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Natura muda planos, mas nega se desfazer de Aesop e The Body Shop; e agora?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/09/2022 14h41

As ações da Natura & Co começaram o pregão de hoje em alta depois de notícias sobre a reestruturação da empresa. O conselho de administração da fabricante de cosméticos está reunido desde ontem para, segundo informações veiculadas pela imprensa e confirmadas pela corretora XP, aprovar a fusão das operações da Natura e da Avon na América Latina em uma única empresa.

A Avon havia sido adquirida em maio de 2019 por US$ 2 bilhões, com o objetivo de tornar a Natura uma empresa mais global. A compra da Avon tornou a Natura o quarto maior grupo de beleza do mundo e uma das empresas brasileiras mais internacionalizadas do país.

Com a fusão, a Natura deixaria esse plano de lado para focar mais na região.

A Natura divulgou nota ao mercado negando as negociações para se desfazer das marcas Aesop e The Body Shop.

Desde o início da reunião do conselho de administração, a ação está em um sobe e desce. No dia 14, fechou em queda de 6,46%. Hoje, recuperou parte das perdas. Pela manhã do dia 15, a ação chegou a subir mais de 2,8%. Ao meio dia, estava em alta de 0,97%, cotada a R$ 16,61.

A Natura vem em crise desde o ano passado, e as ações da companhia refletem isso. Em julho de 2021, os papéis custavam R$ 60. Hoje, estão valendo 72% a menos.

O que pode mudar? O que o conselho da fabricante de cosméticos está discutindo, segundo a XP, é fusão das operações de Natura e Avon na América Latina em uma única empresa.

O plano seria focar no continente latino-americano, e não mais num mercado mundial A nova configuração seria comandada por João Paulo Ferreira, atual presidente da Natura & Co para a região.

Seria necessário desmontar boa parte do que foi estruturado desde 2013, quando a Natura fez sua primeira aquisição internacional com a compra da Aesop. A marca australiana, que hoje responde por 6% da receita do grupo, e também a inglesa The Body Shop, que gera 14%, seriam separadas da companhia e poderiam se tornar empresas independentes, listadas em Bolsa separadamente, ou até vendidas. Entre janeiro e junho, o grupo teve R$ 17 bilhões em receitas.

"Também acreditamos que exista a possibilidade da companhia focar apenas nos mercados principais da Avon Internacional, terceirizando suas operações para distribuidores em países não rentáveis", publicou a XP em relatório para acionistas.

Procurada, a Natura ainda não respondeu à reportagem sobre essas movimentações.

América Latina é o futuro da Natura? As operações de Natura e Avon na América Latina geram hoje cerca de 55% da receita do grupo. A Natura & Co tem uma dívida bruta de R$ 11,5 bilhões.

Fábio Barbosa, que assumiu o controle do grupo em junho, tem a missão de enxugar a estrutura da companhia, conforme ele mesmo disse em sua posse.

O que o mercado acha do novo plano? A XP faz ressalvas ao plano da empresa. Segundo eles, não é um bom momento para separar a marca Aesop do grupo, pois a marca está iniciando um ciclo de investimentos para entrar na China, o que deve pressionar a rentabilidade no curto prazo, avaliou a empresa, em documento para investidores.

Mas a venda da The Body Shop seria positiva. Esse movimento reduziria a complexidade da companhia, dado que a marca demanda energia e capital dos executivos. Historicamente, a marca inglesa não foi um grande sucesso para a empresa brasileira. "Embora não vejamos compradores em potencial, acreditamos que fundos de private equity possam ser os mais prováveis", diz a XP.

O que diz a Natura: Em nota divulgada ao mercado ontem à noite, 15, a Natura &Co confirmou que está conduzindo uma reorganização do grupo, "para uma estrutura mais simples de holding".

Mas a empresa negou que poderia transformar a Aesop ou a The Body Shop em empresas independentes ou até vendê-las. "O conselho de administração não está conduzindo atualmente qualquer estudo específico acerca de um possível spin-off (separação do grupo) da Aesop ou venda da The Body Shop", diz a nota.

A companhia, porém acrescentou que, a "administração avalia constantemente todas as alternativas estratégicas para criação de valor que estejam em linha com os melhores interesses de seus acionistas, colaboradores e outros stakeholders".

E o que fazer com as ações? O BTG revisou ontem sua avaliação para a companhia. "Estamos rebaixando a classificação de Natura em função do cenário ainda incerto por seus planos de recuperação, pressões inflacionárias e o ainda alto custo de captação", avaliou o banco em documento para acionistas.

A recomendação é não comprar nem vender, e o preço alvo é de R$ 18. O curto prazo deve seguir desafiador para a Natura, com margens pressionadas e receita fraca, enquanto a perspectiva de juros altos e endividamento oferecem pouco espaço para uma melhoria, diz o banco.

Mas para a XP, a ação deve chegar a R$ 22 em 12 meses, e por isso pode ser uma boa compra.

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