Como investir para ganhar R$ 1 mil por mês em dividendos do agronegócio
Com dividendos altos, as empresas do agronegócio conquistaram investidores nos últimos dois anos. Mas pagamentos como os R$ 3,21 por ação da BrasilAgro ou os R$ 2,60 da SLC Agrícola levantam dúvidas - esses valores altos vão continuar a ser pagos no longo prazo?
É uma boa opção para ter renda passiva. Para o analista Gabriel Duarte, da Ticker Research, é possível encaixar ações do agronegócio em estratégias de renda passiva. Embora seja um setor cíclico, há empresas que geram caixa mesmo em momentos difíceis. "O principal é a capacidade da gestão de administrar a companhia nos momentos bons e ruins", afirma.
Empresas do agro são cíclicas: como lidar com esse investimento?
O agronegócio é um setor cíclico. Isso porque depende do clima e das épocas de colheitas, que afetam a produtividade, preços das commodities e valor das ações. Variações no clima, fenômenos como El Niño ou La Niña costumam ser comuns e podem impactar as safras, a oferta de commodities agrícolas e os preços, diz Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research.
A receita pode ser afetada. Algumas empresas lucram mais durante a época de colheita e, caso não tenham estocado para vender na entressafra, podem ter queda nos resultados. Algumas empresas fazem uma operação financeira chamada de hedge, que pode trazer mais previsibilidade aos custos e resultados.
Use a ciclicidade ao seu favor. Uma dica é comprar mais ações nos períodos de queda das cotações para acumular mais papéis e receber mais dividendos na virada de ciclo, diz Duarte.
Quem paga mais? Quanto investir para ter renda mensal de R$ 1.000?
Nos últimos 12 meses, as empresas que mais pagaram dividendos no agro foram BrasilAgro (AGRO3) e a Kepler Weber (KEPL3). É o que revela levantamento do analista Fábio Sobreira, da Harami Research. Se observado um histórico maior, BrasilAgro (AGRO3), SLC Agrícola (SLCE3) e São Martinho (SMTO3) se destacam.
Rendimentos são medidos pelo dividend yield (DY). Essa é a relação entre o valor da ação e dos dividendos, que significa quanto você vai ganhar de rendimento apenas com os dividendos.
Veja abaixo qual é o rendimento das ações do agro em 12 meses e em um período maior. Saiba também quanto você precisa investir para ter uma renda mensal de R$ 1.000, seguindo o dividend yield médio. Isso não significa que você receberá R$ 1.000 todos os meses, mas sim que ganhará, em média, R$ 12.000 por ano.
SLC Agrícola (SLCE3)
- DY em 12 meses: 7,99%
- DY médio: 3,77%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 318.302,39
BrasilAgro (AGRO3)
- DY em 12 meses: 11,24%
- DY médio: 7,85%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 152.866,24
Três Tentos (TTEN3)
- DY em 12 meses: 1,05%
- DY médio: 0,16%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 7.500.000
Terra Santa (LAND3)
- DY em 12 meses: 7,04%
- DY médio: 0,71%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 1.690.140,85
Boa Safra Sementes (SOJA3)
- DY em 12 meses: 0,68%
- DY médio: 1,05%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 1.142.857,14
Kepler Weber (KEPL3)
- DY em 12 meses: 10,90%
- DY médio: 3,36%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 357.142,86
Jalles Machado (JALL3)
- DY em 12 meses: 5,31%
- DY médio: 2,57%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 466.926,07
São Martinho (SMTO3)
- DY em 12 meses: 4,41%
- DY médio: 3,73%
- Quanto investir para ter renda de R$ 1.000: R$ 321.715,82
Fonte: Levantamento Fábio Sobreira, Harami Research com Economatica
O dividend yield médio considera os últimos cinco anos. Mas, para Três Tentos, Terra Santa, Boa Safra e Jalles Machado, que têm menos tempo na Bolsa, foi usado o DY médio de dois anos. Preços das ações levam em consideração o fechamento de 18/10.
