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Mesmo sem dividendos extras, Petrobras paga mais que rivais globais

Os dividendos distribuídos pela Petrobras (PETR4) apresentaram uma queda de 49,5% em 2023. Apesar disso, a companhia segue liderando em pagamentos a acionistas diante de petrolíferas estrangeiras.

Quanto a Petrobras pagou aos acionistas

A companhia anunciou a distribuição de R$ 1,10 por ação ordinária e preferencial referente aos resultados do quarto trimestre de 2023. Terão direito ao provento investidores com participação na empresa em 25 de abril. O pagamento ocorrerá em duas parcelas sob a forma de dividendos, no valor de R$ 0,55 por ação. O investidor receberá os proventos em 20 de maio de 2024 e 20 de junho de 2024.

Segundo levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, a Petrobras desembolsou R$ 98,18 bilhões em 2023. O valor é inferior a 2022, quando a companhia teve distribuição recorde de R$ 194,61 bilhões. Considerando os desembolsos em dólar, a Petrobras pagou US$ 20,28 bilhões aos investidores em 2023.

Esse valor é diferente do divulgado pela própria estatal. Isso porque abrange tudo o que foi pago aos investidores no ano, incluindo valores referentes ao ano anterior. A empresa disse que vai pagar R$ 72 bilhões em 2023 - esse é o pagamento referente ao desempenho do ano, mas parte desse valor pode cair no bolso dos acionistas em 2024, por exemplo.

O dividend yield (retorno em dividendos) foi de 29,62% no ano, segundo a Elos Ayta. Nesse patamar, a companhia conseguiu superar doze petrolíferas de países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Canadá. A segunda posição foi ocupada pela Exxon Mobil (XOM), que distribuiu US$ 14,94 bilhões em 2023, com um DY de 3,34%. Ultrapassou também Chevron (CVX) e Shell (SHEL), que desembolsaram US$ 11,34 bilhões e US$ 8,39 bilhões, respectivamente.

Todas as petrolíferas ficaram distantes da Petrobras, entregando retornos de um dígito. A única com uma rentabilidade semelhante foi a British Petroleum (BP), com um dividend yield de 28,61% em 2023. Veja abaixo os dividendos desembolsados pelas companhias e o retorno em DY.

  1. Petrobras (PETR4, Brasil) - US$ 20,28 bilhões, DY de 29,62%
  2. Exxon Mobil (XOM, USA) - US$ 14,94 bilhões, DY de 3,34%
  3. Chevron (CVX, USA) - US$ 11,34 bilhões, DY de 3,37%
  4. Shell (SHEL, Inglaterra) - US$ 8,39 bilhões, DY de 4,34%
  5. Conocophillips (COP, USA) - US$ 5,58 bilhões, DY de 3,31%
  6. Eni Spa (E, Itália) - US$ 3,39 bilhões, DY de 6,84%
  7. EOG Resources (EOG, USA) - US$ 3,39 bilhões, DY de 4,48%
  8. Pioneer Natural Resources (PXD, USA) - US$ 3,30 bilhões, DY de 6,11%
  9. Canadian Natural Resources (CNQ, Canadá) - US$ 2,93 bilhões, DY de 0%
  10. Phillips 66 (PSX, USA) - US$ 1,88 bilhão, DY de 4,04%
  11. Occidental Petroleum Corp (OXY, USA) - US$ 1,36 bilhão, DY de 1,14%
  12. Marathon Petroleum Corp (MPC, USA) - US$ 1,26 bilhão, DY de 2,64%
  13. British Petroleum (BP, Inglaterra) - US$ 0 bilhões, DY de 28,61%

Fonte: Economática. O levantamento considera o fluxo de caixa das companhias em 2023, já o dividend yield pode ser referente a proventos programados para pagamento, não necessariamente referentes ao exercício de 2023. Por este motivo, algumas companhias têm distribuições e dividend yield zero ou vice-versa.

Dá para comprar uma Eletrobras

Com os R$ 98,18 bilhões desembolsados no ano passado daria para comprar uma Eletrobras. Ela era avaliada até sexta-feira (8) em R$ 98,9 bilhões.

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Em 2021, terceiro maior patamar de distribuição da companhia, a Petrobras pagou R$ 72,72 bilhões em dividendos. Esse volume é superior aos dividendos somados da estatal em uma década (2010-2020) que totalizaram R$ 59,2 bilhões.

Por que a Petrobras decidiu cortar os dividendos extraordinários

Todo o lucro restante depois do pagamento dos proventos ordinários irá para a reserva. O CEO da companhia, Jean Paul Prates, reforçou que a reserva de remuneração de capital da companhia será destinada para dividendos no futuro.

Mas analistas acreditam que essa reserva irá financiar os investimentos em transição energética. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que, embora a reserva não fale de investimentos, no final do dia são os Conselheiros que decidem o destino da empresa. "No final do dia é uma decisão de governo", acrescenta.

