve queda de 0,85%, mas ainda assim registrou deflação de 0,71%. Para o ano, as previsões de deflação de 0,6% nos alimentos, com queda de 2,6% no sub-grupo de alimentos consumidos em casa.

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Populações de menor renda são diretamente favorecidas por recuos nos preços dos alimentos, uma vez que é maior o impacto do grupo alimentação no orçamento de famílias mais pobres. Tanto é assim que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), registrou inflação de apenas 0,11% em setembro, levando a uma alta de 2,9% no ano e a elevação de 4,51%, no acumulado em 12 meses.

Enquanto o IPCA registra as variações de preços, num dado mês, para famílias com renda entre um e 40 salários mínimos, o INPC apura a mesma variação de preços, e nas mesmas dez regiões metropolitanas, para famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos.

Preços dos combustíveis para cima

Os vilões da inflação de setembro foram os combustíveis. Gasolina, com alta de 2,8% no mês, foi o item isolado que mais contribuiu para a elevação da inflação. Óleo diesel, com avanço de 10,11% nos preços, e gás veicular, com alta de 0,66% reforçaram o peso do sub-grupo na variação total do IPCA. Os aumentos nos preços dos combustíveis ficaram abaixo das previsões.

Outros indicadores da marcha da inflação, como a média dos núcleos e o índice de difusão, apresentaram bom comportamento em setembro. Os núcleos, que medem as variações de preço sem considerar fatores sazonais ou imprevistos, subiram 0,21% no mês. Menos, portanto, do que o índice cheio.

Já a difusão, que mede o número de itens que registraram aumento de preço, no total de 377 de bens e serviços da cesta do IPCA, ficou em 42,7%. O resultado é menor do que a taxa de 53% apurada em agosto, e bem abaixo da média histórica de 62%.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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