E em qual vale a pena investir? Veja abaixo as recomendações de analistas para quem quer investir em empresas do agronegócio e ganhar com dividendos no longo prazo.
BrasilAgro (AGRO3) tem pagamento alto
A BrasilAgro trabalha com a compra, desenvolvimento de terras, e venda desses lotes com lucro. Mas o processo pode levar entre cinco e oito anos, explica Nigri. Nesse meio tempo, a companhia gera receita com o cultivo e venda de commodities agrícolas.
Ela vendeu boas terras recentemente, e também ganhou com a alta no preço das commodities agrícolas, durante a pandemia e com a guerra da Rússia e Ucrânia. Contudo, o lucro já está voltando aos patamares pré-pandemia, e a receita virá principalmente da venda de terras. Para manter o pagamento alto aos investidores, ela precisa vender terras recorrentemente.
Retorno pode demorar. As terras brasileiras estão caras. Por isso, a BrasilAgro está comprando fazendas no Paraguai e na Bolívia, que devem gerar vendas a partir de 2030. Nigri vê a BrasilAgro como uma ação perene ou para a aposentadoria.
Mas pagamento alto pode continuar. "A companhia deve manter um dividendo de entre R$ 1,80 e R$ 2,20 por ano, retorno de 6% a 7%", calcula Nigri, mas que pode ser maior com a venda de terras. O CEO da Brasil Agro, André Guillaumon, já afirmou que a companhia tem a meta de entregar no mínimo um dividend yield de 5% ao ano, lembra Sobreira. Ele espera um dividend yield de 12% para os próximos 12 meses.
Kepler (KEPL3) tem demanda
A Kepler é a maior fabricante de silos no Brasil, com 40% de participação de mercado. As suas principais fontes de receita são a fabricação, montagem e manutenção de silos, para commodities agrícolas até combustíveis.
A demanda para silos deve continuar alta no próximo ano. Isso por causa da liberação do PCA - Plano para Construção de Armazéns, programa de financiamento do governo com juros baixos. Além disso, a companhia já tinha projetos em andamento que podem aumentar os resultados no médio prazo. Nigri destaca também as melhorias em governança corporativa da companhia, com redução de participação no capital da Tarpon (ruim para minoritários) e aumento de presença da Trígono Capital. "Esse movimento é tão importante quanto a procura por silos", defende.
Pode ser uma boa no longo prazo. No seu estatuto, a Kepler estabelece pagar no mínimo 25% do seu lucro líquido em dividendos. Mas, segundo Duarte, pagou 40% nos últimos quatro anos. Ele recomenda a Kepler para uma estratégia de longo prazo, com um DY de entre 4% e 6% para os próximos 12 meses.
São Martinho (SMTO3) vê dividendos crescentes
A São Martinho é uma empresa que ainda paga pouco - mas proventos estão cada vez maiores. A companhia gera receita com a produção de açúcar, etanol e energia de biomassa. Por conta desse mix de recursos, é uma boa opção para o longo prazo.
É estável no pagamento aos acionistas. Nigri destaca que a São Martinho paga proventos há mais de 10 anos consecutivos. "O dividend yield projetado para os próximos 12 meses é de entre 4% e 5%", diz.
SLC Agrícola (SLCE3) terá desafio com El Niño
A SLC Agrícola gera receita com a produção e venda de grãos e fibras, com destaque para algodão, soja e milho, além da venda de terras. Entre as vantagens de investir na companhia está a diversificação, além do potencial de crescimento pelos investimentos em inovação e agrotecnologia, destaca Sobreira.
Os principais riscos são a volatilidade no preço das commodities e problemas climáticos como El Niño. O fenômeno climático pode afetar a oferta de soja e milho.
Por isso, o analista recomenda pensar nela para o longo prazo. Sobreira projeta que ela deve pagar cerca de 6% em dividendos sobre suas ações nos próximos 12 meses.
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