Investir em precatório pode render mais de 2% ao mês, mas vale a pena?
Se você costuma acessar conteúdos sobre investimentos em sites e nas redes sociais é possível que já tenha visto ofertas para aplicar em precatórios. Em geral, essas ofertas destacam a alta rentabilidade potencial desses investimentos, mas procuram esconder que o risco também é alto.
Quanto rende um investimento em precatórios?
Alguns precatórios guardam um potencial de retorno acima de 2% ao mês. Um investimento com essa taxa dobraria o capital aplicado em três anos e meio, já descontando o Imposto de Renda.
A título de comparação, uma aplicação no Tesouro Direto, considerando a rentabilidade atual, levaria em torno de sete anos e meio para dobrar de valor, também descontando o IR.
O problema é que esse é apenas o potencial de retorno. Na prática, o ganho pode acabar sendo bem mais baixo.
O que é um precatório?
O precatório é um título que representa uma dívida que o setor público tem com pessoas físicas.
Sendo mais específico, o precatório representa o reconhecimento, por parte do setor público, de que tem uma dívida com um indivíduo, devido a uma ação judicial, e que irá pagá-la.
Uma pessoa que ganhou uma ação judicial contra o Estado recebe um precatório, ou seja, esse documento em que o setor público reconhece tal dívida. Mas essa mesma pessoa pode vender o seu precatório, em vez de ficar esperando o Estado pagar.
É aí que entra a possibilidade de investir em precatórios. Fazer essa aplicação nada mais é do que comprar um precatório das mãos de alguém que tinha um dinheiro a receber do Estado.
Qual é o risco de investir em precatórios?
O principal risco do precatório é a demora para você receber o dinheiro. Quando as empresas anunciam que esse título pode ter um retorno de, digamos, 25% ao ano, elas estão estimando que o valor seja pago ao investir em uma data específica.
Só que essa data específica pode levar muito tempo para chegar, reduzindo, assim, a rentabilidade média por ano.
Por exemplo, você investe em um precatório cujo pagamento está previsto para ocorrer daqui a 12 meses, com uma rentabilidade de 25%. Mas, conforme o pagamento atrasa, a rentabilidade vai caindo. Se atrasar em 12 meses, é possível que a sua rentabilidade fique em torno 35% para os dois anos, o que daria uma média de 16% ao ano, aproximadamente.
Quanto maior for o atraso, mais a sua rentabilidade fica próxima do CDI, ou seja, das aplicações de renda fixa mais comuns, como o CDB e o Tesouro Direto.
O problema da liquidez
Até aí, tudo bem. Você poderia dizer: "Olha, eu acho que vale a pena, pois se investir em um CDB ou no Tesouro eu terei uma rentabilidade baixa; então vou investir em um precatório, pois se não render tanto quanto o previsto, também não vai render menos que um CDB ou o Tesouro".
O raciocínio está correto, mas desde que você tenha ciência de que você não terá previsão de quando será pago.
No Tesouro ou nos títulos de renda fixa como CDB, LCA e LCI, nem sempre você tem liquidez diária (possibilidade de resgatar a qualquer momento), mas o prazo para recebimento do valor é sempre claro.
Por exemplo, um título do Tesouro pode ter vencimento para o ano de 2026, 2029, 2045, etc. Quando a data de vencimento chegar, você sabe que receberá o valor prometido. O mesmo vale para CDB, LCA, LCI e outros títulos de renda fixa.
A diferença do precatório é que ao investir nele você não sabe quando vai receber o dinheiro e, consequentemente, também não sabe qual será a sua rentabilidade média ao ano.
Então não vale a pena?
Na verdade, não é que não vale a pena. Eu disse tudo isso para você entender os riscos.
O precatório vale a pena em uma situação bem específica: a da pessoa que quer uma rentabilidade acima do CDI e não se importa em não saber quando receberá o dinheiro.
Apenas saiba que, quanto mais você demorar para receber o dinheiro, menor será a sua rentabilidade. Porém, por maior que seja o atraso, a rentabilidade ficará sempre acima do CDI (mesmo que bem pouco acima, no caso de um atraso muito grande).
Alguma dúvida?
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