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Entenda por que o mercado está de olho na reunião de hoje do BC dos EUA

Gary Cameron/Reuters
Imagem: Gary Cameron/Reuters

Do UOL, em São Paulo

16/12/2015 06h00

Uma senhora de 69 anos e cabelos grisalhos será o centro das atenções dos investidores do mundo todo nesta quarta-feira (16).

Janet Yellen, presidente do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve, ou Fed), deve anunciar hoje a tão esperada decisão sobre os juros no país. O anúncio é esperado para as 17h (horário de Brasília).

Se os EUA decidirem aumentar os juros, será a primeira alta do preço do dinheiro desde 2006.

Os juros de referência nos Estados Unidos estão num nível historicamente baixo, entre zero e 0,25% ao ano, desde o final de 2008. Para efeito de comparação, a taxa de referência atual no Brasil (Selic) é de 14,25% ao ano.

Essa taxa é utilizada pelos bancos de um país como indicador-chave do valor dos juros que pagam ao tomar dinheiro emprestado do Banco Central --e, por sua vez, do dinheiro que emprestam a seus clientes. Disso dependem investimentos e despesas de consumo.

Por que os juros estão tão baixos nos EUA?

Com a crise de 2008-2009, os EUA registraram desaceleração da economia, aumento do desemprego, queda da confiança de empresários e do consumo das famílias, com crédito escasso.

O Federal Reserve baixou, então, os juros para tentar estimular investimentos e consumo e movimentar a economia.

Outra medida adotada foi a injeção de dinheiro, comprando títulos públicos (pedaços da dívida estatal, vendidos pelo Tesouro dos EUA) em mãos de investidores e bancos.

Quem decide se os juros ficam iguais ou sobem?

Quem define os juros é o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) --equivalente ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central no Brasil.  

Os 12 membros do Fomc se reúnem oito vezes durante o ano para avaliar as condições econômicas e financeiras e definir se a política monetária do país está adequada para esse cenário. 

Para determinar o nível dos juros, o Fomc leva em conta principalmente dados relativos ao mercado de trabalho e à inflação --a meta é de 2%. 

O que o mercado espera?

Ao longo de todo o ano, a cada reunião do Fed, houve especulação sobre a alta na taxa de juros. Em setembro, a maioria dos investidores dava como certo o aumento. Porém, essa certeza perdeu força após indícios de desaceleração da economia da China terem chacoalhado os mercados mundiais no fim de agosto.

Na ocasião, o órgão decidiu não mexer nas taxas de juros. 

Investidores preveem que, agora, vai ser diferente. A economia chinesa ainda dá sinais de desaceleração, e os preços das commodities (matérias-primas, como petróleo e soja) estão historicamente baixos.

Mas há fatores que pesam a favor do aumento, como o fato de a inflação norte-americana estar ganhando força e o desemprego estar baixo. No início de dezembro, Yellen deu sinais de que o Fed deve elevar os juros na reunião de hoje.  

Como a mudança nos juros dos EUA afeta o mundo?

A taxa de juros dos EUA é capaz de modificar as regras do jogo da economia mundial. 

Com a alta dos juros por lá, os investidores podem começar a achar vantajoso aplicar seu dinheiro nos Estados Unidos, que são considerados uma economia forte e estável. Isso causaria a migração de recursos que atualmente estão aplicados nos mercados emergentes, como o Brasil.

A agência de classificação de risco Moody's afirma que o Brasil é um dos países emergentes que mais devem sofrer com a alta de juros dos EUA.

O país já enfrenta problemas causados pelos preços baixos das matérias-primas, pela desaceleração da China e, principalmente, pela crise interna, política e econômica.

Mas o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, disse que a valorização do dólar neste ano preparou o Brasil para a alta dos juros nos EUA. 

Alguns analistas avaliam que, para o Brasil, a decisão nos EUA pesa menos do que a crise dentro de casa, com a turbulência política dificultando a aprovação das medidas para acertar as contas públicas e o risco de a presidente Dilma Rousseff ser retirada do cargo por meio de impeachment. 

(Com agências de notícias)