"O problema não é o fim dos dividendos extraordinários e sim como o governo vai utilizar os R$ 43,9 bilhões", pontua Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. Duarte destaca que o investidor também precisa pensar na perenidade da empresa, ou seja, não adianta só distribuir dividendos e não reinvestir no crescimento, destruindo o valor da companhia.

Mas a transição energética pode custar caro - e não trazer retorno para o acionista. "Eles falam de dividendos futuros, porque acreditam que esses investimentos vão gerar retorno e assim poderão devolver o recurso aos acionistas. Só que esse retorno não vai vir, porque são projetos com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) negativa e risco alto", pontua Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital. Os investimentos deveriam ter uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de pelo menos a Selic, 11,25%, para justificar a destinação dos recursos, diz Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. "Se o projeto traz uma taxa interna menor que os juros não faz sentido, o projeto estaria destruindo valor da empresa e o ideal seria pagar dividendos", analisa.

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É importante também olhar para a dívida. Vitor Sousa, analista da Genial, destaca a evolução da dívida bruta da companhia que alcançou US$ 62,6 bilhões no fim do ano. Vale lembrar que a atual fórmula só permite o pagamento de dividendos se a dívida bruta não ultrapassar US$ 65 bilhões. "A evolução da dívida bruta daqui em diante precisa ser um ponto de atenção a ser acompanhado", comenta. Mas Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que que não era necessário, dada a estrutura de capital da companhia, reter totalmente os R$ 43,9 bilhões em reserva.

Por que o fim do dividendo extraordinário incomoda tanto

O fato de a companhia não ter distribuído dividendos extraordinários em relação ao 4° trimestre de 2023 decepcionou o mercado - e fez a empresa perder R$ 55,33 bilhões em valor de mercado em um mesmo dia. A estatal preferiu pagar dividendos mínimos - de 45% do fluxo de caixa livre, equivalentes a R$ 14,2 bilhões - e destinar para a reserva de remuneração de capital R$ 43,9 bilhões.

Como a receita da empresa é instável, a falta de dividendos extraordinários diminui a atratividade da ação. Para uma companhia cíclica como a Petrobras, o lucro depende da variação do preço do petróleo. "O petróleo pode custar em dois anos US$ 40 ou US$ 120, temos pouquíssimo controle. Na medida em que você tem uma empresa que vai te pagar entre 8% e 9% de dividend yield, após a exclusão dos proventos extraordinários, há uma perda dessa atratividade", avalia Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest. Ele cortou a previsão de retorno para 2024 de 17% para entre 8% e 9%.

Para o investidor garantir um dividend yield de até 9%, valeria mais a pena investir em uma empresa de energia elétrica, com boa previsibilidade. "Não recomendamos zerar a posição ainda, mas para quem for comprar estamos recomendando posições pequenas e muita cautela", destaca Saravalle.

Quanto a Petrobras deve pagar daqui para a frente? Vale o risco?

Entre as petrolíferas brasileiras, a Petrobras é uma das mais baratas e que entregam bons dividendos, mas o investidor deve ter em conta que é uma empresa muito volátil. "É um dividendo que tem muito risco embutido", diz Sérgio Neto, da Capitalizo.

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Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, acredita que até 2026 não teremos dividendos extraordinários. "A empresa vai para um patamar de distribuição mais normalizado de entre 12% e 13%, que ainda pode ser considerando um bom dividendo", aponta. Ele acredita que existem melhores opções para dividendos em outros segmentos, com retornos semelhantes e riscos menores. Ele destaca que no setor elétrico, siderúrgicas e até mesmo mineradoras é possível encontrar retornos interessantes.

Na Genial, a recomendação é de manter as ações PETR4. O retorno deve ser de 8,8% em 2024, apenas com dividendos regulares, e o preço-alvo para 2024 é R$ 47.

Na Órama, Phil Soares, chefe de análise de ações, acredita que possa ter um pagamento de dividendos extraordinários em 2024, embora em menor proporção do que nos anos anteriores. O analista projeta um dividend yield de 15% - englobando pagamentos regulares e extraordinários. "Petrolíferas pagam muitos dividendos quando o mercado está bom para o petróleo. Se a Petrobras resolver regular a remuneração do acionista, porque está muito lucrativa, na situação em que o petróleo estiver em baixa, o investidor não vai ser compensado", observa. A recomendação da Órama é neutra (manter) com preço-alvo de R$ 32,50.

Entre os que acreditam que o risco ainda compensa o investimento está Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. Ele enxerga uma oportunidade de entrada na recente queda dos papéis e projeta um retorno de 10% a 12% com pagamentos regulares. A Petrobras chegou a perder R$ 55,33 bilhões em valor de mercado nos últimos dias.

Levantamento do TradeMap para o UOL Investimentos revela que, além das citadas, outras seis instituições recomendam manter PETR4, entre estas: Bank of America (BofA), Bradesco BBI, Órama, Santander, Itaú BBA e Terra. Segundo consenso de mercado do TradeMap, outras seis instituições ainda recomendam a compra de PETR4, entre estes: BTG, BB Investimentos, Ágora, XP, Guide e PagBank..

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