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Mesmo com ganho menor, busca por poupança quintuplica no 1º trimestre

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

09/04/2013 06h00

Apesar do rendimento menor, a busca dos investidores pela poupança quintuplicou no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. A captação líquida (diferença entre depósitos e saques)  foi de R$ 10,6 bilhões no primeiro trimestre, enquanto em 2012 tinha sido de R$ 2,1 bilhões

O primeiro trimestre de 2013 foi um período marcado pela derrota das principais aplicações financeiras, independentemente do grau de risco, em relação à inflação.

Essa pode ter sido a razão para o investidor optar pela poupança e ensaiar um retorno para as aplicações pós-fixadas (que acompanham a taxa de mercado denominada CDI), como sugerem as estatísticas mais recentes do mercado financeiro.

No campo da renda variável (ações), os números mostram um interesse maior pelos produtos com uma gestão mais ativa do dinheiro aplicado, em vez dos fundos de ações mais populares, que perseguem “o termômetro” da Bolsa de Valores (o índice Ibovespa).

Veja as aplicações mais buscadas pelos investidores

AplicaçõesCaptação (*) no primeiro trimestre de 2013Captação no primeiro trimestre de 2012Variação em 12 meses
Poupança10.581,262.129,47396,8%
Fundos Renda Fixa27.887,9015.26282,7%
Fundos cambiais20,5416,822,3%
Fundos Multimercados3.862,8112.217-68,4%
Fundos de ações5.852,29-1.028,24-
Fundos DI-3.299,9124.525-

Fonte: Banco Central e Anbima. (*) Em R$ milhões. Captação líquida: depósitos menos retiradas

A atração da poupança

No momento de pior rendimento em quase 50 anos, a captação líquida (a diferença entre depósitos e retiradas) passou a cifra histórica de R$ 10 bilhões no primeiro trimestre. No mesmo período em 2012, a captação foi praticamente um quinto desse valor: cerca de R$ 2,12 bilhões.

Especialistas apontam dois motivos básicos para esse comportamento dos poupadores: primeiro, o desconhecimento de alternativas melhores, como parecem sugerir pesquisas recentes; segundo, o fato dos fundos de investimentos mais conservadores ainda afugentarem muitos devido à pesada carga de impostos sobre os ganhos, além de taxas de administração altas.

O planejador financeiro Alvaro Dias vê uma concentração preocupante do dinheiro em aplicações mais indicadas para o curto prazo, em vez  de uma visão de longo prazo, direcionada, por exemplo, para a aposentadoria.

“Pela minha experiência, a maior parte não tem uma estratégia clara de investimentos. As pessoas ainda aplicam de acordo com as notícias do momento. E muita gente acaba não tendo um planejamento financeiro, e não pensa esse planejamento ao longo do tempo”, diz.

Crescem os depósitos em fundos DI

Os dados do primeiro trimestre mostram que mais de R$ 3,3 bilhões saíram dos Fundos DI, enquanto um montante de R$ 27 bilhões (entre depósitos e retiradas) migraram para os fundos de Renda Fixa, em contraste com o panorama visto no início de 2012.

Nos primeiros três meses do ano passado, mais de R$ 24 bilhões foram deixados nos fundos DI, acima dos R$ 15 bilhões direcionados para a linha de Renda Fixa.

Os fundos DI ganham quando a taxa básica de juros aumenta, enquanto os fundos Renda Fixa têm desempenho mais vantajoso quando o cenário é de queda dos juros.

Mas os números de março chamam a atenção: somente considerando os fundos DI, os depósitos superam as retiradas em R$ 2,1 bilhões naquele mês. Já no caso dos fundos de Renda Fixa as retiradas superaram o volume aplicado por uma diferença de R$ 4,8 bilhões.

Ainda é cedo para dizer se a cifra de março é uma tendência, mas essa possível mudança do comportamento do investidor faz sentido. Até dezembro de 2012, muitos economistas previam uma redução dos juros básicos, considerando o baixo ritmo de crescimento. Mas no início deste ano, há uma opinião quase unânime entre economistas de que a taxa básica vai subir novamente.

O boletim Focus, que reflete as previsões de uma centena de instituições financeiras, aponta uma taxa básica em torno de 8,5% ao ano em dezembro --e o mesmo patamar para 2014-- ante 7,25% atualmente.

A taxa básica é uma das principais ferramentas do governo para regular a economia porque, entre outros motivos, afeta diretamente o custo dos empréstimos para consumidores e empresas. Quando a preocupação é maior com o baixo crescimento, os juros tendem a cair. Quando a inflação é a maior ameaça, os juros tendem a subir.

A aversão à Bolsa de Valores

O desinteresse do investidor pessoa física pela Bolsa de Valores é visível: a participação dessa fatia de compradores no movimento da Bolsa caiu de 25% para 15% ano passado, uma taxa que se mantém no início de 2013.

Os três anos de um fraco desempenho da Bolsa podem explicar esse comportamento. Para especialistas, é possível que o investidor também não avalie as quedas recentes como uma oportunidade para “comprar na baixa”, ou tenha exaurido sua paciência para esperar a recuperação do mercado.

“Essa aversão ao risco que nós estamos vendo agora, eu acho que é por falta de informação. Existem boas oportunidades no mercado, e várias empresas sólidas estão anunciando lucros”, diz Aline Rabelo, coordenadora do site especializado Investmania, “mas essas oportunidades, às vezes, fogem do campo das 'blue-chips' [ações mais negociadas da Bolsa]”.

Os dados da indústria de fundos contam uma história um pouco mais complicada. Mais de R$ 5 bilhões foram depositados nos fundos de ações no primeiro trimestre. Em 2012, nos primeiros três meses, o saldo entre depósitos e retiradas foi negativo em R$ 1 bilhão.

Mas os dados de 2013 não significam necessariamente que os investidores voltaram a enxergar a Bolsa de Valores com outros olhos, mas sim, uma aposta em produtos mais especializados.

Os fundos que somente acompanham o Ibovespa (o principal indicador da Bolsa) tiveram uma entrada de somente R$ 21 milhões (entre saques e resgates) neste ano.

Houve mais entusiasmo com outros dois tipos de fundos de ações: os produtos enquadrados nas categorias “Ibovespa ativo” (captação de R$ 2,26 bilhões no ano) e “Ações Livre” (R$ 3,31 bilhões).

O primeiro tipo de fundo tem por objetivo superar o índice da Bolsa, enquanto o segundo libera o gestor (o responsável por aplicar o dinheiro dos investidores) para escolher as ações que julgar mais rentáveis, sem se comprometer com um indicador.